
Os líderes do Brics, grupo que reúne 11 países emergentes, se reuniram virtualmente nesta segunda-feira (8/9) em encontro convocado pelo governo brasileiro. A reunião, organizada ao longo das últimas semanas, foi marcada por críticas diretas e indiretas ao presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) acusou a política comercial norte-americana de representar uma “chantagem tarifária”, enquanto o presidente da China, Xi Jinping, sem citar nominalmente os Estados Unidos, também condenou o protecionismo e as guerras tarifárias que afetam a economia mundial.
📝 Nota da Presidência – Reunião Virtual de Líderes do BRICS, 8 de setembro de 2025
Por iniciativa do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no exercício da Presidência do BRICS, realizou-se, em 8 de setembro, Reunião Virtual de Líderes do agrupamento, com duração de cerca de…
— Lula (@LulaOficial) September 8, 2025
O encontro aconteceu dois meses após a cúpula presencial realizada no Rio de Janeiro e em meio ao acirramento da guerra tarifária iniciada por Trump no início de seu governo. No caso brasileiro, os Estados Unidos anunciaram tarifas de 50% sobre centenas de produtos exportados, justificando a medida pelo julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) no Supremo Tribunal Federal (STF).
Trump classificou o processo como uma “caça às bruxas” e pediu que fosse encerrado “imediatamente”. O governo brasileiro reagiu afirmando que o Judiciário é independente e que não aceitará interferência externa em seus assuntos internos.
Na abertura da reunião, Lula criticou a violação de princípios do livre-comércio e afirmou que países do bloco estão sendo vítimas de práticas “injustificadas e ilegais”. Em discurso, destacou que “a chantagem tarifária está sendo normalizada como instrumento para conquista de mercados e para interferir em questões domésticas”.
O presidente também abordou a atuação militar norte-americana no Caribe, afirmando que a presença de forças armadas da maior potência do mundo na região gera tensão e não é compatível com sua vocação pacífica.
A convite do Governo Brasileiro, o BRICS, mais uma vez, se reuniu na data de hoje. Em cúpula virtual, discutimos sobre a necessidade de avançar rumo a uma ordem internacional mais justa, equilibrada e inclusiva, que seja capaz de responder de maneira mais eficaz às demandas do… pic.twitter.com/sXCE9vJGDb
— Lula (@LulaOficial) September 8, 2025
Diplomatas brasileiros envolvidos na organização disseram à BBC News Brasil que não havia expectativa de críticas abertas de todos os países do bloco, já que alguns, como Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos, mantêm laços próximos com Washington.
Ainda assim, a fala de Lula reflete preocupação de setores do governo com a possibilidade de que os EUA utilizem o combate ao narcotráfico como justificativa para intervenções militares em países da região. Há duas semanas, os americanos divulgaram imagens de um ataque a uma embarcação supostamente ligada ao tráfico de drogas na costa da Venezuela, aumentando as tensões.
Xi Jinping adotou tom mais moderado, mas reforçou críticas à política dos Estados Unidos ao afirmar que “hegemonismo, unilateralismo e protecionismo estão ficando cada vez mais desenfreados”. O líder chinês lembrou que as guerras tarifárias prejudicam severamente a economia global e defendeu maior cooperação entre os membros do Brics.
Ele também aproveitou o encontro para destacar o programa “Cinturão e Rota”, conhecido como “Nova Rota da Seda”, voltado para investimentos em infraestrutura em países parceiros, projeto que é alvo de críticas do Ocidente por supostamente aumentar a dependência financeira em relação à China.
Apesar das falas contundentes de Lula e Xi, não houve declaração conjunta ao final da reunião, diferentemente da cúpula presencial realizada em julho. O encontro virtual ocorreu em um momento em que o governo brasileiro aguarda novas medidas de Washington contra o país, em função do julgamento de Bolsonaro pelo STF.
Lula encerrou sua participação elogiando o diálogo realizado no Alasca, em agosto, entre Donald Trump e Vladimir Putin, que, segundo ele, representou um passo importante para a busca de uma solução negociada para a guerra na Ucrânia.