O jornal Folha de São Paulo publicou, no sábado (14), um editorial em que defende a privatização de três dentre as mais importantes estatais brasileiras. Com o título “Privatizar Petrobras, Caixa e Banco do Brasil”, o jornal entende que este é um tabu a ser derrubado pelo que classifica como “bem-sucedido programa brasileiro de desestatização”.

O deputado federal Orlando Silva (PCdoB-SP) rebateu o editorial. Em suas redes sociais, Silva sentenciou a ideia como: “Ótima estratégia para destruir o país.”

Este novo episódio de confronto às instituições de Estado se soma às divulgações de mensagens de auxiliares do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), sobre os processos das investigações de fake News e das milícias digitais, quando ele acumulava a presidência do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

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Com as reportagens o jornal sentenciou o ministro ao dizer que ele “atuou fora do rito legal”. Dessa forma, assanhou a extrema direita em ataques ao STF e pedidos de impeachment contra Moraes que deverão se avolumar no 7 de setembro.

Editorial

No texto da Folha são colocados como exemplos de grande sucesso as privatizações da Embraer e Vale, além das empresas dos setores de telefonia e energia elétrica.

No entanto, o jornal que já chegou a chamar a ditatura militar de “ditabranda”, ao relativizar os efeitos do período na sociedade brasileira, não lembra que no caso da Embraer a empresa recebeu financiamento do governo brasileiro via BNDES de R$ 4,5 bilhões para exportação de jatos neste ano – o que revela uma das facetas do modelo privado que usualmente se locupleta do Estado.

Ou mesmo a Folha de São Paulo esquece do crime ambiental e social promovido pela Vale em Brumadinho. Caso seja este o exemplo de “sucesso”, a defesa do jornal deve tantas explicações quanto a própria empresa responsável pelo desastre.

No caso da energia elétrica, a privatização da Eletrobras até hoje está na Justiça, considerada ilegal e inconstitucional. Outro grande sucesso, pela Folha, deve ser a privatização da Eletropaulo que virou Enel e coleciona apagões em São Paulo.

E o que falar sobre o ranking dos associados do Idec (Instituto de Defesa de Consumidores) que coloca as telecomunicações na quinta posição entre os serviços com mais reclamações?

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Para completar, sem explicação satisfatória o editorial também coloca que administrações de esquerda, historicamente defensoras das estatais, reconhecem as vantagens do modelo para alguns setores.

O jornal ainda critica o Estado brasileiro ter 123 empresas sob controle direto ou indireto, ainda que os principais alvos sejam Petrobras, Caixa e Banco do Brasil. Conforme é colocado, as empresas não se justificam sob o pretexto estratégico, são custosas e tem retorno duvidoso. Será mesmo?

“Puro suco de ideologia e oportunismo”

O deputado Orlando Silva, na rede social X, fez a seguinte afirmação sobre a visão da Folha quanto à venda da Petrobras, Caixa e Banco do Brasil para a iniciativa privada: “Numa tacada só, o Brasil perderia sua maior empresa e líder em investimentos e produção científica, o banco responsável por financiar os principais programas de habitação popular e também o financiamento direto de imóveis, e o banco que financia o agronegócio e a agricultura familiar, através do Plano Safra”, criticou.

Por fim, Silva enxerga no caso a propagação de um ideal falido anti-Estado e oportunista.

“O ideário falido neoliberal e anti-Estado é imprestável em todo o mundo, mas a Folha dobra a aposta, exceto, claro, quando a intervenção estatal é para subsidiar a iniciativa privada. É puro suco de ideologia e oportunismo, tudo o que o jornal critica, mas pratica quando convém”, completou.

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Última Atualização: 25/08/2024