Na última semana mais de 11 mil pessoas assinaram uma carta aberta pedindo a Lula que imponha embargos energético e militar e rompa relações comerciais e diplomáticas com o Estado genocida de Israel.

Artistas como Chico Buarque, Ney Matogrosso, Gregório Duvivier, Samara Felippo, BNegão, Gisele Itiê, Wagner Moura e Letícia Sabatella estão entre os que subscrevem a carta, ao lado de parlamentares, personalidades, professores universitários, movimentos sociais e sindicais e partidos políticos. Entre eles, o PSTU.

Organizada pelo movimento BDS (boicote, desinvestimento e sanções) a Israel, a iniciativa ganha repercussão, acompanhando a onda de indignação diante de tanto horror. A partir das vozes palestinas, há um crescente sentimento e percepção de que palavras não bastam; é necessário ações concretas e efetivas para parar a máquina da morte, a entidade colonial sionista.

O apelo do povo palestino é por isolamento internacional do estado genocida de Israel. Assim, lançou o movimento BDS em 2005, inspirado na campanha de boicote internacional ao apartheid na África do Sul que ajudou a pôr fim ao regime de segregação nos anos 1990.

Embargo energético

Refletindo esse movimento, no dia 28 de maio, as federações Nacional e Única dos Petroleiros (FUP e FNP) enviaram uma carta a Lula e ministros do governo pedindo embargo energético e também militar.

A exportação de petróleo a Israel teve início no governo Bolsonaro, mas não só não cessou, como aumentou. De acordo com a Oil Change Internacional, o Brasil se converteu em um dos dez maiores fornecedores de petróleo, ao lado de países como EUA, Azerbaijão, Cazaquistão, Rússia, Nigéria, República do Congo, Gabão e Itália. “Até o mês de julho, o Brasil era responsável pelo fornecimento de 9% do petróleo bruto importado por ‘israel’, tendo enviado 65 remessas de óleo cru e combustível nos primeiros nove meses de genocídio. Conforme os dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, o Brasil tem aumentado exponencialmente a exportação de petróleo para Tel Aviv desde o início do genocídio atual em Gaza, no dia 7 de outubro de 2023. A venda de óleos combustíveis de petróleo ou de minerais betuminosos (exceto óleos brutos) do Brasil para ‘israel’, em 2024, teve um aumento de 12.380% em valores em comparação com 2023. E, até abril de 2025, teve um aumento de 256% em relação a 2024, chegando a cerca de R$ 900 mil. O valor exportado em 2025 é 44.300% maior que aquele de 2023. Também é 790% maior do que em todo o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro, um dos maiores aliados de ‘israel’”, destaca Eduardo Vasco em artigo publicado no portal Diálogos do Sul Global.

As entidades de petroleiros enfatizam na carta: “Diversos especialistas jurídicos alertaram que a transferência de produtos de uso dual, como o petróleo, que pode ser usado em veículos militares coloniais […] torna os estados cúmplices de genocídio ao fornecer apoio material ao estado perpetrador.” E trazem dado alarmante: 2,7 milhões de barris de petróleo bruto foram exportados do Brasil para Israel somente em 2024, representando uma parte significativa do abastecimento de combustível militar de Israel.

Não tem desculpa

Parte do petróleo é enviada pelas empresas Shell e Total, mas o fato de serem companhias privadas não diminui a responsabilidade do Estado brasileiro. Em consulta a analistas jurídicos e tomando como exemplo casos como o da proibição de exportação de carvão em agosto de 2024 pelo presidente da Colômbia, Gustavo Petro, militantes da campanha “Fecha a torneira” afirmam que Lula pode, sim, impor um embargo energético pelo Brasil, por decreto. A base para tanto é a recomendação de sanções de organismos internacionais, como signatário da Convenção de Combate e Prevenção ao Genocídio, da Corte Internacional de Justiça e de outros tratados e convenções.

Afinal, o petróleo é brasileiro e em vez de abastecer tanques para o genocídio, deveria servir ao povo brasileiro, o que, contudo, requer reestatização da Petrobras sob controle dos trabalhadores.

Embargo comercial e militar

Conforme o mesmo artigo de Vasco, em 2024, o Brasil foi o 12º maior parceiro comercial de Israel e é o primeiro da América Latina.

Um embargo comercial abrangente demanda, entre outras ações, que Lula revogue a adesão do Brasil ao Tratado de Livre Comércio Israel-Mercosul. Assinado em Montevidéu, Uruguai, em 18 de dezembro de 2007, foi promulgado pelo Brasil pelo Decreto 7.159, de 27 de abril de 2010, durante o segundo governo Lula. Foi nesse período que o país iniciou o salto nas relações comerciais com o estado sionista. Em novembro de 2014, os contratos militares bilaterais alcançaram quase R$ 1 bilhão.

FAB compra drones de Israel

Em meio ao holocausto palestino, lamentavelmente as importações ainda continuam. Em março de 2024, a Força Aérea Brasileira (FAB) fechou acordo com a Israel Aerospace Industries para manutenção e suprimento de peças a dois drones israelenses que adquirira em 2009, no valor de R$ 86,1 milhões. Em setembro a FAB comprou mais um drone por R$ 50 milhões da israelense Elbit – cuja fábrica em Porto Alegre segue funcionando. Também no primeiro semestre do ano passado, o Exército anunciou a compra de 36 blindados israelenses obuseiros no valor de R$ 1 bilhão – a qual foi suspensa após ampla mobilização.

Os governos estaduais, com apertos de mãos manchados de sangue, continuam a colocar nas mãos de suas polícias armas israelenses, que servem ao genocídio pobre e negro e ao extermínio indígena. Drones e tecnologias da morte testadas sobre os corpos palestinos.

As imagens das atrocidades se repetem a cada dia, na conversão dos palestinos em cobaias humanas. Um genocídio transmitido ao vivo e em cores, sob diversos meios: bombardeios, balas, fome, sede, destruição de hospitais para impedir o tratamento e de todas as condições sanitárias para ampliar a propagação de doenças infecciosas e epidemias, além de contaminação de áreas agricultáveis e impedimento da pesca.

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Fome, bomba e bala

Laboratório da morte para o mundo

Mais de cem palestinos foram assassinados por Israel nos últimos dias enquanto formavam fila para matar a fome em um centro de distribuição de alimentos em Rafah, sul de Gaza. Esses postos, estabelecidos recentemente sob o nome Fundação Humanitária a Gaza e apoio dos criminosos Israel e EUA, se mostram uma armadilha para matar mais. Evidência ainda maior é o anúncio do reverendo estadunidense Jhonnie Moore como novo comandante dessa “fundação”, pastor de extrema direita ligado ao presidente dos EUA, Donald Trump, e ao primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu.

Enquanto isso, a fome se espalha – afeta 100% dos 2,3 milhões de palestinos enclausurados em Gaza. Dezenas já pereceram. Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), 14 mil bebês podem morrer de fome nos próximos dias se nada for feito. Enquanto isso, as bombas não param de cair sobre suas cabeças.

Estima-se que mais de 300 mil já tenham perdido a vida no holocausto palestino perpetrado por Israel há 19 meses, com armas sobretudo estadunidenses e europeias, algo como 14% da população de Gaza.

Na Cisjordânia – que assim como Gaza, foi ocupada militarmente por Israel em 1967 – a limpeza étnica avança e a expansão colonial violenta se aprofunda. Já são mais de mil palestinos assassinados, e pogroms por parte de colonos sionistas se tornam ainda mais frequentes.

Partícipes do genocídio

Quem fornece as armas para Israel

Trump e o carniceiro genocida primeiro ministro de Israel, Netanyahu

Os EUA responderam, segundo o Instituto Internacional de Pesquisa para a Paz de Estocolmo, por 69% das armas fornecidas para o genocídio entre 2019 e 2023, seguidos de Alemanha (30%) e outros países europeus como Reino Unido, França, Espanha e Itália (1%).

Conforme o Departamento de Estado dos Estados Unidos, os EUA destinaram mais de US$ 130 bilhões a Israel em ajuda econômica e militar desde 1948 – pedra fundamental da contínua Nakba (catástrofe) com a formação do estado colonial e racista de Israel mediante limpeza étnica planejada. Já o Conselho de Relações Exteriores atualiza esse valor para US$ 310 bilhões. Os EUA dobraram a aposta nos últimos 19 meses, para sustentação de seu enclave militar no Oriente Médio e Norte da África.

Já a Alemanha, conforme reportagem publicada na Agência Anadolu em 3 de junho, informou ter emitido entre 7 de outubro de 2023 e 13 de maio de 2025 licenças de exportação para entregas de armas a Israel totalizando quase meio bilhão de euros.

Precisa pagar

Brasil tem dívida histórica com o povo palestino

O Brasil não está nesse grupo, mas isso não diminui sua responsabilidade. Basta lembrar que o país presidiu, na pessoa do diplomata Oswaldo Aranha, a primeira sessão especial da Assembleia Geral das Nações Unidas em 29 de novembro de 1947 que recomendou a Partilha da Palestina em um estado judeu (56% do território) e um estado árabe (43%), com Jerusalém sob administração internacional. Está entre os 33 países que votaram a favor dessa partição, que na verdade representou um sinal verde para que Israel levasse a cabo a fase mais agressiva da limpeza étnica planejada, a qual culminou no seu estabelecimento em 1948, em 78% da Palestina histórica, sobre os corpos palestinos e os escombros de suas aldeias.

Durante a ditadura empresarial-militar no Brasil, documentos apontam que Israel colaborou com técnicas e treinamento para a tortura, além de armas, sistemas de inteligência e comunicação, como fez em toda a América Latina.

Entre altos e baixos – e um interregno com Bolsonaro no pragmatismo tradicional da diplomacia brasileira que vota a favor dos palestinos nos organismos internacionais e denuncia a ocupação sionista, enquanto mantém relações e acordos econômicos –, o Brasil ainda está longe de pagar a dívida histórica que tem com o povo palestino.

Lula denunciou e reconheceu o genocídio ainda em fevereiro de 2024, o que lhe valeu por parte de Israel ser nominado como persona non grata. Tem elevado o tom e em 3 de junho disse em coletiva de imprensa, diante da ofensiva sionista contra ele, para Israel parar com o “vitimismo”, reafirmando o genocídio em Gaza.

Sem normalização com o Estado genocida

Isso ocorre no contexto da Conferência Internacional sobre a “solução de dois Estados”, marcada para 17-20 de junho na ONU em Nova York. Entre os 143 países-membros da ONU que reconhecem o Estado palestino, o Brasil presidirá o grupo de trabalho, iniciativa de França e Arábia Saudita.

A proposta dos dois Estados é considerada morta pelo historiador Ilan Pappé: seria apenas um bantustão, dada a expansão colonial agressiva ao longo de mais de 77 anos. Além disso, é injusta, pois legitima um projeto racista e não contempla a totalidade do povo palestino (metade dos 14 milhões no refúgio/diáspora, além dos 1,9 milhão sob leis racistas em “Israel”). A solução justa é um Estado único palestino laico, livre, democrático, com retorno dos refugiados.

A conferência, sob a perspectiva de quem não representa a totalidade do povo palestino – a gerente da ocupação Autoridade Palestina, cuja popularidade na Cisjordânia é de míseros 2% –, é vista por muitos palestinos não apenas com ceticismo, mas como tentativa de normalização com um estado genocida, na contramão do apelo do povo palestino: isolamento internacional. O Brasil, como líder regional, poderia influenciar a América Latina.

A crise econômica em “Israel” se aprofunda, e a solidariedade global, inspirada na resistência palestina, pode ampliar a pressão pela ruptura de relações e, assim, acelerar o início do fim do projeto colonial sionista, que, segundo analisa Ilan Pappé, já está em curso.

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Last Update: 05/06/2025