Por Jeferson Miola
Dia após dia, a sociedade brasileira é horrorizada com os crimes e ilícitos praticados em série pela quadrilha que esteve no poder durante quatro anos, desde o primeiro dia de 2019 até o último dia de 2022.
É provável que vários dos inúmeros crimes sequer sejam descobertos, e talvez o país jamais venha a conhecer a verdade sobre todas as ilicitudes do governo fascista-militar presidido por Bolsonaro, da mesma maneira que até hoje ainda perduram sombras sobre as atrocidades da ditadura.
O ascenso dessa quadrilha ao poder não foi um mero acidente de percurso. E, menos ainda, uma fatalidade inevitável.
A chapa militar Bolsonaro-Mourão foi eleita à presidência do Brasil e se manteve quatro anos no poder cometendo crimes em série por não encontrar resistências nas instituições disfuncionais da República, algumas claramente corrompidas.
Por instituições entende-se as polícias e os ministérios públicos das esferas federal e estadual, em especial do estado do Rio de Janeiro; o Congresso Nacional; o judiciário em todas as instâncias; organizações patronais e a mídia neoliberal.
A captura das instituições para propósitos políticos, ideológicos e pessoais/materiais, cujo ápice foi o Estado de Exceção da Lava Jato, mostrou-se tão ilegal quanto trágica para o país.
As instituições falharam em não prevenir, em não reprimir e em não punir as condutas criminosas, mesmo tendo conhecimento delas.
A tolerância e a complacência com práticas aberrantes, que jamais poderiam ser naturalizadas e aceitas numa sociedade republicana e democrática, deixaram livre o caminho para o avanço fascista.
Com alguns passos atrás no tempo é possível se reconstituir um conjunto de eventos que comprovam que, sem a instrumentalização e o direcionamento das instituições contra Lula e o PT, o Brasil não teria caído no precipício em que suas oligarquias o jogaram, permitindo o ascenso do extremismo fascista ao poder:
- O ato político aconteceu no pátio da AMAN, Academia Militar das Agulhas Negras, durante cerimônia de formatura de aspirantes a oficial.
- Nos anos de 2015 e 2026 os generais Sérgio Etchegoyen e Eduardo Villas Bôas, nomeados pela presidente Dilma respectivamente como Chefe do Estado Maior e Comandante do Exército, traíram-na e se reuniam secretamente com Temer para conspirarem contra ela.
- Num abuso monocrático, no dia 18 de março de 2016 o ministro do STF Gilmar Mendes cassou a nomeação de Lula para a Chefia da Casa Civil do governo da presidente Dilma para não comprometer a trajetória lavajatista rumo ao golpe.
- Na famigerada sessão da Câmara de Deputados de 17 de abril de 2016, que o jornalista português Miguel Sousa Tavares chamou de “assembleia de bandidos comandada por um bandido chamado Eduardo Cunha”, o então deputado Jair Bolsonaro dedicou seu voto pelo impeachment fraudulento ao torturador e sanguinário coronel do Exército Carlos Alberto Brilhante Ustra – “o pavor de Dilma Rousseff”, nas palavras dele.
- No dia 3 de abril de 2018, o Alto Comando do Exército publicou um tweet para obrigar o STF manter a prisão ilegal de Lula, com o objetivo de retirar da disputa o único obstáculo à eleição da chapa militar.
- Depois de condenado no processo farsesco da Lava Jato, que foi endossado pelo Poder Judiciário, em 7 de abril de 2018 Lula foi levado à masmorra de Curitiba, para ficar impossibilitado de disputar a eleição presidencial.
- Dois meses antes da posse de Bolsonaro/Mourão, o MP/RJ e a justiça do RJ engavetaram os escândalos de corrupção da família miliciana com verbas dos gabinetes parlamentares operadas através do comparsa Fabrício Queiroz.
- No dia 8 de outubro de 2018, primeiro dia após a votação do 1º turno, o jornal Estadão, um dos expoentes do jornalismo de guerra, vocalizou a posição hipócrita da mídia neoliberal no editorial intitulado “Uma escolha muito difícil”, no qual equiparou o professor e democrata Fernando Haddad ao miliciano facínora e fascista Jair Bolsonaro.
Agora, com a revelação dos detalhes escabrosos dos crimes cometidos pela bandidagem que usou o Planalto como fachada para o crime, é essencial que as instituições verdadeiramente comprometidas com a democracia e a legalidade atuem com rigor e justiça para responsabilizar os perpetradores de crimes contra o Estado de Direito.
Além de Bolsonaro e seus comparsas civis, também precisam ser levados aos tribunais os mentores do assalto ao poder “pela via eleitoral”, que são as cúpulas partidarizadas das Forças Armadas e todos delinquentes fardados que labutaram pelo golpe.