Em entrevista ao programa Entrelinhas Vermelhas nesta quinta-feira (17), o deputado federal Orlando Silva (PCdoB-SP) celebrou a aprovação unânime do Projeto de Lei 2342/24, que torna permanente a Lei de Incentivo ao Esporte — criada em 2006, durante sua gestão como ministro do Esporte no governo Lula. Na mesma entrevista, o parlamentar também alertou para o cenário geopolítico instável, denunciando a articulação entre Donald Trump, Jair Bolsonaro e as Big Techs para atacar o Brasil por meio de tarifas comerciais, desinformação e sabotagem institucional.
Com 471 votos a favor e nenhum contra, a Câmara dos Deputados aprovou o projeto que consolida e amplia a Lei de Incentivo ao Esporte, aumentando de 2% para 3% o limite do imposto de renda que empresas podem destinar ao financiamento de projetos esportivos. O texto também separa definitivamente o esporte da área de reciclagem, que até então disputava os mesmos recursos.
“Cada medalha olímpica ou paralímpica tem um pedacinho dessa lei”, afirmou Orlando. Segundo ele, a política já garantiu R$ 6,3 bilhões em investimentos diretos no esporte brasileiro ao longo de quase duas décadas, abrangendo desde o esporte educacional até o alto rendimento.
Assista a entrevista completa:
“O esporte unifica o Brasil”
Orlando Silva destacou o simbolismo de uma votação unânime em um Congresso marcado por tensões. Para ele, o esporte se consolida como um vetor de unidade nacional.
“O esporte é uma potência. Ele projeta o Brasil no mundo, protege a infância, ativa cadeias produtivas e gera empregos. É uma bandeira suprapartidária. Conseguimos ouvir a oposição e acolher sugestões para construir um texto de consenso.”
Ele ainda celebrou o papel do governo Lula, tanto na criação quanto na consolidação da política pública: “Quem criou a Lei foi o presidente Lula. E é ele, agora, que a torna definitiva, mostrando compromisso com o esporte como política de Estado.”
Com a vitória na Câmara, o PL 2342/24 segue para votação no Senado. Orlando Silva pediu brevidade na tramitação: “O Senado precisa aprovar logo. Essa lei é estruturante. O Brasil precisa de estabilidade para continuar transformando vidas através do esporte.”
Tarifa de Trump: “ataque ideológico à soberania do Brasil”
O parlamentar tratou da crise diplomática com os Estados Unidos após o anúncio, por parte de Donald Trump, de uma tarifa de 50% sobre todos os produtos brasileiros exportados aos EUA, a partir de 1º de agosto. Para Orlando, a medida tem motivação ideológica e autoritária, e se insere em uma estratégia da extrema-direita internacional para desestabilizar governos progressistas.
“Trump tenta interferir diretamente no processo político brasileiro. É um gesto de solidariedade ao bolsonarismo num momento em que Bolsonaro está sendo julgado pelos seus crimes. Isso fere a soberania nacional.”
“Trump quer pressionar por uma anistia política a Bolsonaro”
O deputado foi enfático ao ligar o tarifário à tentativa de interferência no Judiciário brasileiro: “Flávio Bolsonaro virou porta-voz da chantagem internacional. Disse que as tarifas só caem se o Congresso anistiar os golpistas. Isso foi o golpe de misericórdia na proposta de anistia.”
Orlando ainda denunciou que a extrema-direita está usando sanções econômicas como ferramenta de ingerência externa, com a conivência de setores do empresariado e do próprio Congresso.
Guerra digital: Big Techs como aliadas do bolsonarismo
Orlando Silva também comentou a carta enviada por Trump ao presidente Lula, na qual o ex-presidente dos EUA critica o STF e defende um Brasil sem regulação das plataformas digitais. Para ele, o episódio expõe uma aliança de longo prazo entre a extrema-direita global e as Big Techs, interessadas em manter o ambiente digital como “terra sem lei”.
“Trump, Musk, a Meta, todos eles têm interesse em impedir qualquer regulação. Eles lucram com desinformação, com discurso de ódio. E o bolsonarismo é o cavalo de Troia deles no Brasil.”
O parlamentar elogiou a atuação do STF, que julgou o artigo 19 do Marco Civil da Internet e criou precedentes para responsabilizar as plataformas.
“O Congresso se omitiu. O Supremo agiu com coragem. Agora precisamos retomar o PL 2630 e garantir regras para o ambiente digital, como já faz a União Europeia.”
Crise internacional e liderança de Lula
Para Orlando Silva, o Brasil vive um momento de definição geopolítica. Com os BRICS ganhando protagonismo global, os ataques de Trump seriam uma tentativa de enfraquecer a construção de uma nova ordem multipolar.
“Trump quer defender a velha ordem, onde os EUA mandavam sozinhos. Mas hoje o BRICS ampliado já tem mais peso que o G7. Atacar o Brasil é atacar esse projeto.”
O deputado defendeu a estratégia de Lula de atuar com diplomacia e evitar reações precipitadas, o que teria deixado Trump isolado internacionalmente: “Lula não caiu na armadilha. Deixou Trump exposto. Enquanto o bolsonarismo se mostra submisso, Lula defende o Brasil com altivez.”
“Só com o povo organizado haverá transformação”
Na parte final da entrevista, Orlando fez um chamado à reconstrução da luta social e ao resgate de utopias populares. Segundo ele, a esquerda precisa retomar a centralidade do trabalho e dos sindicatos para se reconectar com o povo: “Enquanto houver capitalismo, haverá luta de classes. E a classe trabalhadora precisa estar organizada para lutar. O Congresso pode até ser conservador, mas sem mobilização popular não há mudança real.”
Enquanto isso, a disputa internacional se acirra, e o Brasil se vê no centro de uma ofensiva econômica, digital e política. Para Orlando, o caminho da soberania passa por mais democracia, mais justiça social e resistência contra o autoritarismo global.