Se alguém duvidava, pode acreditar: está ressurgindo o arco conservador-judicial que gerou a Lava Jato. Em Brasília, os movimentos dos ventos são detectados pelos efeitos nos bambuzais do poder.
Primeiro Sintoma: o PGR Paulo Gonet
O almoço do grupo conservador com a presença do procurador geral da República Gonet, ao lado de figuras símbolo do arco conservador-conspirador, como o ex-procurador e senador Demóstenes Torres, o deputado Ricardo Salles, o ministro do Tribunal Superior do Trabalho Ives Gandra Filho, o ex-Ministro do Supremo Tribunal Federal, Marco Aurélio de Mello.
Demóstenes foi figura-chave da atuação do bicheiro Carlinhos Cachoeira no início da desestabilização dos governos Lula e Dilma Rousseff. É dele o famoso grampo sem áudio, em que simulava uma conversa com o MInistro Gilmar Mendes, atribuída a um grampo da ABIN (Agências Brasileira de Inteligência), manobra que, mesmo sem comprovação, resultou no afastamento de Paulo Lacerda e no desmonte dos sistemas de controle da Polícia Federal. Esse episódio inaugura o agudo processo de politização da PF.
Faz parte, também, do processo de interferência da Procuradoria Geral da República no jogo político, explícito quando o PGR Roberto Gurgel faz uma denúncia contra o senador Renan Calheiros, em pleno processo de eleição da mesa do Senado, visando beneficiar Pedro Taques, um senador egresso dos quadros do Ministério Público Federal.
Taques deixou o governo sob pesadas acusações de corrupção e uso de grampos contra adversários. Taques atribuiu as acusações à “indústria da delação”, praticada por seus ex-colegas do Ministério Público Federal.
O ex-Ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, até agora passou incólume das inúmeras acusações que pesam contra ele. Ele foi alvo, entre outras, da Operação Akuanduba, da Polícia Federal. Os sócios da Tradelink Madeiras, David Pereira Serfaty e o inglês Leon Robert Weich foram acusados de venda de madeira ilegal, falsificação de informações ambientais e exploração de trabalho escravo. Na operação, Salles foi acusado de decisões que beneficiavam o grupo. Mas teve assento de honra ao lado da pessoa incumbida de fiscalizar o caso.
Obviamente não foi um almoço de conspiração, mas demonstrou cabalmente quem é a “turma” de Paulo Gonet. E explica o fato de não ter dados sequëncia ao relatório do Conselho Nacional de Justiça que incrimina seu ex-colega Deltan Dallagnol, Sérgio Moro e Gabriela Hardt.
Segundo sintoma: o Tribunal Superior Eleitoral, de Carmen Lúcia
A frasista Ministra Carmen Lúcia, é a síntese de um provérbio que não entrou para sua coleção de frases feitas: “Bambu que não se curvar, quebra”. Carmen é um importante termômetro dos ventos do poder em Brasília: ela sempre se curva ao poder dominante.
Segundo a colunista Malu Gaspar, de O Globo, “As ações que podem levar à perda de mandato e à inelegibilidade do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e do vereador Carlos Bolsonaro (PL-RJ), além de dezenas de outros aliados, parecem ter sido deixadas de lado”, desde que Carmen Lúcia assumiu a presidência do órgão.
Das 16 ações contra Bolsonaro, foram julgadas apenas cinco, todas no período em que Alexandre de Moraes presidiu o órgão.
As ações sobre as declarações de Bolsonaro contra o sistema eleitoral, e a atuação da Polícia Rodoviária Federal nas eleições, estão paradas desde setembro.
No meu livro “A Conspiração Lava Jato”, levanto casos que mostram a forma de atuação da Ministra.
Terceiro sintoma: o Tribunal de Contas da União
A ação aberta pelo TCU contra a Previ – o fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil – é tão extravagante que suscitou desconfianças imediatas.
O fundo tem grande prensença da Companhia Vale do Rio Doce – que, por sua vez, depende dos preços internacionais de petróleo. No ano passado houve queda nos preços do minério de ferro, refletindo-se sobre as ações da Vale, além de R$ 170 milhões de indenização para as vítimas da tragédia de Mariana.
Passad o período, o BTG estima um potencial de alta de 24,2% nos preços da Vale enquanto oi Itaú BBA aposta em 39%.
O que o TCU fez foi isolar os 11 meses de 2024 para afirmar que a Previ estava deficitária. Se a análise fosse em 24 meses, não haveria déficit algum.
O movimento foi reforçado por coberturas escandalosas de parte da mídia ligada ao mercado. Segundo Veja: “O ministro Walton Alencar Rodrigues chocou os colegas ao revelar um quadro de cerca de 14 bilhões de reais em perdas acumuladas no fundo entre janeiro e novembro do ano passado”.
No governo Dilma, foi acusado de um pacto com o Palácio em troca da indicação de suas esposa, Isabel Galotti, para o Superior Tribunal de Justiça. Não apenas isso. Segundo a reportagem
“Ele voltou a se posicionar favoravelmente aos interesses do governo, acatando boa parte do embargo de declaração proposto pela Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) no processo. A sessão foi em 12 de fevereiro. No mesmo dia, Dilma encaminhou ao Senado a indicação de Douglas Alencar Rodrigues, irmão de Walton, para o cargo de ministro do TST”.
A reportagem mostra uma prática comum em Brasília. Mas a ação descabida contra a Previ mostra que o bambu dos interesses corporativos começa a soprar em outra direção.
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