O artigo “Democracia aqui e lá”, assinada por Ivan Guimarães, e publicada nesta sexta-feira (2) no Brasil 247, revela a subserviência da esquerda em relação ao imperialismo. No olho da matéria, Guimarães afirma que “Maduro tornou-se um caricato ditador latino-americano”.
O primeiro parágrafo apresenta um trecho que poderia ter sido escrito por qualquer funcionário da GloboNews: “Passado o prazo legal para a divulgação dos mapas de Urna, o governo dos EUA comunicou que, tomando como base as informações disponíveis, não há como Nicolás Maduro ter ganho as eleições venezuelanas”.
Ivan Guimarães aceita servilmente a ingerência dos Estados Unidos sobre o país vizinho, não contestando a validade das informações que o imperialismo utiliza para invalidar a vitória de Maduro. Quem pode dar crédito a quaisquer informações, sabendo que os institutos de pesquisa são controlados pela máquina de guerra americana?
Como se não bastasse, Guimarães diz que “O vitorioso foi Edmundo Gonzáles Urrutia. [E que] o anúncio foi feito pelo próprio secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken”. Sim, e daí? Por que teríamos que abaixar a cabeça para Blinken ou quem quer que seja? Que autoridade esse sujeito tem sobre a soberania de outro país?
Edmundo Gonzáles Urrutia, o novo Guaidó, foi entronizado por Blinken e tudo bem, pelo menos para Guimarães. Pouco importa se Gonzáles tenha participado da ditadura em El Salvador e que tenha sido conhecido como o “agente da morte”. (removido link)
Aqui é preciso criticar a postura do governo brasileiro, que não reconhece de imediato a legitimidade da eleição de Maduro. Isso dá margem a articulistas super direitistas, como Guimarães, a afirmar que “Essa posição dos EUA parece antecipar a do México, Colômbia e Brasil, que exigiam os mapas de urna para aceitarem os resultados. Não receberão. Aparentemente os EUA tem o seu próprio calendário, que certamente prioriza o processo eleitoral”.
Não, Ivan Guimarães está completamente equivocado, os EUA não priorizam quaisquer processos eleitorais, eles não dão a mínima, passam por cima inescrupulosamente de decisões democráticas, como fizeram, por exemplo, em Honduras, na Bolívia e mesmo no Brasil, tramando o golpe contra Dilma Rousseff.
Ninguém pode dizer calmamente, como se fosse normal, que um país tenha declarado quem tenha vencido as eleições em outro. É inadmissível! É preciso denunciar essa agressão, pois é disso que se trata.
Outro ponto escatológico do texto, é quando o autor diz que “Maduro tornou-se um caricato ditador latino-americano. Digno de estrelar ‘Bananas’ de Woody Allen”. Deixando de lado a mentira explícita, é vergonhoso que alguém, supostamente de esquerda, da América Latina, trate um país como se fosse uma simples república bananeira, pois isso só revela seu alto grau de subserviência.
Para piorar, Ivan Guimarães se apropria de maneira indevida do filme de Woody Allen; deveria utilizá-lo para criticar a ingerência americana nos países do continente que trata como sendo seu quintal.
Guimarães diz que Maduro “Segue o figurino clássico: prende a oposição, processa todos que deseja por terrorismo e acusa a imprensa, governos e órgãos multilaterais por conspiração. Conhecemos essa forma de agir. Vivemos mais de 20 anos de ditadura”. Porém, quem terá tentado assassinar Trump? Quem acusa todos de terrorismo e até bombardeia países com essa desculpa? Quem prendeu Julian Assange para calar a imprensa? Sim, conhecemos essa forma de agir, vivemos mais de 20 anos de ditadura que, não por acaso, foi planejada e executada pelos Estados Unidos em todos os países da América Latina. Eles criaram escola para ensinar tortura; financiaram os piores fascistas que cometeram os piores crimes que podemos imaginar.
O problema do petróleo
O texto de Ivan Guimarães é um show de horrores, pois advoga para os interesses do imperialismo. Diz que o governo venezuelano “está sentado em cima da maior reserva de petróleo do mundo, sua ação tem efeito global”. Ou seja, o petróleo da Venezuela, para ele, não seria um problema nacional, mas mundial, a mesma desculpa que utilizam para colocarem em xeque o direito brasileiro sobre a Amazônia, 60% do nosso território.
Para Guimarães pouco importa a soberania da Venezuela, e ainda ameaça ao dizer que “Se a guerra é a extensão da política por outros meios, como disse Clausewitz, podemos estar perto de mais uma delas”. Já está justificando, para não dizer pedindo, uma intervenção militar no país vizinho. Esse senhor Guimarães pode ser considerado qualquer coisa, menos alguém de esquerda.
O articulista se preocupa com uma suposta invasão da Guiana que causaria um conflito militar com a Venezuela, que reivindica com razão a Guiana Essequiba, porque com isso os venezuelanos “atrairão russos e chineses”. Sobre a presença de tropas americanas na região faz alguma crítica? Não. O que não tolera é hipótese de virem para cá os adversários dos Estados Unidos.
Ivan Guimarães repete aquilo que cansamos de ler e ouvir na Globo, Folha de São Paulo, Estadão etc.; que a Venezuela está “sob uma ditadura mal disfarçada e autoritária, que fez eleições fajutas”. No entanto, é muito mais fajuto, é uma atitude golpista, que um país, não o povo venezuelano, determine quem governar.
É ridículo, pois nos Estados Unidos, país que pressiona a Venezuela, é palco de todo tipo de falcatruas. A votação pelos correios é para lá de suspeita e, para ficarmos apenas em dois exemplos, a vitória de G. Bush sobre Al Gore foi um verdadeiro golpe. Ainda assim, não vimos ninguém pedindo atas, exigindo eleições transparentes ou sancionando esse país.
O acirramento da situação política, a crise pela qual passa o imperialismo tem obrigado à esquerda pró-imperialista mostrar a cara. Se, até ontem, se escondia atrás de tergiversações, de malabarismos linguísticos, está sendo agora obrigada a mostrar a cara e dizer com todas as letras que apoia o imperialismo, que está ao lado do pior inimigo da classe trabalhadora.