
Depois que os presidentes da Câmara e do Senado Hugo Motta e Davi Alcolumbre traíram compromissos assumidos com o governo e surpreenderam com a aprovação sumária do Decreto Legislativo para anular o ajuste das alíquotas do IOF, o ministro Fernando Haddad conclamou: “Agora é hora de vestir o uniforme do embate, do bom debate público, do debate político”.
Aquilo que parecia ser uma derrota avassaladora do governo no IOF serviu como uma potente janela de oportunidade política.
A oposição tenta asfixiar o governo, inviabilizá-lo politicamente e programaticamente para, com isso, derrotar Lula ou a eventual candidatura do campo democrático apoiada por ele na próxima eleição.
O governo reagiu com contundência, vestiu o “uniforme do embate” e não se curvou à ofensiva da oposição direitista e extremista do Congresso que tem os olhos inteiramente voltados para a eleição de 2026.
O recurso ao Supremo para anular a decisão inconstitucional do Congresso se combina com fortes iniciativas políticas do próprio governo e da esquerda nas redes sociais e no debate público.
Essa postura de enfrentamento político assumida pelo governo desagradou os líderes do Congresso, a oposição parlamentar, entidades do grande capital, do rentismo, e a mídia hegemônica.

O processo deixou bem evidenciada a perspectiva comum da aliança partidária-midiática anti-Lula, que se materializa na candidatura direitista-bolsonarista de Tarcísio de Freitas, cujo compromisso número 1 na Presidência é indultar Bolsonaro, os militares e demais criminosos.
As ameaças de mais represálias ao governo no Congresso e as críticas vulgares à “sanha arrecadatória” escondem, na realidade, o temor dessas oligarquias dominantes e de sua mídia diante da inflexão política do governo.
O governo e o campo de esquerda levam enorme vantagem com o debate honesto e às claras sobre as alternativas para superar as obscenas desigualdades sociais e injustiças tributárias do país, por meio da tributação mínima de setores privilegiados que não pagam impostos ou pagam muito pouco — proporcionalmente, muito menos que os pobres e a classe média.
O governo não estava conseguindo esboçar uma reação eficaz às perdas de credibilidade e de popularidade.
Enfrentar política e ideologicamente a oposição, a mídia e os setores dominantes, a partir do debate nítido e da agitação das propostas escolhidas pelo povo brasileiro na eleição de 2022, cria a possibilidade de reversão desse cenário persistentemente desfavorável.
Tramitam no Congresso projetos que melhoram a vida da imensa maioria da população e têm enorme impacto político e eleitoral para o governo, como o fim da jornada 6×1, a isenção de imposto de renda para quem ganha até cinco mil reais, a PEC da Segurança e a isenção da conta de luz.
Não foi mera casualidade Hugo Motta, correligionário de Tarcísio de Freitas, entregar a relatoria do Projeto de Lei de isenção do imposto de renda a Arthur Lira, um bolsonarista mestre em manobras de sabotagem do governo Lula. Eles sabem a importância capital dessa promessa de campanha para Lula.
Esse Congresso de maioria ultraconservadora e reacionária só aprovará — isso se aprovar, o que é difícil — as matérias fundamentais para a plataforma do governo na eleição de 2026 se houver uma brutal pressão popular nas ruas, nas redes e sobre os parlamentares.
No contexto de embate político e programático com a maioria oposicionista no Congresso, ganha relevância a exigência de convocação de referendo popular sobre o aumento do número de deputados — medida rechaçada por mais de 70% da população e que coloca na defensiva os deputados e senadores que defendem cortes das verbas para os pobres enquanto aumentam o assalto ao orçamento da União e aos fundos públicos.
Publicado originalmente no blog do autor