Chefes de Estado durante encontro da Otan em Haia, na Holanda, nesta terça (24). Foto: Christian Hartmann/Reuters

Publicado no Cafezinho

O encontro da OTAN realizado em Haia nos dias 24 e 25 de junho de 2025 expôs a duplicidade moral, a decadência ética, o desprezo pelo direito internacional e a repugnante ausência de empatia humana das mais importantes nações ricas do Norte Global.

Entretanto, a característica mais evidente, mais chocante, é a covardia. A subserviência absoluta, indigna e covarde, dos países do que também vem se convencionando chamar de “Ocidente coletivo” chega a doer na vista.

Ali estavam reunidos os representantes de 32 países, prestando submissão ao presidente americano Donald Trump, numa demonstração que revelou não apenas subordinação política, mas principalmente a sua falência moral.

Países que se proclamam defensores dos direitos humanos comportaram-se de forma servil, dispostos a sacrificar recursos de seus povos para alimentar a máquina de guerra americana, enquanto celebravam abertamente crimes contra a humanidade.

O tributo exigido

O encontro foi cuidadosamente orquestrado para agradar Trump, que há anos exigia que seus aliados europeus aumentassem drasticamente seus gastos militares. Os 32 membros acataram a exigência de elevar os gastos de defesa para 5% do PIB até 2035 – um salto astronômico em relação aos 2% anteriores.

Esta cifra representa centenas de bilhões de dólares adicionais por ano drenados dos orçamentos europeus e canadense. A estrutura estabelece 3,5% do PIB para defesa tradicional e 1,5% para medidas mais amplas, incluindo cibersegurança e adaptação de infraestruturas para veículos militares – uma militarização da sociedade civil disfarçada de modernização.

Mark Rutte, Secretário-Geral da OTAN, proclamou que a aliança emergiria “mais forte, mais justa e mais letal”. Numa época em que o mundo clama por paz, os líderes ocidentais celebram abertamente sua capacidade de destruir.

A desumanização sistemática

O mais impressionante foi a total falta de empatia demonstrada pelos líderes ocidentais – uma insensibilidade explicada pelo racismo estrutural que permeia suas visões de mundo. Enquanto celebravam acordos militaristas, ignoravam completamente o sofrimento das vítimas da Palestina, do Irã e de todos os países atacados pelos Estados Unidos e Israel.

Relatos independentes indicam que os ataques israelenses ao Irã resultaram na morte de quase mil pessoas, causando sofrimento incomensurável às populações civis. Famílias inteiras foram destroçadas, cientistas e civis assassinados junto com familiares e vizinhos, demonstrando que a vida humana tem valores diferentes dependendo da nacionalidade das vítimas.

A crueldade atingiu níveis grotescos quando Trump zombou da evacuação de Teerã, transformando o terror de milhões em motivo de escárnio. Esta desumanização revela a face do imperialismo ocidental: iranianos, palestinos e árabes não são considerados seres humanos dignos de compaixão.

A hipocrisia da segurança seletiva

A grande hipocrisia é afirmar que “Israel tem direito de se defender” enquanto se nega esse mesmo direito aos povos iraniano e palestino. O conceito de segurança é aplicado de forma seletiva e racista pelos líderes ocidentais.

Quando Israel assassina cientistas iranianos e bombeia residências civis, isso é “legítima defesa”. Quando iranianos ou palestinos resistem, são “terroristas”. Esta inversão orwelliana demonstra como o conceito de segurança foi sequestrado para servir exclusivamente aos interesses americanos e sionistas.

Para os líderes reunidos em Haia, populações iranianas e palestinas simplesmente não têm direito à vida ou dignidade. Esta seletividade moral revela a falência completa do discurso ocidental sobre direitos humanos.

O exemplo supremo da submissão

A mensagem de Mark Rutte a Trump ilustra perfeitamente a natureza servil das relações transatlânticas. “Parabéns e obrigado por sua ação decisiva no Irã, que foi realmente extraordinária”, escreveu Rutte, celebrando abertamente violações do direito internacional que resultaram em centenas de mortes civis.

A mensagem prosseguia: “A Europa vai pagar de forma SIGNIFICATIVA, como deve, e isso será uma vitória sua.” Rutte celebra explicitamente que recursos europeus serão drenados para alimentar a máquina militar americana, apresentando isso como “vitória” de Trump sobre seus próprios aliados.

Esta correspondência representa o ápice da degradação das elites europeias, dispostas a celebrar massacres para manter sua posição subordinada no sistema imperial americano.

Sede da Otan, em Bruxelas, na Bélgica. Foto: Valeria Mongelli/AFP

O contraste moral dos BRICS

Enquanto a OTAN celebrava violações do direito internacional, os BRICS ofereceram uma posição muito mais alinhada com o que a maioria da humanidade espera de seus líderes. A clareza moral dos Brics é infinitamente superior ao desses vassalos do império, ao denunciar, com todas as letras, que “os ataques militares contra a República Islâmica do Irã desde o dia 13 de junho de 2025, os quais constituem violação do direito internacional e da Carta das Nações Unidas“.

“Vidas civis devem ser protegidas e a infraestrutura civil deve ser salvaguardada, em total conformidade com o Direito Internacional Humanitário”, continua o texto dos Brics divulgado ontem (24 de junho de 2025) pelo Itamaraty, expressando “sinceras condolências às famílias das vítimas”.

A diferença é gritante: enquanto Rutte celebrava ações que resultaram em centenas de mortes, os BRICS defendiam diplomacia e diálogo pacífico. A manifestação concluiu conclamando a comunidade internacional a “defender o direito internacional e contribuir construtivamente para a solução pacífica de controvérsias”.

Esta posição coloca o direito internacional – conceito fundamental da ordem global – no centro das relações internacionais, contrastando dramaticamente com a celebração ocidental de crimes de guerra.

A falência moral revelada

O encontro de Haia revelou a ausência total de princípios morais na liderança ocidental quando se trata de defender interesses geopolíticos. A submissão dos líderes europeus não é apenas política, mas fundamentalmente moral – uma disposição de celebrar crimes contra a humanidade desde que cometidos pelos “aliados certos”.

A falta de empatia demonstrada não é acidental, mas estrutural no imperialismo contemporâneo. Esta insensibilidade sistemática, combinada com racismo que hierarquiza a humanidade, representa a falência dos valores que o Ocidente afirma defender.

Mais grave é a falta total de comprometimento com o direito internacional. Quando líderes que se proclamam defensores da “ordem baseada em regras” celebram violações flagrantes dessa ordem, destroem a própria base de legitimidade de suas instituições.

O contraste com os BRICS define os contornos morais do século XXI: de um lado, líderes celebrando crimes contra a humanidade; do outro, nações defendendo princípios universais de justiça. O encontro de Haia ficará na história como momento de clareza sobre essa divisão moral fundamental que definirá o futuro da ordem internacional.

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Last Update: 25/06/2025