Silas Malafaia reage à movimentação de políticos da direita e ameaça romper com quem abandonar Bolsonaro em meio à tensão pré-eleitoral
A explosiva declaração do pastor Silas Malafaia, acusando “urubus” de se articularem para aproveitar uma eventual prisão de Jair Bolsonaro, não é apenas um ataque a Tarcísio de Freitas e ao Centrão. É o sintoma de uma crise profunda que corrói a direita brasileira: a falta de um projeto político unificado além do bolsonarismo e a dependência tóxica de uma figura que, mesmo inelegível até 2030, segue como eixo de um movimento em decomposição .
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A ilusão do bolsonarismo sem Bolsonaro
Malafaia, em seu desespero, tenta vender a narrativa de que a prisão do ex-presidente o transformaria em “mais forte do que nunca”. A realidade, porém, é outra: o bolsonarismo já enfrenta uma erosão acelerada, com figuras como Pablo Marçal e até mesmo Tarcísio disputando seu eleitorado — enquanto o PL se apequena na defensiva judicial .
A ameaça de prisão não consolida poder; escancara a fragilidade de um movimento que nunca soube se organizar além do culto à personalidade.
O recado do pastor é claro: sem Bolsonaro, não há direita vitoriosa. Mas eis o paradoxo: o próprio ex-presidente, com sua ambivalência em campanhas como a de Ricardo Nunes em São Paulo, já demonstrou que seu capital político é volátil.
Malafaia, que em outubro de 2024 chamou Bolsonaro de “covarde” e “omisso”, agora tenta ressuscitar uma liderança em frangalhos .
O Centrão e a “direita prostituta”: o jogo do poder sem ideologia
A crítica velada de Malafaia a Kassab, Ciro Nogueira e Rueda revela outro nível da crise: a direita brasileira não tem rumo. O Centrão, definido pelo próprio pastor como “direita prostituta”, é pragmaticamente fiel a quem está no poder — seja Lula ou Bolsonaro .
Enquanto isso, figuras como Tarcísio tentam equilibrar-se entre o bolsonarismo raiz e a tecnocracia de mercado, sem oferecer nada além de um vago anti-petismo.
Não por acaso, Malafaia recorre a Michelle Bolsonaro como trunfo eleitoral: a aposta no sobrenome é a admissão de que o projeto bolsonarista esgotou-se como ideologia e sobrevive apenas como marca.
É a mesma lógica que levou a extrema-direita global a depender de figuras como Trump ou Milei — líderes que vendem ódio, mas não conseguem construir alternativas reais ao neoliberalismo que dizem combater .
A esquerda não pode subestimar a ameaça
Apesar da fragmentação, há riscos. A direita ainda mobiliza seu eleitorado através do medo: do “comunismo”, da “ditadura gay”, do “terrorismo ambientalista”.
Enquanto a esquerda se perde em debates sectários, a extrema-direita avança na guerra cultural, usando redes sociais e igrejas para viralizar mentiras .
O alerta de Malafaia, portanto, deve servir também como lição: é preciso combater não apenas Bolsonaro, mas o terreno que o produziu — o obscurantismo, o negacionismo e a desesperança que transformam crises em votos.
A prisão do ex-presidente, se ocorrer, não será o fim da direita, mas o início de uma batalha ainda mais complexa.
Cabe à esquerda oferecer não apenas denúncias, mas um projeto que enfrente a desigualdade e restaure a fé na política.
Como bem lembra Malafaia, até os “urubus” sabem: sem Bolsonaro, o campo está aberto. Resta saber quem o ocupará.