No programa desta semana do Entrelinhas Vermelhas, do Portal Vermelho, o futebol feminino foi o destaque principal. A recente conquista da medalha de prata pela Seleção Brasileira Feminina de Futebol nos Jogos Olímpicos de Paris marcou um feito histórico, superando expectativas e ressaltando o crescimento do esporte no país. Essa vitória ganha ainda mais relevância quando comparada à Seleção Olímpica Masculina, que não conseguiu sequer se classificar para os jogos.
Para discutir essa nova realidade do futebol no Brasil, o programa contou com a presença de Aira Bonfim, mestre em História pela FGV e pesquisadora sobre a história do futebol feminino no Brasil. Aira tem uma vasta experiência na área, tendo atuado como técnica pesquisadora no Centro de Referência do Futebol Brasileiro no Museu do Futebol até 2018.
Na entrevista conduzida por Guiomar Prates, editora do Portal Vermelho, e André Cintra, jornalista e editor adjunto, Aira abordou a trajetória das mulheres no futebol brasileiro, enfrentando resistências e dificuldades desde o início do século XX. Ela destacou como, mesmo com todas as adversidades, as mulheres encontraram formas de jogar futebol, desafiando as regras impostas e criando suas próprias oportunidades.
Assista a íntegra da entrevista:
Um ponto importante da discussão foi a disparidade temporal entre o reconhecimento do futebol masculino e feminino. Enquanto a Copa do Mundo masculina teve sua primeira edição em 1930, as mulheres só conquistaram uma competição mundial oficial em 1991, evidenciando uma diferença de 61 anos. Aira enfatizou que, mesmo com esse atraso, o futebol feminino no Brasil tem mostrado um progresso significativo, alcançando, em 2024, um nível de profissionalização e reconhecimento nunca antes visto.
A consolidação do futebol feminino no Brasil
O futebol feminino no Brasil está em um momento de ascensão, impulsionado por exigências da Comebol e da CBF para que clubes da Série A mantenham equipes femininas. Contudo, Aira aponta que, embora o crescimento seja evidente, ainda existem desafios significativos.
Clubes como Corinthians, Palmeiras e São Paulo têm liderado o investimento no futebol feminino, enquanto outros clubes fazem apenas o mínimo exigido. “É vergonhoso, porque existe uma estrutura de mercado internacional interessada em fazer essa modalidade crescer”, criticou Aira, apontando a falta de compromisso de alguns clubes com o desenvolvimento do esporte.
A seleção brasileira feminina, que conquistou a prata nos Jogos Olímpicos, também reflete essa disparidade. Com um grande número de jogadoras e o técnico oriundos do Corinthians, a seleção mostra como projetos de médio a longo prazo podem render frutos. “Não tínhamos uma base que pudesse oferecer tantas jogadoras para o alto rendimento há quatro ou oito anos atrás”, relembrou Aira.
A influência de Marta, ícone do futebol feminino, também foi discutida. Aira a descreveu como uma figura que atravessa gerações e, mesmo com suas conquistas individuais, continua lutando por maior visibilidade e reconhecimento para o futebol feminino. “Ela fez por merecer esse status de rainha do futebol”, elogiou.
Olhando para o futuro, especialmente com a expectativa da Copa do Mundo de 2027 no Brasil, Aira se mostra otimista. “O Brasil é extremamente competente no sentido de se mobilizar para fazer isso bem feito”, concluiu, destacando que, apesar dos desafios, o futebol feminino no Brasil tem um potencial imenso para continuar crescendo e se consolidando.