
O advogado Eduardo Kuntz, que defende Marcelo Costa Câmara, ex-assessor de Jair Bolsonaro (PL), afirmou ao Uol que guardou como “carta na manga” os diálogos com o ex-ajudante de ordens Mauro Cid, que agora foram apresentados ao Supremo Tribunal Federal (STF) em um momento considerado “oportuno”. A estratégia dos advogados que representam os réus por golpismo é anular a delação premiada de Cid, expondo as “mentiras” dele.
No entanto, o ministro Alexandre de Moraes, relator do processo, já rejeitou todos os pedidos para anular a delação, classificando-os como “protelatórios”.
Nas mensagens apresentadas ao STF, Cid teria feito críticas às investigações, sugerindo que a Polícia Federal estaria direcionando o caso para incriminar Bolsonaro.
Em um trecho, ele diz: “Não falei em golpe”. Kuntz argumenta que os diálogos mostram falta de voluntariedade na delação e descumprimento das regras do acordo, já que Cid estaria proibido de se comunicar com outros investigados ou usar redes sociais.
Entre os áudios enviados ao STF, Cid também expressa sentimento de abandono político. “Valdemar deu entrevista, falou do Max, do Cordeiro e de mim. Ah, que legal, né? O Valdemar não defende o Max, o Cordeiro e também não nos defende. Então assim, é complicado, é complicado você se sentir isolado”, disse.
Em outro áudio, o delator desabafa: “O Braga Netto, quatro estrelas, chegou ao topo… reserva. General Heleno, chegou ao topo… reserva. Presidente, ganhou milhões aí em Pix, chegou ao topo. Tudo bem, todo mundo no mesmo barco. E quem que se f**? Quem perdeu tudo? Fui eu”.
Ouça:
O material foi compartilhado com a defesa de Bolsonaro em 10 de junho, mesmo dia do interrogatório do ex-presidente no STF. Kuntz nega, porém, uma “ação conjunta” entre as defesas. “Pode ser que coincida de falar a mesma coisa. Temos, às vezes, as mesmas ideias”, explicou.
“Evitava ao máximo atender ele, para tentar deixar tudo registrado”, disse Kuntz sobre seus contatos com Cid, que teriam ocorrido por meio de um perfil falso no Instagram. O advogado afirmou que agiu em uma “investigação defensiva” para coletar informações que beneficiassem seu cliente, sem interferir nas declarações de Cid.