A Quaest publicou hoje, estudo em que mostra o saldo negativo do episódio do PIX para o governo. Felipe Nunes dividiu sua análise em 3 fatores: erro de timing, erro de diagnóstico e erro tático. A pesquisa foi um monitoramento de redes, de grupos de WhatsApp e de pesquisa de opinião.
Leia a análise a seguir:
Os três erros do governo na novela do PIX, por Felipe Nunes
Combinando dados de monitoramento de redes sociais e de pesquisa a Quaest mapeou todo o debate sobre o PIX para responder: Qual o saldo político para o governo? O saldo é negativo por 3 razões: timing errado, diagnóstico errado e tática errada.
O governo demorou a compreender o que estava acontecendo e entrou atrasado no assunto. E timing é tudo para quem quer pautar debate digital. Foi em setembro que a medida foi anunciada pela Fazenda. O governo teve tempo. Quando o assunto esquentou nas redes com o vídeo do Senador Cleitinho, no dia 06/01, já era tarde. O vídeo teve 3,4 milhões de visualizações e foi o gatilho para a narrativa da oposição. A partir dali o assunto ferveu e chegou no dia 10/01 a produzir mais de 5 milhões de menções sobre o assunto. Foi quando o governo foi lidar com o assunto, de forma protocolar.
O segundo erro foi achar que o problema era apenas a grande circulação dos vídeos falsos. É verdade que eles circularam. Pesquisa da Quaest exclusiva sobre o assunto mostra que 88% ficaram sabendo do debate sobre as mudança do PIX e 87% ouviu falar que o governo estava planejando cobrar impostos sobre o PIX. Mas essas Fake News tem que ser corretamente compreendidas. Elas são gatilhos, não são instrumentos de persuasão. Tenho publicado artigos científicos mostrando que as pessoas não mudam de opinião ao serem expostas por Fake News. Elas apenas servem para reafirmar nossos vieses, nossas crenças.
E de onde vem o viés da sociedade contra o governo? As idas e vindas na comunicação do governo tem produzido desconfiança sobre que medidas serão adotadas ao final. Vale lembrar dois episódios: a taxação das blusinhas e o anúncio do pacote no corte de gastos. Ambos sinalizam, de formas diferentes, que o governo não sabe o que está fazendo. É como se revelasse insegurança. E o resultado acaba sendo mais desconfiança. Ou seja, a crise do governo hoje é de credibilidade.
Quem melhor se aproveitou disso foi o deputado mineiro, Nikolas Ferreira, que conseguiu levar o assunto a um patamar histórico em termos de redes sociais. O nosso monitoramento de redes mostra que mais de 22 milhões de perfis comentaram sobre o assunto em suas redes no dia 15/01. No total, mais de 5.5 milhões de perfis únicos comentaram sobre o assunto, fazendo com que o impacto chegasse próximo de 152 milhões de perfis.
Para efeito de comparação, o vídeo do Nikolas conseguiu ser mais visto que o vídeo do Messi no Instagram comemorando a vitória na Copa de 22, da Fernanda Torres e sua vitória no Globo de Ouro, e do próprio Trump celebrando a vitória presidencial de 2024.
Aí veio o terceiro erro: revogar a medida. Dada a pressão social e a incapacidade de pautar politicamente o governo, o governo optou por jogar água na fervura. Era o que a maioria das pessoas esperava depois de tudo o que aconteceu. Mas essa medida não vem sem custo. A revogação revelou a fragilidade do governo. Passou a impressão que o governo estava errado e que a oposição estava certa. O que gerou mais reação negativa no debate digital: até o dia 15/01 a derrota do governo nas redes era de 54 x 46. Depois do vídeo do Nikolas e da revogação da medida, virou um 86 x 14. Ou seja, a revogação.
O problema real é que a população entrou e saiu desconfiada do governo. Embora 68% tenham ficado sabendo que o governo desmentiu que haveria taxação, mesmo que 55% tenham ficado sabendo que a norma foi revogada, ainda assim 67% acreditam que o governo vai cobrar imposto sobre o PIX.
O grande desafio do governo para os próximos dois anos é recuperar sua credibilidade. Criar expectativas que serão cumpridas. E falar para fora de sua base.
Os monitoramentos aqui apresentados foram feitos levando em consideração dados coletados entre 01 e 16/01 às 15h. A pesquisa ouviu 1.200 pessoas entre os dias 15 e 17/01.
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