Uma operadora de turismo chinesa anunciou nesta segunda-feira 3 que abriu reservas para viagens a uma cidade fronteiriça da Coreia do Norte para celebrar o aniversário do ex-líder Kim Jong Il, oferecendo aos turistas estrangeiros a primeira oportunidade de visita desde a pandemia de Covid-19.
Operadoras de turismo já haviam informado em janeiro que a Coreia do Norte reabriria Rason, uma cidade na fronteira com a China, para turistas estrangeiros, cinco anos depois de Pyongyang ter fechado suas fronteiras em resposta à Covid. Nem a Coreia do Norte nem a China comentaram os planos.
Turistas chineses — que representavam a maioria dos visitantes estrangeiros na Coreia do Norte antes da pandemia — ainda não retornaram ao país, e especialistas especulam que isso pode estar ligado ao crescente descontentamento de Pequim com o fortalecimento das relações de Pyongyang com Moscou.
De acordo com Seul, Washington e Kiev, a Coreia do Norte enviou armas, munições e milhares de soldados para ajudar a Rússia na guerra contra a Ucrânia.
A Koryo Tours afirmou que a excursão de fevereiro a Rason será “a primeira viagem de volta à Coreia do Norte desde o fechamento das fronteiras em janeiro de 2020”.
“Este tour levará você aos pontos turísticos imperdíveis de Rason, a Zona Econômica Especial da Coreia do Norte. Além disso, você viajará para a Coreia do Norte para celebrar um dos maiores feriados, o aniversário de Kim Jong Il”, escreveu em seu site a agência de viagens, sediada em Pequim.
Os aniversários dos membros da dinastia Kim, que governa o país, costumam ser comemorados com grandes celebrações públicas na Coreia do Norte.
Dia da Estrela Brilhante
O aniversário do ex-líder Kim Jong Il — pai do atual governante Kim Jong Un — é marcado como o “Dia da Estrela Brilhante” em 16 de fevereiro e geralmente conta com grandes eventos públicos, incluindo desfiles militares.
Os itinerários oferecidos também incluem visitas a fábricas norte-coreanas, escolas e um banco onde os turistas podem abrir sua própria conta bancária na Coreia do Norte.
No entanto, apesar de a viagem estar aberta para reservas, ela “ainda não está confirmada”, informou a Koryo, acrescentando que aguarda “informações das autoridades chinesas sobre a abertura do lado chinês da fronteira”.
Os passeios começariam na China, de onde os visitantes seriam levados de carro até a fronteira com o país equipado com armas nucleares.
Outra agência de viagens, a Young Pioneer Tours, também anunciou pacotes turísticos para Rason em janeiro.
Rason tornou-se a primeira Zona Econômica Especial da Coreia do Norte em 1991 e tem servido como campo de testes para novas políticas econômicas. A cidade é lar do primeiro mercado legal do país socialista e possui um regime de visto separado do restante da Coreia do Norte.
O turismo para a Coreia do Norte já era limitado antes da pandemia, com empresas de turismo estimando que cerca de 5.000 turistas ocidentais visitavam o país anualmente. Os americanos foram proibidos de viajar para a Coreia do Norte após a prisão e morte do estudante Otto Warmbier em 2017.
Descontentamento chinês?
A Coreia do Norte fechou suas fronteiras no início de 2020 para impedir a propagação do coronavírus e, posteriormente, fortaleceu as defesas ao longo de sua fronteira norte com a China para impedir que seus próprios cidadãos entrassem novamente no país, de forma ilegal.
Desde então, Pyongyang reabriu a fronteira para parte do comércio e delegações oficiais, e no ano passado permitiu a entrada de turistas russos pela primeira vez desde a pandemia.
O envio por parte da Coreia do Norte de armamentos e soldados em apoio à Rússia na guerra contra a Ucrânia pode não ter agradado à China.
As ações de Pyongyang estão “desestabilizando não apenas a região do Nordeste Asiático, mas também a Europa”, disse Lee Dong-gyu, pesquisador do Instituto de Políticas Asan, à AFP.
“Do ponto de vista da China, as ações da Coreia do Norte podem impactar negativamente suas relações com os EUA ou países europeus, bem como sua recuperação econômica. Por isso, a China parece estar pressionando sutilmente a Coreia do Norte.”
Superficialmente, a China mantém a aparência de laços amigáveis com a Coreia do Norte, sua aliada de longa data, e não criticou publicamente os esforços de Pyongyang para estreitar relações com a Rússia.
“No entanto, por meio de medidas como restrições ao turismo ou pressões econômicas, a China parece estar sinalizando seu descontentamento”, acrescentou Lee.