O Brasil tornou-se um protagonista importante do comércio internacional graças à sua vasta extensão territorial e às suas propriedades edafoclimáticas, tornando-o um grande exportador de produtos com características de commodities. Isso ocorreu, em grande parte, devido ao período positivo impulsionado pela globalização das economias.
Isso permitiu que a estrutura e a pauta de exportações incluíssem os complexos vegetais graníferos (soja in natura, farelo, torta), milho (in natura e etanol), laranja (de mesa e suco concentrado), carnes (bovina, avícola e suína); cafés arábica e conilon (grãos e beneficiados), algodão (pluma, fios, tecidos), celulose e produtos florestais.
A combinação de um vasto território com a presença de depósitos de diversos recursos minerais, aliada à implementação de uma visão econômica baseada no modelo nacional-desenvolvimentista e na substituição de importações, desde o período de Getúlio Vargas até os governos resultantes do golpe civil-militar de 1964, permitiu que o Brasil se consolidasse como produtor de combustíveis fósseis, minérios e seus derivados.
Até aí ou pouco mais, o agronegócio de exportação era visto “assim do alto”. Alguns empresários, no entanto, tomaram uma lupa e, com o apoio de órgãos públicos, começaram a olhar mais de perto para dentro de suas empresas, linhas de pesquisa e produtos primários com base em commodities direcionadas tanto ao mercado externo quanto ao interno.
Graças a essa percepção, diversificamos acentuadamente nossa pauta de exportações, alcançando a marca de mais de cem produtos diferentes.
Nos últimos anos, no entanto, principalmente devido à desastrosa política externa, econômica e diplomática, o país perdeu cinco posições no ranking de exportações. Do 22º lugar em 2008 para o 27º hoje, segundo a OMC. Uma queda de 7% em 2019, quando escolhemos nossos principais parceiros para nos afastarmos.
É claro que a forma como a indústria nacional vem sendo impedida de crescer pela prevalência de uma política financista de juros que privilegiam os interesses financeiros em detrimento dos interesses produtivos, limita o potencial de crescimento das exportações.
Em 2020, o saldo de nossa balança comercial sofreu uma redução de 12 bilhões de reais, já como resultado da equivocada política iniciada no ano anterior.
O país precisa aumentar sua participação no mercado mundial. Para isso, é importante intensificar as negociações para a celebração de acordos comerciais, promover investimentos em infraestrutura, e ampliar os esforços para eliminar barreiras às exportações brasileiras.
Pode parecer primário, mas tanto as exportações quanto as importações se incorporam ao desenvolvimento econômico dos países.
O que falta para completar a produção interna é importado; o que sobra, é exportado para quem não tem. Simples assim? Nem sempre.
Até aqui, em se tratando de comércio exterior, discorri sobre o óbvio. Talvez, pudesse ter adicionado mais números, dados estatísticos, posições logísticas, perspectivas.
O que acredito que não seja repetitivo, embora já tenha abordado o assunto em minhas colaborações jornalísticas, é a necessidade de explicar como se dá a pirataria sobre o trabalho nacional nas importações.
Escrevo com propriedade, pois em várias empresas pequenas e médias do setor de insumos agrícolas que assessorei, e que se aventuraram a desenvolver produtos de marcas internacionais, com raras exceções, obtiveram sucesso.
Publicações técnicas, estrangeiras e nacionais, bem como cientistas e agrônomos, relatam tecnologias desenvolvidas no exterior como adequadas para aumentar a produtividade e sanidade dos solos brasileiros, sem o uso de agrotóxicos, em diversas culturas. Empresários nacionais entram em contato com algum produtor externo da tecnologia e se propõem a distribuir o produto no Brasil.
Com o tempo, o consumo do produto se torna líder de vendas. Valeu a pena pesquisar, passar um ano negociando, acreditar em comércio justo, investir? Oba! Você vai começar a obter retorno. Infelizmente, não.
Tudo conquistado, os fornecedores resolvem abrir uma filial no Brasil e canibalizam seu trabalho e o capital investidos, passando a competir diretamente com você.
E o que nos resta? Apenas pedir desculpas e mais nada dizer.
Inté!
(Uma versão deste texto foi originalmente publicada na Revista Brasileira de Comércio Exterior nº 159)