A candidatura de Kamala Harris, do Partido Democrata, deve ser combatida pelo movimento operário mundial com todas as suas forças.
Qualquer candidatura que represente os interesses de classe antagônicos aos do proletariado já será, por definição, uma candidatura inimiga. Será uma candidatura cujo objetivo é fazer prevalecer os interesses dos grandes bancos, dos grandes monopólios. Será uma candidatura comprometida com a repressão policial – chamada cinicamente de “manutenção da ordem” pelos capitalistas. Será uma candidatura comprometida com a farra especulativa de Wall Street – chamada carinhosamente de “mercado” pelos que dela desfrutam. Será uma candidatura comprometida com a pilhagem e a destruição de países inteiros – chamada de “defesa da democracia” por quem a pratica. Kamala Harris, assim como Donald Trump, está no campo de batalha oposto ao dos trabalhadores.
A candidatura democrata, no entanto, guarda ainda uma peculiaridade. Não apenas Harris é a continuação da mesma política responsável pelo assassinato de mulheres e crianças na Palestina, como hoje aparece como uma falsa amiga dos trabalhadores e oprimidos de todo o mundo. Isto é, uma pessoa que, por ser descendente de imigrantes e por se dizer “antifascista”, jura ao mundo que sua causa é a mesma dos negros que ela trancafiou na cadeia na época em que era promotora.
A capacidade da burguesia de dissimular as suas intenções já é amplamente conhecida. Não há um único jornal burguês que não seja impresso sem que antes os seus editores os carimbem com as mentiras do dia. O problema, no entanto, está quando a esquerda, cujo papel central deveria ser o de organizar o povo para a luta contra os capitalistas, reproduz essas mentiras. O problema está quando setores da esquerda brasileira comemoram a candidatura de Kamala Harris e até mesmo prometem fazer campanha (!) para que a mulher seja eleita no hemisfério oposto.
A confusão que a candidatura de Harris gera é justamente a sua peculiaridade. É o que faz com que ela seja muito mais nociva que a candidatura do republicano Donald Trump.
No ano de 1899, o revolucionário Karl Liebknecht, fundador do Partido Operário Social-Democrata Alemão, já alertava para o perigo dos falsos amigos. “O inimigo é mais perigoso quando ele vem como amigo à fortaleza, quando se esgueira sob a cobertura da amizade, e é reconhecido como amigo e camarada”, ensinou Liebknecht. Essa é, precisamente, Kamala Harris. A mulher que esteve na mesma sala que Joe Biden em cada momento no qual os Estados Unidos autorizaram bombardear uma cidade hoje aparece com seu sorriso, como quem diz: precisamos nos unir contra Trump.
Ocorre que Trump não é o maior dos inimigos. Sobre ele, Liebknecht diria: “o inimigo que vem para nós com a viseira aberta, o enfrentamos com um sorriso; pôr o pé no pescoço dele é mera brincadeira para nós. Os atos estupidamente brutais de violência da polícia política, as violências das leis anti-socialistas, as leis anti-revolucionárias, projetos de lei penitenciários – essas apenas despertam sentimentos de desprezo piedoso”.
O inimigo, no entanto, que estende a mão para os oprimidos oferecendo uma aliança política e se infiltra nas fileiras da esquerda como amigo e irmão, é muito, muito pior. “É ele, e ele apenas ele que temos que temer”,