Os programas bem sucedidos de industrialização, por Luís Nassif

Apesar da anomia do presidente da República, há um país sendo reconstruído. Inclusive graças a organizações criadas nos primeiros governos Lula, quando havia ímpeto reformista. Vimos alertando há tempos que o Estado brasileiro possui grupos de inteligência, com capacidade de formulação de políticas públicas, de interação com o setor privado, de associações empresariais a movimentos sociais.

Falta apenas escala, utilizar esse potencial em um grande projeto de desenvolvimento – tarefa de presidente da República.

Na sexta-feira passada, o programa Nova Economia, da TV GGN, abordou a questão do planejamento estratégico brasileiro com Jackson de Toni, funcionário concursado da ENAP (Escola Nacional de Administração Pública) e consultor da ABDI (Agência Brasileiro de Desenvolvimento Industrial).

O tema tratado foi a importância da articulação entre instituições e sociedade civil para coordenar políticas públicas no Brasil. E o desafio de superar a falta de consenso e construir uma estrutura de diálogo.

No debate foi abordada a questão dos lobbies empresariais, que desempenham um papel importante na política industrial brasileira, influenciando decisões e destacando a necessidade de regras claras para o funcionamento desse cenário. A presença de grupos de pressão é inevitável em uma democracia.

A falta de continuidade nas políticas industriais e o alto turnover de ministros refletem a fragilidade do setor. Isso resulta em uma repetição de erros em vez de aprendizagem com experiências anteriores.

Os programas estruturantes

Há dois programas potencialmente estruturantes: o da transição energética (sob comando do Ministério da Fazenda) e a Nova Indústria Brasileira (sob o guarda-chuva do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio).

A grande ameaça atual é a destruição de institutos de coordenação e planejamento, pela destruição da governança tributária, com a apropriação do orçamento pelo Congresso.

O grande ponto é a coordenação e definição de prioridades para enfrentar desafios contemporâneos. A criação de políticas oficiais é um passo positivo, mas ainda há muito a ser feito. A NIB definiu “missões”, uma maneira de perseguir uma abordagem mais integrada, para melhorar a eficiência do governo e o desenvolvimento industrial.

 Missões Orientadas para o Desafio (Challenge-Oriented Missions), é uma estratégia que ganhou destaque nos últimos anos, especialmente em contextos de inovação e desenvolvimento sustentável. Esse conceito foi popularizado por Mariana Mazzucato, economista e especialista em políticas públicas. Ela tem foco em grandes desafios, abordagem multissetorial, inovação orientada para o bem comum e planejamento de longo prazo.

As missões abordam diferentes áreas, como saúde, infraestrutura e bioeconomia, exigindo colaboração intersetorial para o sucesso de suas metas ambiciosas. Isso é crucial para a segurança nacional.

A experiência da União Europeia demonstra que a superação da lógica de departamentos isolados é fundamental para a eficácia das políticas públicas baseadas em missões. Isso pode melhorar a administração pública.

Há uma série de agências públicas e associações privadas capazes de enriquecer o modelo. Tome-se o caso da ABDI.

Criada em 2004, a ABDI é uma das peças desse modelo, uma entidade híbrida que busca combinar eficiência privada com responsabilidade pública. Isso a torna única em sua abordagem para apoiar políticas de desenvolvimento.

Já estão em andamento programas relevantes, e praticamente desconhecidos do grande público.

  1. O Brasil + Produtivo, de apoio a pequenas e médias empresas. Essas iniciativas são cruciais para impulsionar a competitividade e a inovação no setor industrial. No programa, a ABDI atua como consultora, procurando  transformar e modernizar práticas industriais em todo o país.

O programa começou como um piloto da CNI (Confederação Nacional da Indústria), focando em melhorias nas pequenas e médias empresas e na gestão de processos produtivos. Essa abordagem busca otimizar a eficiência e reduzir custos.

As empresas participantes do programa têm a responsabilidade de assinar um termo de execução, comprometendo-se a implementar as medidas sugeridas. Isso garante um envolvimento ativo nas melhorias.

O sucesso do programa é evidenciado pelo aumento significativo na produtividade das empresas que participaram, que pode variar entre 20% a 30%. Este resultado reflete a eficácia da metodologia aplicada.

  1. Outro programa bem sucedido é o Mover (Mobilidade Verde e Inovação), lançado com o objetivo de promover a descarbonização da frota automotiva. A meta é reduzir em 50% as emissões de carbono até 2030. Mas não apenas. Incentiva a pesquisa e desenvolvimento de novas tecnologias, como veículos elétricos, híbridos e movidos a biocombustíveis. Introduz requisitos obrigatórios, como o uso de materiais reciclados e medição da pegada de carbono em todo ciclo de vida do produto.

Leia também:

Artigo Anterior

Coreia do Sul retira DeepSeek das lojas de aplicativos para revisar política de privacidade

Próximo Artigo

‘Eu sabia que ela era má’, diz sogra de suspeita de envenenar família com bolo no RS

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter por e-mail para receber as últimas publicações diretamente na sua caixa de entrada.
Não enviaremos spam!