O tráfico e a milícia estão cobrando pedágios para permitir campanhas eleitorais em áreas controladas e até lançando seus próprios candidatos. Valdevar Pereira da Silva Júnior, o Valde, é um exemplo disso. Candidato a vereador em Nilópolis (RJ), ele foi condenado a 7 anos e 6 meses de prisão por envolvimento com uma milícia local, mas continua em campanha enquanto recorre da sentença.
Outras candidaturas também surgem ligadas a grupos como PCC e Comando Vermelho, e pedágios de até R$ 60 mil são cobrados de políticos para que possam circular nesses territórios.No Rio de Janeiro, 14 candidatos são investigados por vínculos com milícias, incluindo o ex-sargento da PM Wainer Teixeira Júnior, que tenta uma vaga na Câmara de Maricá (RJ) mesmo após condenação.
Em São Paulo, o PCC se envolve diretamente no apoio a candidaturas, com influência confirmada pelo chefe do centro de inteligência da Polícia Militar, Pedro Luís de Souza Lopes. Segundo ele, cidades economicamente mais vulneráveis são as mais afetadas.
A atuação criminosa é ampla. Investigações em São Paulo revelaram que o PCC tentou lançar candidatos em Mogi das Cruzes e Santo André. O grupo vê a política como um meio para lavagem de dinheiro e acesso a verbas públicas. Mensagens de WhatsApp obtidas pela polícia mostram João Gabriel de Mello Yamawaki, do PCC, articulando campanhas eleitorais para o grupo em várias cidades do estado.
No Rio, Fernanda Costa, filha do traficante Fernandinho Beira-Mar, tenta se reeleger vereadora em Duque de Caxias (RJ) apesar de sua condenação por envolvimento com o tráfico. Renan Rocha de Assis, o Renan Finnellon, também tenta se eleger, mesmo condenado por colaborar com facções criminosas. A defesa dos candidatos alega inocência e aguarda desfechos judiciais.
No Nordeste, candidatos enfrentam taxas exorbitantes para fazer campanha em áreas controladas pelo crime. Um vereador de Sobral (CE) foi abordado por criminosos exigindo R$ 60 mil para permitir sua campanha em um bairro controlado pelo CV. Aqueles que se recusam a pagar enfrentam retaliações violentas, como agressões e até ameaças de morte.
No Pará, o crime organizado também cobra pedágios de candidatos a vereador em Belém e em municípios próximos. Até aspirantes a prefeitos são intimidados a pagar taxas para evitar atentados. A polícia confirmou que as lideranças do crime, escondidas em favelas do Rio, coordenam essas ações por meio de chamadas telefônicas.
Especialistas alertam que a interferência do crime nas eleições representa uma ameaça à democracia. Daniel Hirata, da Universidade Federal Fluminense (UFF), destaca que a influência do crime nas eleições municipais é um fenômeno crescente, enquanto André Rodrigues, também da UFF, ressalta o impacto negativo para a livre expressão do voto e para o processo eleitoral.