
Estamos sendo dragados pela pacificação liderada por Tarcísio de Freitas. Às vésperas da condenação do núcleo golpista, o Brasil é convidado a trocar os sentimentos de vingança e reparação, represados desde 2016, pelo gesto altruísta da anistia pacificadora.
O país pode substituir o que alguns ainda chamam de punitivismo pelo desejo de conciliação, moderação e reconstrução de novas bases de relacionamento e convivência na política, nas famílias, nas vizinhanças.
Estamos diante de um possível transe nacional com o projeto de pacificação de Tarcísio, Rogério Marinho, Nikolas Ferreira, Ciro Nogueira, Valdemar Costa Neto (foto), Gilberto Kassab, Sóstenes Cavalcante, Silas Malafaia, as milícias, as fintechs e o PCC.
É o que o país espera desde o golpe de Deodoro, que nos trouxe de 1889 até aqui. É uma ideia a ser ainda assimilada, pela dimensão transformadora. É o que eles dizem.
Pacificar para salvar criminosos. Finalmente entendemos o que levou a Procuradoria-Geral da República a livrar Valdemar da lista de golpistas denunciados ao Supremo.

Não foi pela sua desimportância nas manobras que não deram certo. Valdemar tinha a missão maior, que assumiria mais adiante, de ser um dos legendários de Tarcísio.
Enquanto manobram no Congresso pela anistia e para que o governo Lula sangre até a eleição do ano que vem, os pacificadores se dedicam, claro, ao projeto da conciliação nacional.
A base social que sustenta a ideia já é sólida e precisa apenas ser melhor organizada. Há pacificadores por toda parte, alguns dissimulados, outros desativados, muitos em processo de reativação.
Falem com professores e estudantes. As universidades estão infestadas de pacificadores. Há pacificadores pregando de novo, como Bolsonaro fez em 2018, que os não pacificados sejam conduzidos à ponta da praia.
Pacificadores do Congresso não querem saber de conversinhas que possam favorecer o governo, como a isenção de IR para quem ganha até R$ 5 mil. A isenção é para ser sabotada. É preciso fazer Lula sangrar enquanto a extrema direita e o centrão pacificam o país.
A pacificação é científica e leva em conta os seguintes dados revelados por pesquisas recentes: 61% dos brasileiros rejeitam candidatos que prometam livrar Bolsonaro da cadeia. Outros 67% entendem que Bolsonaro deve desistir da política.
E 56% rejeitam a anistia para golpistas, enquanto 75% consideram que o tarifaço de Trump contra o Brasil é chantagem com motivação política.
O projeto da pacificação pela anistia dá o seguinte recado: tudo o que as pesquisas disserem será contrariado e derrubado pelos pacificadores. Não querem anistia, mas nós queremos, dizem os legendários de Tarcísio. Não querem salvar Bolsonaro, mas nós salvaremos.
Porque a pacificação é uma ideia a ser imposta, para que crie novos cenários. Como deveria ter acontecido em 8 de janeiro e falhou, mas agora não irá falhar.
A pacificação, com Jesus, com Israel, com o demônio pacificado, essa pacificação não pode ser contida. Há pacificadores com arma em punho, para que se cumpra à força e em nome de Deus o desejo da pacificação.
O ditador João Baptista Figueiredo disse em 1978, com a ditadura apodrecida e o começo da abertura política que lavaria à anistia de 1979: “É para abrir mesmo. E quem quiser que não abra, eu prendo, arrebento. Não tenha dúvidas”.
O jornalista blogueiro Paulo Figueiredo, neto do general Figueiredo, disse agora a uma jornalista da Globo (a Globo ouve muito os golpistas): “O que vai ser feito por bem ou por mal é anistia ampla, geral e irrestrita”.
O avô do sujeito e todos os ditadores e torturadores escaparam por causa de uma anistia possível. Ele, a família Bolsonaro, os generais e centenas de golpistas e milicianos ainda não processados podem agora escapar pela imposição dos pacificadores.
A índole pela pacificação é hereditária e contagiante. Até o coronel Ustra seria hoje um pacificador das facções pacificadoras de Tarcísio de Freitas.