Já se passou mais de um ano desde que Driss Mrani, fundador e presidente do Movimento Progressista Marroquino no Brasil, solicitou a renovação da sua Identidade Nacional junto à embaixada do Marrocos em Brasília. Ele seguiu todos os trâmites legais exigidos: coletou suas impressões digitais no complexo da Polícia civil de Brasília, apresentou a documentação necessária e pagou a taxa de serviço. Tudo como qualquer cidadão marroquino residente no exterior faria. No entanto, o que deveria ser um procedimento administrativo comum se transformou em um labirinto burocrático sem saída.

A embaixada havia prometido que o nova identidade chegaria entre um mes e dois meses. No entanto, o prazo foi ultrapassado há muito tempo — e até hoje, nada foi entregue. Na última ligação feita por El Marani à embaixada, na semana passada, ele recebeu uma resposta vaga: “Seu processo ainda está parado no Marrocos, sem explicações adicionais”. Essa situação o impede também de emitir um passaporte marroquino, limitando sua liberdade de locomoção — algo crítico para quem ocupa uma função de representação política internacional.

Oposição no exílio: entre o ativismo e a negação de direitos

Driss Mrani não é apenas um cidadão marroquino vivendo no exterior. Ele é uma das vozes mais ativas da oposição republicana ao regime monárquico do Marrocos, liderando um movimento político com sede no Brasil que denuncia a “Monarquia absoluta, a ditadura”. Essa postura crítica tem lhe custado caro: desde ameaças constantes de morte em comentários nos seus vídeos no YouTube, até ataques públicos como um artigo difamatório publicado pelo site Barlamane.com, vinculado a um alto funcionário do Ministério do interior Marroquino, e o mesmo artigo foi republicado ainda pelo site le360.ma vinculado a Mounir el Majidi secretário do Rei de Marrocos Mohamed sexto.

Apesar do cenário hostil, Driss Mrani continua participando de atividades internacionais. No entanto, já foi impedido de representar seu movimento em eventos importantes. No ano passado, foi convidado oficialmente a integrar a delegação brasileira em comemoração ao aniversário da Revolução Sandinista na Nicarágua — mas não pôde viajar por falta de documentos oficiais. Este ano, enfrenta a mesma barreira ao tentar acompanhar a delegação brasileira rumo aos campos de refugiados sarauís em Tindouf, na Argélia.

Isolamento burocrático e silêncio institucional

As tentativas de Driss Mrani não se restringiram às autoridades marroquinas. No Brasil, ele buscou apoio de diversos órgãos: o Ministério das Relações Exteriores respondeu que não pode intervir em assuntos de soberania de outro país. O Ministério dos Direitos Humanos encaminhou o caso à Controladoria-Geral da União, que por sua vez recomendou a Defensoria Pública. No entanto, após contatos iniciais, a Defensoria Pública de Santarém (Pará) simplesmente deixou de responder suas mensagens no WhatsApp — apesar de já estar acompanhando outro processo de Driss Mrani relacionado à demora na análise do seu pedido de refúgio político, que permanece pendente.

Hoje, Driss Mrani encontra-se privado dos direitos mais básicos como cidadão marroquino e como solicitante de refúgio político: sem identidade, sem passaporte, e sob constante ameaça por suas opiniões.

Uma causa que ultrapassa o caso individual

O caso de Driss Mrani levanta questões maiores sobre o tratamento dado a opositores políticos marroquinos no exterior, e sobre o uso de documentos oficiais como instrumento de repressão silenciosa. Também coloca em pauta a responsabilidade do Estado Marroquino com seus cidadãos no estrangeiro, e o papel dos países de acolhida — como o Brasil — na proteção mínima de quem sofre perseguição política.

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Last Update: 23/04/2025