Por um lado, estimulado pelos quase 130 dias em que esteve na Casa Branca de Donald Trump. Por outro, contrariado com os rumos do governo, que estimulou a aprovação de um grande pacote fiscal. É sob essa mistura contraditória – e uma boa dose de ambição –, que Elon Musk decidiu lançar o seu próprio partido político

A chegada do “Partido da América” foi anunciada no último final de semana por Musk, que não deixou claro se a sigla foi registrada junto às autoridades eleitorais, quem será o líder da agremiação nem quais são as suas principais bandeiras. 

Por ora, o que se sabe é que o próprio Musk não quer se lançar à Casa Branca. E nem poderia: nascido na África do Sul, ele não poderia se candidatar à presidência do país norte-americano – mesmo sendo naturalizado.

Restaria ao “Partido da América” buscar assentos na Câmara e no Senado, como admitiu o próprio Musk, que até simulou como poderá fazê-lo. “Uma forma de colocar isso em prática seria focar com precisão cirúrgica em apenas duas ou três cadeiras no Senado e de oito a dez distritos na Câmara”, afirmou.

“Dadas as margens legislativas extremamente apertadas, isso já seria suficiente para exercer o voto decisivo em leis polêmicas, garantindo que elas realmente reflitam a vontade do povo”, explicou.

Se a sigla sair mesmo do papel, o primeiro grande teste eleitoral já tem data para acontecer: nas chamadas “midterms”, as eleições que, no ano que vem, vão renovar 33 das 100 cadeiras do Senado, todos os 435 assentos da Câmara, os governos de 36 dos 50 estados norte-americanos e vários outros cargos.

Missão (quase) impossível

Para chegar aonde afirma pretender, Musk precisaria superar uma lógica quase intocável da política partidária norte-americana: o sistema bipartidário. O desdém às velhas instituições já faz parte da gramática do empresário, mas a história mostra que empreitadas dessa natureza costumam não dar certo. 

O sistema norte-americano permite a existência de uma pluralidade de partidos. Segundo a Comissão Federal Eleitoral dos EUA, um partido se define como uma organização em que seus candidatos a cargos federais aparecem na cédula de votação. Só que cada estado tem um poder de definir se um partido tem ou não direito de colocar seu candidato (ao cargo de presidente, por exemplo) na cédula. 

Na prática, isso cria um cenário visto com estranheza no Brasil, por exemplo: o de um determinado candidato à Presidência não poder ser votado em todos os estados. Ao mesmo tempo, também é possível que um partido atue apenas nos níveis estadual e/ou municipal.

Assim, até meados do ano passado, havia ao menos 53 partidos políticos aptos para votação, além de outros 253 partidos apenas em nível estadual, segundo dados do Ballotpedia, uma plataforma que se presta a apresentar uma espécie de enciclopédia digital sobre a política do país norte-americano.

Só que, mesmo sendo pluripartidário, o sistema dos EUA tende à prevalência das duas grandes agremiações do país: o Partido Republicano e o Partido Democrata. Há motivos históricos e estruturais para isso. A própria falta de um segundo turno na eleição presidencial ajuda a explicar a tendência ao bipartidarismo, o que desestimula a adesão a outras siglas. Entre o eleitorado norte-americano, há uma clara sensação de que não vale a pena votar em um candidato que não seja republicano ou democrata. 

Ainda assim, desde o século XIX, figuras como o ex-presidente Theodore Roosevelt e o bilionário Ross Perot tentaram ter sucesso, respectivamente, com o Partido Progressista e o Partido da Reforma. Perot chegou a ter quase 19% dos votos na corrida presidencial de 1992, mas é uma exceção na história política norte-americana.

Altos custos

Tornar um partido relevante a nível federal nos EUA também é uma tarefa cara. Na eleição do ano passado, as siglas gastaram quase 16 bilhões de dólares nas campanhas à Casa Branca e ao Congresso, segundo a organização de monitoramento OpenSecrets. 

Além disso, Musk terá que enfrentar uma opinião pública que, pouco a pouco, vem sendo menos favorável a ele. É verdade que os índices de aprovação de Trump estão em queda – ele tem apenas 40% de aprovação, segundo uma pesquisa recente do Yahoo/YouGov –, mas isso está longe de indicar que Musk esteja em uma posição segura para colher os frutos políticos. 

Até abril, 53,5% dos norte-americanos tinham uma opinião desfavorável sobre o bilionário, segundo uma pesquisa comandada pelo estatístico Nate Silver, e que agrega um rol de levantamentos nos EUA. Os números também mostram que, desde o início do ano passado, quando o empresário se aproximou de vez da campanha republicana e colocou a si mesmo no papel de um dos principais nomes da campanha eleitoral, a sua aprovação nunca foi majoritária. 

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Last Update: 07/07/2025