Em mais uma ação desastrosa do agronegócio, São Paulo viveu dias de caos com o registro de mais de dois mil e trezentos focos de incêndio na região norte do estado. Os primeiros ocorreram ainda na quinta-feira (22) e até a noite do domingo (25) os bombeiros ainda trabalhavam contra as chamas.
Ao que tudo indica, as queimadas foram produzidas de maneira criminosa e, ao sair do controle, iniciaram uma verdadeira tragédia. Dois funcionários de uma usina morreram no combate ao incêndio.
Ao menos 66 pessoas ficaram feridas. 60 precisaram de atendimento médico por inalarem muita fumaça. Outras seis ficaram feridas em um acidente de trânsito causado pela baixa visibilidade na Rodovia Armando Sales de Oliveira.
A qualidade do ar e a presença de fuligem na cidade de Ribeirão Preto levou ao cancelamento das aulas nas escolas públicas devido ao risco elevado à saúde das crianças.
A defesa civil da cidade também informou que 80 pessoas ficaram desalojadas.A área atingida pelas queimadas corresponde a 34 mil hectares, o que equivale a 48 mil campos de futebol.
Embora não haja mais focos de incêndio, 48 cidades estão em alerta máximo nesta segunda-feira (26), segundo as informações da Defesa Civil. A maior parte delas na região norte do estado.
Culpele
Três pessoas já foram presas suspeitas de participarem da ação que deu início às queimadas. A Polícia Federal já abriu inquérito e irá apurar se a ação ocorreu de forma coordenada.
Pelo elevado número de focos e o aumento exponencial ainda na sexta-feira (23), tudo indica que os incêndios em plantações de cana, eucalipto e pinus foi criminosa. A queima “controlada” ou fogo de manejo é proibida no estado de São Paulo.
É importante lembrar que as queimadas são práticas comuns ao agronegócio brasileiro em todo o país e servem para inúmeros fins, todos eles criminosos como: destruir áreas de preservação, expulsar comunidades tradicionais e abrir caminho para as monoculturas.
“O agro aposta no fogo, por conta do baixo custo (para “limpar” uma área) e também com a justificativa que não existia proteção ambiental ou social naquela área”, explica Waldemir Soares, do Setorial do Campo da CSP-Conlutas.
“O fogo criminoso é geralmente utilizado para abrir campos de plantio da monocultura, contra aqueles que são considerados por eles impeditivos para seus negócios, como as comunidades e áreas de preservação”, afirmou.
Comunidades afetadas
Duas comunidades organizadas pela CSP-Conlutas foram atingidas pelas chamas na sexta-feira (23). O caso mais grave ocorreu na ocupação Cachoeirinha, na cidade de Boa Esperança do Sul. Os agricultores ainda estão contabilizando os prejuízos e muitos animais morreram.
Diante do drama vivido pelas famílias o Sindicato dos Empregados Rurais da cidade organiza uma campanha de doações.
Roupas, alimentos, materiais de construção e sementes para o replantio podem ser entregues na sede do Sindicato (Rua Profª Anna da Cunha Vianna, 456, bairro Jardim Maria Tannuri). Mais informações: (16) 99606-6862 ou (16)99785-8987 ou e-mail: [email protected].
Crise climática
A tragédia vista em São Paulo ocorre num contexto de aumento das queimadas no Pantanal e na Amazônia no mês de agosto. Um verdadeiro “rio de fumaça” se formou nos últimos dias, afetando até 11 estados.
A falta de investimentos nas Brigadas Rurais de Incêndio, bem como o predomínio da monocultura são pontos importantes que devem ser denunciados ao poder público nas três esferas.
Não pode ser o povo pobre e trabalhador do campo, que constrói com suor a riqueza desse país, as principais vítimas do descaso dos governos e da ganância do agronegócio. Basta com esse sistema capitalista de destruição do clima e opressão aos trabalhadores.
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