Na cidade de Sweida, de maioria drusa, tomada pelas forças sírias e seus aliados nesta terça-feira (15), os moradores sofrem com os abusos e saques, e alguns tiveram até mesmo suas casas incendiadas, relatam os habitantes.
Na manhã desta terça, as forças do governo foram posicionadas nesta cidade do sul da Síria, até então controlada por combatentes drusos, e instauraram um cessar-fogo.
Um correspondente da AFP, que chegou pouco depois, viu corpos caídos no chão, enquanto o som de tiros quebrava o silêncio em uma cidade praticamente deserta.
“Estou no centro de Sweida. Há execuções, casas e lojas incendiadas, roubos e saques”, disse um morador por telefone.
“Continuamos ouvindo tiros. Um de meus amigos do oeste da cidade me disse que homens desconhecidos entraram em sua casa, expulsaram os membros de sua família depois de confiscar seus celulares e incendiaram a casa”, acrescentou o homem, que pediu anonimato.
Imagens da AFP mostram fumaça saindo de vários prédios nesta localidade com cerca de 150 mil habitantes.
Outro morador, também sob anonimato, relatou ter visto “homens armados em trajes civis (…) saqueando lojas e ateando fogo nelas”.
“Há tiros indiscriminados, tenho medo de sair de casa”, disse ele, lamentando “não ter fugido antes que chegassem”.
Após quase 14 anos de uma guerra civil que deixou mais de meio milhão de mortos, uma coalizão liderada por islamistas derrubou o governante sírio Bashar al Assad em dezembro.
Ao assumir o poder, as novas lideranças comandadas por Ahmed al Sharaa prometeram garantir os direitos das diversas minorias na Síria e buscam restaurar a segurança em todo o país.
– Civis mortos –
O atual cenário em Sweida já foi visto anteriormente em outras regiões sírias desde a derrubada de Assad, com abusos à população por parte das forças governamentais islamistas, acompanhadas por combatentes não identificados.
No início de março, centenas de civis da minoria alauíta foram massacrados no litoral do país após ataques às forças de segurança, que foram acusadas pelos crimes, juntamente com grupos armados aliados e jihadistas estrangeiros.
Na segunda-feira, tropas do governo intervieram na região de Sweida, alegando que queriam acabar com os confrontos entre combatentes drusos e tribos beduínas locais, que mantêm relações tensas há décadas.
As forças governamentais combateram as facções drusas ao lado dos beduínos, de acordo com o Observatório Sírio para os Direitos Humanos (OSDH), testemunhas e grupos drusos.
Nesta terça, estavam acompanhadas de combatentes beduínos quando tomaram a cidade, segundo testemunhas.
“As forças do governo entraram na cidade com o pretexto de restaurar a segurança (…) mas infelizmente se envolveram em práticas selvagens”, disse Ryan Maarouf, editor-chefe do jornal local Suwayda 24.
“Há casos de civis mortos (…) dezenas, mas não temos números precisos”, acrescentou, acusando as “forças governamentais”.
De acordo com o OSDH, 12 civis foram mortos em uma hospedagem invadida por tropas do governo.
Os combatentes também destruíram várias estátuas nas praças da cidade. Os islamitas radicais acreditam que estes monumentos devem ser banidos, pois são equiparados à idolatria.
Várias aeronaves militares também sobrevoaram a localidade. O Exército israelense disse ter bombardeado veículos militares das forças sírias para, segundo afirmou, proteger os drusos.
Milhares de moradores fugiram, alguns para áreas próximas à fronteira com a Jordânia, de acordo com Maarouf.