Em maio de 1995, os trabalhadores do setor petrolífero realizaram uma greve nacional por reajuste salarial e contra a quebra do monopólio estatal do petróleo. Derrotar a greve era fundamental para a manutenção do plano de estabilidade econômica do presidente Fernando Henrique Cardoso. O sucesso do Plano Real dependia de um rígido controle dos salários dos trabalhadores do setor público e do privado. A concessão de aumento salarial para os petroleiros poderia abrir caminho para um ciclo de greves que colocaria em xeque a política de estabilização monetária do governo.
Historicamente, as greves do setor público também são capazes de revelar a natureza dos governos. Assim, não obstante a áurea social democrata exibida pelos principais expoentes do PSDB, o fato é que longe de implantar um modelo de Estado de Bem-Estar Social no país, o projeto político do PSDB era implementar o receituário neoliberal das reformas orientadas para o mercado. Para isso, era fundamental “quebrar a espinha dorsal” do sindicalismo combativo no Brasil, naquele momento representado pela greve do petroleiros.
Quase trinta anos depois, estamos novamente diante de um movimento grevista capaz de revelar a natureza de um governo. Há mais de sessenta dias, professores e técnicos administrativos das universidades e institutos federais estão em greve por reajuste salarial e recomposição do orçamento das instituições federais do ensino superior. Derrotar a organização sindical dos trabalhadores do setor público é fundamental para a imposição de uma agenda governamental de restrição orçamentária.
Mas o fato é que a política educacional praticada pelos governos Lula 1 e Lula 2, de um lado, e Lula 3, de outro; apresenta mais sinais de ruptura do que de continuidade. Com efeito, tudo indica que no que se refere à política salarial de professores e técnicos administrativos, bem como em relação aos investimentos em políticas educacionais, Lula 3 ficará refém das mesmas políticas fiscalistas de FHC 1 e FHC 2.
Medidas como estas são impossíveis de serem implementadas sem impor ao sindicalismo, especialmente do setor público, uma grande derrota econômica e social. Por isso, é fundamental para o governo Lula 3 impor aos professores e técnicos administrativos das universidades federais a mesma derrota imposta pelo governo FHC 1 aos petroleiros. Trocando em miúdos, para que a política do déficit zero seja vitoriosa o sindicalismo do setor público precisa ser derrotado.
É exatamente nestes termos que professores e técnicos das universidades federais se transfiguram nos “trabalhadores do setor público” e o movimento grevista desencadeado por eles deve ser deslegitimado pelo governo, pela mídia, pelas entidades sindicais cartoriais e por todos aqueles objetivamente resignados a transferir fundos públicos para o mercado financeiro em nome da governabilidade.
Em síntese, a intransigência governamental em relação à greve dos professores e técnicos administrativos das universidades federais nada mais é do que o reconhecimento público da rendição do governo aos interesses privatistas e rentistas da coalizão política e econômica que o tornou refém de juros, desonerações e isenções exorbitantes em detrimento do orçamento público, das políticas públicas e dos serviços públicos. E, para que estes interesses prosperem, o movimento sindical do setor público, notadamente de professores e técnicos das universidades federais, precisa perecer.