As eleições na França acenderam um sinal de alerta para a esquerda global. A extrema direita venceu de forma esmagadora nas eleições da Europa e, no domingo (30), estava prestes a vencer as eleições do parlamento francês. Diante do avanço do fascismo, a esquerda pequeno burguesa assume sua posição tradicional, o otimismo surrealista, que remete ao livro Cândido, de Voltaire. O colunista do Brasil 247, Arnóbio Rocha, publicou o texto: “A Nova Frente Popular (Centro-Esquerda) é a vencedora na França”.
Ele começa o texto com uma tese bem extravagante: já que a extrema direita certamente venceria as eleições, então a esquerda venceu, pois foi o segundo lugar. Ele escreve: “era óbvio que a Extrema-direita teria maior percentual no primeiro turno, mas a tática da Nova Frente Popular [NFP] (A France Insoumise (França Insubmissa), o Parti Socialiste (Partido Socialista), o Parti Communiste (Partido Comunista) e Les Écologistes (Os Ecologistas), se ajustou muito bem para o momento e se constituiu o verdadeiro polo de resistência ao fascismo, os números nacionais confirmam o excelente desempenho”.
Aqui ainda há uma espécie de esperança de que no segundo turno a situação mude, mas pelo comportamento da direita tradicional francesa, representada por Macron. Eles não apoiaram os candidatos propriamente de esquerda contra a extrema direita. Podem apoiar a NFP, onde os candidatos são neoliberais, ou seja, na prática, da mesma ala de Macron. Aqui é preciso explicar dois fatores para compreender as eleições francesas.
Primeiro as eleições são distritais, então até para o parlamento há segundo turno. Ou seja, há várias mini eleições municipais em todo o país. A NFP, por sua vez, é uma frente que inclui desde a esquerda até a base do governo Macron. Só não entrou o próprio partido de Macron, pois seria um suicídio político. Mas o PS e os Ecologistas têm a mesma política neoliberal de Macron. Ou seja, onde o segundo turno é entre a esquerda propriamente, o FI, e o partido de Le Pen, a direita não irá apoiar. Onde é entre o PS ou os verdes contra Le Pen, o partido de Macron pode apoiar. No fim, a tendência não é de vitória da esquerda, mas sim da direita e da extrema direita. Em resumo, a burguesia francesa manipula as eleições para evitar a vitória real da esquerda.
Ele continua: “a tática suicida de Macron o levou à derrota, sem nenhuma necessidade, após as eleições para o Parlamento Europeu, ele convocou eleições nacionais, para o parlamento em que ele tinha maioria, poderia ficar até as próximas eleições e aguentar a extrema-direita, preferiu o tudo ou nada, perdeu feio, mas abriu um leque à esquerda muito interessante”. Aqui o autor parece que acertou. Macron tentou manobrar com eleições repentinas, mas ele estava totalmente esgotado e não conseguiu sair por cima.
Ele segue: “percebo que estamos olhando apenas para um lado, a ‘vitória’ (mais do esperada) da extrema-direita, sem entender, primeiro que quem foi derrotado foi o Macron, seu conservadorismo não se sustenta na direita. É o caso do PSDB, que foi engolido pelo bolsonarismo”. Essa análise também é correta. Macron é equivalente ao PSDB e se esgotou da mesma forma que o partido brasileiro. Isso deu lugar ao crescimento da extrema direita. O problema é que o PT, mesmo defendendo uma frente ampla, ao ter Lula como principal dirigente, difere da NFP francesa. Esse é o próximo tópico.
O autor demonstra sua incompreensão sobre a esquerda: “olhando de forma mais ampla, se percebe que a esquerda saiu das cordas, vai ao segundo turno, depois de 3 eleições de derrotas, sem ir para a segunda volta, se posiciona bem para as eleições presidenciais futuras, deve capitalizar esse expressivo avanço, voltou a ser protagonista na França, o que diz muito para o mundo”. Nem toda a vitória de uma organização ou frente de esquerda é de fato uma vitória dos trabalhadores. O caso da França nesse sentido é semelhante ao do Chile.
Boric é de uma ala neoliberal da esquerda, uma ala que era minoritária dentro da frente de esquerda mas que assumiu a cabeça da chapa por pressão da burguesia. A NFP é uma frente semelhante. O FI é a ala mais à esquerda, mais popular, e diante da pressão da burguesia ela tende a perder o controle da organização que terá sua ala neoliberal fortalecida, nesse caso o PS. As frentes com partidos do imperialismo sempre terminam dessa forma.