Sair de fórmulas prontas, romper paradigmas e impor um projeto transformacional. Alguns álbuns lançados em 2024 conseguiram abarcar essas características e, por isso, estão aqui relacionados como os melhores do ano.
São 10 registros fonográficos ousados e inovadores, dignos representantes do que existe de potente na música brasileira.
Confira:
Um Segredo Revelado – Nando Reis
Nando Reis não lançava um disco de inéditas desde 2016, ano em que conseguiu largar o álcool e a dependência química. Neste ano, o cantor e compositor, que iniciou carreira no grupo Titãs, lançou um ambicioso álbum quádruplo chamado Um Segredo Revelado, com 30 canções, sendo 26 inéditas.
Autor de vários sucessos, em seu novo trabalho ele se mostrou, de novo, um artista profícuo, talentoso e diverso aos 61 anos, com enorme capacidade composicional em músicas autobiográficas, reflexivas e abstratas. Mostrou ousadia num projeto de fôlego. Com esse trabalho vigoroso, se apresenta como principal artista da geração pop rock dos anos 1980.
Y’Y – Amaro Freitas
O pianista pernambucano Amaro Freitas é outro destaque de 2024. Com o álbum solo instrumental Y’Y – palavra do dialeto Sateré Mawé, que significa água ou rio – se revelou um instrumentista exuberante e meticuloso ao extrair novas sonoridades do piano.
O trabalho, com referência à Amazônia e ao seu povo, consegue transpor essa ambiência com maestria.
Amaro é atualmente um dos maiores instrumentistas brasileiros e dá um salto gigante para a solidificação internacional de sua carreira.
Estopim – Chico Chico
Chico Chico já havia lançado álbuns em grupo, em dupla e solo — neste, o único filho de Cássia Eller já apresentava indubitável talento. O álbum Estopim, deste ano, parece convergir tudo feito até aqui, revelando-se uma explosão musical.
O músico esbanja intensidade sonora, em composições próprias e de outros, com influências urbanas e do universo da música tradicional. É um disco para cima, alto astral, inspirado, bem interpretado. Chico Chico é um cantor e compositor autêntico, raro e um dos melhores da nova geração.
O Sol e o Sal do Suor – Junio Barreto
O disco autoral O Sol e o Sal do Suor, de Junio Barreto, é outro arrasa-quarteirão de 2024. O tarimbado músico traz poesias solares em melodias e arranjos elevadíssimos. Levou 13 anos para lançar essa obra-prima.
Estrela do Norte, integrante do álbum, é candidata a melhor do ano pela sonoridade absolutamente inebriante e inovadora em letra e levada, com direito a um fabuloso instrumental de dois minutos. Um projeto de integração de instrumentos tradicionais, sintetizadores e programações muito bem executado.
No Rastro de Catarina – Cátia de França
A paraibana Cátia de França, 77 anos, mostra em No Rastro de Catarina uma vitalidade absurda, entre músicas com sonoridade pop entremeadas com ritmos regionais. São 12 faixas de referências pessoais e letras conscientes. Um disco marcante, nada convencional e vibrante.
A Lira do Povo – Ayrton Montarroyos
Ayrton Montarroyos reuniu em um álbum 27 músicas, divididas em três suítes, num longo pot-pourri cada uma. A canções percorrem o nosso rico cancioneiro, desde a primeira metade do século passado, com uma interpretação magistral do cantor, impecável nas divisões vocais e no ritmo dado ao registro.
De Lua – Ná Ozzetti e Luiz Tatit
Outro álbum marcante de 2024 pela originalidade é o De Lua, de Ná Ozzetti e Luiz Tatit. São cinco músicas já gravadas e cinco inéditas assinadas por ambos. O resultado é excelente, com a voz madura de Ná Ozzetti, que canta muito bem, com as riquíssimas letras do experiente Luiz Tatit. São temas realizados com desenvoltura e sagacidade, com resultado sonoro de altíssimo nível.
Mantra Concreto – Vitor Ramil
O cantor, compositor e escritor Vitor Ramil também é destaque em 2024, com uma leitura original de Paulo Leminski. O álbum Mantra Concreto reproduz com engenhosidade as letras comunicativas de Leminski, com a sonoridade exemplar dialogando solidamente com as densas poesias do paranaense.
Boca Cheia de Frutas – João Bosco
O disco Boca Cheia de Frutas, de João Bosco, o primeiro lançado pelo cantor e compositor após a morte do inesquecível parceiro Aldir Blanc, é um registro do mineiro plural, com referências ao Brasil, à nossa terra, à nossa gente. É o João Bosco essencial e fundamental de sempre, com sua musicalidade única e transcendente. Um discaço.
Cochicho no Silêncio Vira Barulho, Irmã – Verônica Ferriani
Cochicho no Silêncio Vira Barulho, Irmã é o quinto disco solo de Verônica Ferriani. A cantora e compositora coloca a mulher como protagonista, com várias convidadas, em 20 canções de álbum duplo. Uma virada na carreira com canções incisivas, da luta diária da mulher.
“Fui sempre considerada uma cantora que agrada. O posicionamento pode incomodar, mas ele também vincula, marca muito mais, a gente troca muito mais. Essa troca estava me interessando”, disse ela em entrevista a CartaCapital. Salve Verônica Ferriani por esse disco bem realizado e produzido, nos lembrando de que em 2025 também “é preciso estar atento e forte”.