Diante da vitória esmagadora da extrema direita na França nas eleições ao Parlamento Europeu, foi formada a Nova Frente Popular, para concorrer às eleições para o Parlamento francês convocadas por Macron. Essa frente inclui todos os partidos considerados “progressistas” e exclui Macron. Partido Socialista, França Insubmissa (FI), Partido Comunista e Ecologistas são os principais da frente. O jornal do Partido Comunista L’Humanité publicou um artigo explicando a sua política: Eleições Legislativas 2024: Por que a Nova Frente Popular pode ganhar e enviar um primeiro-ministro de esquerda para Matignon?. Os comunistas, então, cometem o mesmo erro que na década de 1930, a Frente Popular com o imperialismo.
O artigo começa: “diante do cálculo cínico de Emmanuel Macron e do risco de uma maioria de extrema-direita, as forças progressistas souberam se reunir e têm a oportunidade histórica de impor uma coabitação de esquerda ao chefe de Estado. Dois anos após a Nupes, a situação mudou bastante. Eis por que a vitória é possível”. As chamadas forças progressistas se uniram de fato, mas isso não é positivo. O problema é que dentre dessas forças estão os grandes problemas da Europa, os partidos imperialistas. Nesse caso, o PS e os Ecologistas. O PS, em sua versão alemã, o SPD, foi derrotado nas eleições da mesma forma acachapante que Macron. É um partido que apoia a OTAN e o neoliberalismo. Um partido que vai obstruir essa frente como uma organização de luta contra o imperialismo, algo necessário nesse momento de crescimento da extrema direita.
Ele continua: “em torno de um programa comum de ruptura com a violência social dos macronistas, a coalizão apresentará candidaturas únicas em cada circunscrição nas eleições legislativas antecipadas, nos dias 30 de junho e 7 de julho próximos, com a seguinte distribuição: 229 circunscrições para a FI, 175 para o PS, 92 para os Ecologistas e 50 para o PCF. Agora, cabe aos cidadãos, militantes, sindicatos e associações aproveitar esse ímpeto para impor uma coabitação de esquerda a Emmanuel Macron. Ele tenta assustar os eleitores com o perigo “dos extremos” – ao mesmo tempo em que demonstra estar pronto para confiar a Jordan Bardella as chaves de Matignon. Prova de que a Macronia está em estado de nervosismo. Em dez dias, a esquerda pode escrever um cenário vitorioso. Eis por que”.
É interessante que o L’Humanité coloca Macron como grande inimigo quando a realidade é que a extrema direita venceu em quase todos os distritos da França. Aqui é importante que o método distrital das eleições permite a manipulação maior da burguesia. Sendo o FI o maior problema, eles podem focar nesses 229 distritos para derrotar a NFP e deixar os Ecologistas e o PS ganharem em seus distritos, caso a extrema direita não vença. Vendo de forma prática, o problema fica mais concreto. O PS e os ecologistas são, na verdade, do mesmo bloco que Macron. Eles são uma infiltração na frente, ela deixa de ser uma frente de esquerda e se torna uma Frente Ampla.
O artigo até destaca que: “até mesmo o ex-presidente da República François Hollande, adversário ferrenho da Nupes, desta vez endossou o acordo em nome do ‘princípio de responsabilidade’ diante do risco de o RN chegar ao poder: ‘O essencial é que a união pôde ser feita. Vamos além das divergências’”. Ou seja, um homem do imperialismo francês está apoiando a NFP, o golpe é certo. O objetivo da burguesia é que o PS encabece a chapa, assim a NFP se tornará um bloco neoliberal. Por isso há uma grande campanha contra o candidato do FI, Melenchon.
O L’Humanité ainda destaca que: “desta vez, a ala direita do PS apoia a iniciativa, o que deve reduzir consideravelmente o risco de candidaturas dissidentes. Na Occitânia, a presidente da região, Carole Delga, que havia apresentado candidatos contra a Nupes há dois anos e continua crítica da FI, também apoia a Frente Popular Nova. ‘Construir uma união da esquerda o mais ampla possível não é renegar-se, é estar à altura da situação presente’, argumenta o prefeito socialista de Montpellier, Mickaël Delafosse, próximo a Carole Delga”. A ala direita do PS é equivalente a Joe Biden, é o mesmo que Macron. O partido de Macron surgiu em grande medida com esses elementos do PS. Isso deixa ainda mais claro o objetivo da burguesia com a NFP. A esquerda deveria romper com essa aliança, mas os comunistas cometem o mesmo erro que o da primeira frente popular, que tinha a participação do Partido Radical, que ocupava o espaço que hoje é ocupado pelo PS.
O jornal ainda mostra que a NFP terá um efeito pior, paralisar o movimento operário: “mas, para ser digno do nome ‘Frente Popular’, a união deveria ir além das negociações entre aparelhos políticos. Isso está em curso, pois um amplo conjunto de associações e sindicatos está se juntando gradualmente: a Liga dos Direitos Humanos, a Cimade, Attac, Emmaüs, a Fundação Abbé-Pierre… sem necessariamente pedir explicitamente o voto para os candidatos da NFP, vários representantes da sociedade civil assinaram, em 12 de junho, um apelo comum para ‘derrotar a extrema-direita’ e promover ‘uma mudança profunda, de ruptura ecológica e social e de efetividade dos direitos’. A CGT estava presente na coletiva de imprensa de lançamento da Frente Popular, assim como a ONG Greenpeace: ‘Para nós, o RN é a promessa de uma catástrofe para o clima e a biodiversidade’, lembra Jean-François Julliard, seu diretor-geral. Desde então, o sindicato apelou oficialmente ao voto nos candidatos da NFP”.
Ou seja, a organização mais ativa do movimento operário francês, a GGT, estaria alinhada com ONGs imperialistas como O Greenpeace e também o partido neoliberal PS. Esse é um problema tradicional das Frentes Populares, deixar o movimento operário a reboque do “aliado” imperialista que está dentro da frente. Foi assim na primeira frente popular da França, foi assim na Espanha, foi assim no Chile e até na frente ampla atual de Lula essa questão é central. É preciso romper com os setores “progressistas” que são representantes do imperialismo.
O artigo conclui com o gigantesco otimismo eleitoral daqueles que estão prestes a serem derrotados: “as eleições legislativas antecipadas de 2024 não são um remake da eleição de 2022. O bloco macronista não aborda desta vez a eleição com o vento a favor, após a vitória de Emmanuel Macron na eleição presidencial, mas muito enfraquecido pela derrota eleitoral nas europeias. O RN, por sua vez, busca capitalizar seu grande resultado. O resultado é que, se a correlação de forças surgida em 9 de junho se confirmar em cada circunscrição, 536 duelos em 577 ‘circos’ poderiam opor a esquerda à extrema-direita. O PCF fica alegre porque Macron derreteu, mas não comenta o principal. Os ventos não estão só contra Macron, eles estão contra o PS que está dentro da NFP. Estão a favor da extrema direita sem estar fortalecendo a esquerda.
O PCF deveria estar preocupado em como reconquistar a classe operária e não em como se aliar com a ala direita do PS e com as ONGs imperialistas.