O fenômeno do trumpismo e a ascensão global da extrema-direita respondem a causas sociais profundas. Não é verdade que o fator determinante tenha sido as “Fake News” espalhadas pelas redes sociais. Propaganda, desinformação e mentiras sempre existiram sob a ordem capitalista e certamente desempenham um papel político importante na luta de classes. As razões para uma derrota humilhante dos democratas estão nas políticas criminosas praticadas pelo governo Biden e tão vigorosamente defendidas pelos meios de comunicação social do sistema.
Como todos sabem, foi o imperialismo que desencadeou o golpe de Estado na Ucrânia, impulsionado fortemente pelos democratas, apesar de ter ocorrido sob Trump no 1º mandato. O fascismo foi a força impulsionadora do golpe e dos governos que se sucederam até chegar a Vladimir Zelenski, sem que houvesse qualquer incompatibilidade do nazismo histórico ucraniano com os democratas ou com Trump. O objetivo sempre foi submeter a Rússia de Putin numa linha de atuação de longo prazo, pois o próprio acordo de Minsk foi articulado como uma estratégia para enganar Putin, enquanto se fortalecia militarmente a Ucrânia. A submissão das repúblicas do Donbass a bombardeamentos permanentes se combinou com as repetidas provocações de Biden para que Putin invadisse a Ucrânia.
A estratégia do imperialismo previa o colapso do regime de Putin e a mudança de regime na Rússia para favorecer o imperialismo, o que se mostrou inviável e levou à virtual vitória militar das tropas russas. O governo Biden não conseguiu desenvolver uma estratégia capaz de enfrentar a nova situação, pois seria impossível aceitar a derrota, o que levou a favorecer uma escalada militar rumo à 3ª Guerra Mundial, igualmente inviável. Por outro lado, a criação de uma nova frente de guerra no Oriente Médio, armando Benjamin Netaniahu até os dentes para perpetrar o genocídio em Gaza e a agressão brutal contra o Líbano, também se deparou com a inexistência de saídas para o imperialismo. O regime sionista não conseguiu a vitória militar, seja contra o Hamas, seja contra o Hesbolá e muito menos contra o Irã.
Apesar da “grande vitória” na Síria, as contradições do novo governo terrorista e entre as forças ocupantes, como a Turquia, os curdos e a própria Rússia, que não abandonou suas bases no país, inviabilizam a transformação do país em ponta de lança contra o Irã. A grande maioria dos meios de comunicação sociais ocidentais, além da costumeira propaganda sionista e da defesa do governo ucraniano, agora aplaude o novo governo sírio, ignorando suas evidentes vinculações com o terrorismo árabe mais violento da Al-Qaeda e da Frente Al-Nusra, sem falar do famigerado Isis.
O caráter de classe do governo Biden se revelou amplamente, esquecendo qualquer leve ligação com a burocracia sindical norte-americana, como nos governos anteriores, e evidenciando suas carnais ligações com o capital financeiro e a indústria bélica, ao mesmo tempo que deprime as condições de vida da classe trabalhadora. Essa classe foi atingida pela inflação seletiva dos bens-salário, especialmente os da moradia, sem que o governo Biden cumprisse a promessa de aumentar o salário base de 7,5 para 15 dólares por hora.
Além disso, a “democracia” de Biden incluiu uma dura repressão contra o sindicalismo combativo e a esquerda independente, usando a brutalidade policial para desmantelar acampamentos universitários em solidariedade com a Palestina. O declínio do imperialismo norte-americano em relação à China e à Rússia só agrava a desestabilização interna de uma potência que, até recentemente, impunha sua “ordem baseada em regras” ao mundo.
O resultado eleitoral representou uma grande derrota para o governo Biden, mas uma força política alternativa ainda não se consolidou. Isso se deve tanto à política da esquerda norte-americana, que insiste em se aliar ao Partido Democrata, quanto ao sistema político eleitoral que favorece o imperialismo, impedindo que a representação política de outras classes concorra efetivamente pelo poder.
O governo Trump e seus homens e mulheres
Após sua vitória, mesmo antes de tomar posse, Trump já mostrou até onde está disposto a ir para defender os interesses da burguesia norte-americana, especialmente do setor que o financiou na eleição. Uma série de nomeações reforçaram a imagem de um poder isento de controles democráticos, violento e autoritário, inclusive contra os trabalhadores norte-americanos e os próprios imigrantes.
Entre as figuras de destaque, estão Scott Bessent como Secretário do Tesouro e Howard Lutnick como Secretário do Comércio, ambos grandes banqueiros ligados a fundos de investimento globais. Outra figura é Elon Musk, designado para liderar o Departamento de Eficiência Governamental, cuja missão é eliminar regulamentações e cortar gastos públicos, incluindo despedir milhares de funcionários.
Trump ainda nomeou Linda McMahon para o Departamento de Educação, com o objetivo de eliminar o que chamou de “planos de educação esquerdistas”. Já o Departamento de Saúde será liderado por figuras controversas como Robert F. Kennedy Jr. e Mehmet Öz, ambos associados à desinformação e teorias pseudocientíficas, com a missão de cortar recursos de programas sociais como Medicare e Medicaid.
Trump e sua equipe deixam claro que seguirão promovendo políticas que favorecem o grande capital, aprofundando desigualdades sociais e ampliando ataques aos direitos trabalhistas, enquanto avançam com uma agenda autoritária e antioperária.