A trajetória de Badr Lama e seu irmão Ibrahim é uma das páginas mais notáveis da história do cinema árabe. Palestinos da cidade de Belém, os dois irmãos foram responsáveis por inaugurar e consolidar a indústria cinematográfica egípcia e árabe no período do cinema mudo.
Nascido em 23 de abril de 1907 no Chile, Badr era filho de Abdallah Ibrahim al-Aʿma, que emigrara de Belém em 1890, e de Liza Khalil Bishara Sara, também palestina. A mudança do sobrenome da família de al-Aʿma para “Lama” foi resultado da dificuldade dos falantes de espanhol em pronunciar a letra árabe ʿayn.
Ainda em solo chileno, os irmãos Ibrahim e Badr envolveram-se com a fotografia e o cinema, até que decidiram retornar ao mundo árabe em 1924. Ao chegarem a Alexandria, no Egito, abandonaram os planos iniciais de regressar à Palestina e decidiram fincar raízes onde o cinema local ainda engatinhava. Em 1926, fundaram sua própria companhia, a Condor Films, e, no ano seguinte, lançaram Qubla fi-l-Sahraʾ (Um Beijo no Deserto), um dos primeiros filmes mudos árabes. Rodado de forma artesanal num estúdio improvisado, o filme foi exibido em cinemas de Alexandria e Beirute.
A ousadia dos Lama logo transformou Alexandria em polo de produção cinematográfica. Com recursos próprios, montaram estúdio e escritórios dentro da própria residência. Produziram sucessivos longas, como Fajiʿa fawq al-haram (1928), que estreou em Alepo, e Muʿjizat al-Hubb (1930), musical filmado ao ar livre e exibido em Haifa, Jafa e Jerusalém.
Em 1930, os irmãos mudaram-se para o Cairo, onde abriram o Studio Lama, o primeiro estúdio profissional do país. Ali seguiram produzindo filmes com temáticas beduínas e orientais, incorporando elementos do faroeste norte-americano. Na temporada de 1936–1937, voltaram aos melodramas e seguiram ativos mesmo durante a Segunda Guerra Mundial, tendo produzido uma dezena de filmes de longa-metragem.
Badr atuou em 22 filmes. Destacam-se Ma‘ruf al-Badawi (1935), Ibn al-Sahraa (1942), Qais wa Laila (1939), al-Harib (1939), Sarkha fi-l-Lail (1940), Nidaʾ al-Dam (1943) e Wahida (1944). Em 1941, protagonizou Saladin, a primeira cinebiografia do líder Salah al-Din al-Ayyubi, considerado herói da resistência árabe contra as Cruzadas — uma figura símbolo da luta contra a dominação estrangeira. Atuou também como coautor de roteiros, coeditor e coprodutor em diversas obras.
Entre os talentos lançados pelos Lama, figuram nomes fundamentais do cinema egípcio e árabe, como Anwar Wagdy, Mahmoud el-Meliguy, Abdel Salam al-Nabulsi, Zaki Rustom, Amina Rizk, Laila Fawzi, Badia Masabni e outros.
Badr faleceu em 1º de outubro de 1947, vítima de insuficiência cardíaca. Ele protagonizou o primeiro beijo do cinema da região, ao lado de sua esposa e parceira artística, Badriyya Raʾfat. Após sua morte, um incêndio destruiu o Studio Lama, mergulhando Raʾfat em dificuldades financeiras e levando-a a abandonar o cinema. Anos depois, ela emigrou para o Canadá, onde faleceu em 2009.
A Condor Films seguiu ativa por um breve período, com Ibrahim dirigindo filmes estrelados por seu filho Samir. O último longa da produtora foi al-Qafila Taseer (1951), rodado no Sudão. Em 1953, Ibrahim assassinou sua esposa e se suicidou, encerrando tragicamente a trajetória da dupla.
Em 2013, o cineasta Raed Duzdar realizou o documentário The Lama Brothers, retratando a importância histórica dos irmãos palestinos para o cinema árabe. A obra relembra, entre outros episódios, a visita dos Lama a Belém em 1936, durante a histórica greve geral palestina contra o colonialismo britânico e a imigração sionista — quando filmaram al-Harib e incluíram parentes como figurantes.