Na madrugada desta quinta-feira (22), uma operação de um apoiador da Palestina nos Estados Unidos resultou na eliminação de dois funcionários da embaixada de “Israel” no país. Elias Rodriguez, 30 anos, atirou nos dois diplomatas sionistas enquanto saíam do Museu Judaico Lillian & Albert Small Capital na capital norte-americana.
O militante, de Illinois, Chicago, é o único suspeito da investigação policial sobre o caso. Logo após a eliminação dos sionistas, Rodriguez entrou no museu, onde foi detido pela equipe de segurança do evento do qual os diplomatas participavam. Segundo a polícia, ele não possuia antecedentes criminais e, no momento de sua prisão, gritava “Free, Free Palestina!” — que pode ser traduzido para o português como “Palestina livre!”.
“Uma vez algemado, o suspeito identificou onde ele descartou a arma, e essa arma foi recuperada, e ele implicou que cometeu o crime”, afirmou Pamela Smith, chefe da polícia metropolitana em conferência de imprensa.
Donald Trump, presidente dos Estados Unidos, condenou a operação como “horrível”, afirmando que não há espaço para “ódio” no país. “Esses horríveis assassinatos em Washington, DC, obviamente baseados em antissemitismo, devem acabar, AGORA!”, publicou em suas redes sociais na manhã de quinta-feira.
O presidente do Estado nazista de “Israel”, por sua vez, afirmou estar “devastado” com o ocorrido:
“Este é um ato desprezível de ódio, de antissemitismo, que tirou a vida de dois jovens funcionários da embaixada israelense”, disse Isaac Herzog.
Os sionistas eliminados foram identificados pela embaixada israelense em Washington como Yaron Lischinsky e Sarah Lynn Milgrim. Uma fonte alemã afirmou à agência de notícias AFP que o homem também possuia passaporte alemão.
Além disso, Yechiel Leiter, embaixador sionista nos Estados Unidos, informou que Lischinsky planejava pedir Sarah em casamento em Jerusalém ocupada, comprovando sua proximidade com a entidade israelense.
Gideon Saar, ministro de Relações Exteriores de “Israel”, reforçou a propaganda sionista em torno do “antissemitismo”. Ele afirmou que o tiroteio é resultado de uma “incitação antissemita tóxica contra Israel e os judeus ao redor do mundo” desde a heroica Operação Dilúvio de Al-Aqsa, em 7 de outubro de 2023.
No entanto, após a operação, foi publicada na Internet uma carta escrita por Elias Rodriguez na qual ele explica sua motivação. No texto, o militante pró-Palestina não deixa dúvidas de que a eliminação dos dois diplomatas sionistas foi um ato de denúncia contra o genocídio que o Estado nazista de “Israel” está perpetrando na Faixa de Gaza. Reproduzimos, abaixo, a carta na íntegra conforme tradução do Diário Causa Operária (DCO):
Explicação
20 de maio de 2025
Halintar é uma palavra que significa algo como trovão ou relâmpago. Na esteira de um ato, as pessoas procuram um texto para fixar seu significado, então aqui está uma tentativa. As atrocidades cometidas por israelenses contra a Palestina desafiam a descrição e desafiam a quantificação. Em vez de lermos descrições, geralmente assistimos a elas se desenrolarem em vídeo, às vezes ao vivo. Após alguns meses de números de mortos subindo rapidamente, Israel obliterou a capacidade de sequer continuar contando os mortos, o que serviu bem ao seu genocídio. No momento da escrita, o ministério da saúde de Gaza registra 53.000 mortos por força traumática, pelo menos dez mil jazem sob os escombros, e ninguém sabe quantos milhares mais morreram de doenças evitáveis, fome, com dezenas de milhares agora em risco de fome iminente devido ao bloqueio israelense, tudo possibilitado pela cumplicidade de governos ocidentais e árabes. O escritório de informação de Gaza inclui os dez mil sob os escombros com os mortos em sua própria contagem. Em reportagens, esses “dez mil” sob os escombros estão lá há meses, apesar da criação contínua de mais escombros e repetidos bombardeios aos escombros novamente e ao bombardeio de tendas em meio aos escombros. Como o número de mortos no Iêmen, que ficou congelado em algumas poucas milhares durante anos de bombardeio por Arábia Saudita-Reino Unido-EUA antes de ser finalmente revelado que era de 500 mil mortos, todos esses números são quase certamente uma subnotificação criminosa. Não tenho dificuldade em acreditar nas estimativas que colocam o total em 100.000 ou mais. Mais pessoas foram assassinadas desde março deste ano do que em “Margem Protetora” e “Chumbo Fundido” juntas. O que mais se pode dizer neste ponto sobre a proporção de seres humanos mutilados, queimados e explodidos que eram crianças. Nós, que deixamos isso acontecer, nunca mereceremos o perdão dos palestinos. Eles nos deixaram isso claro.
Uma ação armada não é necessariamente uma ação militar. Geralmente não é. Geralmente é teatro e espetáculo, uma qualidade que compartilha com muitas ações desarmadas. Protestos não violentos nas semanas iniciais do genocídio pareciam sinalizar algum tipo de ponto de virada. Nunca antes dezenas de milhares tinham se juntado aos palestinos nas ruas em todo o Ocidente. Nunca antes tantos políticos americanos tinham sido forçados a admitir que, retoricamente ao menos, os palestinos também eram seres humanos. Mas até agora a retórica não se traduziu em muito. Os próprios israelenses se gabam de seu choque com a liberdade que os americanos lhes deram para exterminar os palestinos. A opinião pública se voltou contra o estado de apartheid genocida, e o governo americano simplesmente deu de ombros — eles seguirão sem a opinião pública então, criminalizando-a onde puderem, sufocando-a com garantias insossas de que estão fazendo tudo o que podem para conter Israel onde não puderem criminalizar o protesto abertamente. Aaron Bushnell e outros se sacrificaram na esperança de parar o massacre e o estado trabalha para nos fazer sentir que seu sacrifício foi em vão, que não há esperança em escalar por Gaza e nenhum sentido em trazer a guerra para casa. Não podemos deixá-los vencer. Seus sacrifícios não foram em vão.
A impunidade que os representantes de nosso governo sentem ao ajudar nesse massacre deve então ser revelada como uma ilusão. A impunidade que vemos é pior para aqueles de nós em proximidade imediata aos genocidas. Um cirurgião que tratou vítimas do genocídio maia pelo estado da Guatemala relata uma ocasião em que ele estava operando um paciente que havia sido gravemente ferido durante um massacre quando, de repente, homens armados entraram na sala e mataram o paciente na mesa de operação, rindo enquanto o matavam. O médico disse que a pior parte foi ver os assassinos, bem conhecidos dele, desfilarem abertamente pelas ruas locais nos anos seguintes.
Em outro lugar, um homem de consciência tentou certa vez jogar Robert McNamara de uma balsa com destino a Martha’s Vineyard no mar, indignado com a mesma impunidade e arrogância que via naquele carniceiro do Vietnã enquanto ele se sentava no salão da balsa rindo com amigos. O homem se incomodava com a “postura” de McNamara, dizendo: “Minha história está bem, e eu posso ficar largado num bar assim com meu bom amigo Ralph aqui e você vai ter que engolir.” O homem não conseguiu lançar McNamara da passarela na água — o ex-secretário de estado conseguiu se agarrar ao corrimão e se levantar —, mas o agressor explicou o valor da tentativa dizendo: “Bem, eu o levei para fora, só nós dois, e de repente a história dele já não estava tão bem assim, não é?”
Uma palavra sobre a moralidade da demonstração armada. Nós, que somos contra o genocídio, encontramos satisfação em argumentar que os perpetradores e cúmplices perderam sua humanidade. Eu simpatizo com esse ponto de vista e entendo seu valor para acalmar a psique que não pode suportar as atrocidades que testemunha, mesmo mediadas pela tela. Mas a desumanidade há muito tempo se mostrou chocantemente comum, mundana, prosaicamente humana. Um perpetrador pode então ser um pai amoroso, um filho filial, um amigo generoso e caridoso, um estranho amável, capaz de força moral em momentos em que isso lhe convém e às vezes mesmo quando não, e ainda assim ser um monstro do mesmo jeito. A humanidade não isenta alguém da responsabilidade. A ação teria sido moralmente justificada se tivesse ocorrido 11 anos atrás, durante Margem Protetora, por volta da época em que eu pessoalmente me tornei agudamente consciente de nossa conduta brutal na Palestina. Mas acho que para a maioria dos americanos tal ação teria sido ilegível, pareceria insana. Estou feliz que hoje ao menos haja muitos americanos para os quais a ação será altamente legível e, de alguma forma estranha, a única coisa sensata a fazer.
Amo vocês, mãe, pai, irmãzinha, o resto da minha família, inclusive você, O*****
Palestina livre
Relembre o caso de Aaron Bushnell
Em 25 de fevereiro de 2024, um soldado da Força Aérea dos Estados Unidos se incendiou em frente à embaixada de “Israel” em Washington como protesto contra o genocídio na Faixa de Gaza. Ele afirmou: “não serei mais cúmplice do genocídio” e “estou prestes a me envolver em um ato extremo de protesto“. Aaron Bushnell publicou seu protesto ao vivo nas redes sociais.
Ele ainda afirmou: “em comparação com o que as pessoas têm vivenciado na Palestina nas mãos de seus colonizadores, isso não é extremo de maneira alguma. Isto é o que nossa classe dominante decidiu que será considerado normal“.
Bushnell foi levado às pressas para o hospital com “ferimentos críticos com risco de vida” e não sobreviveu. Ele foi o segundo cidadão norte-americano desde dezembro de 2023 a se autoimolar em frente à embaixada de “Israel”.
Sua última publicação nas redes sociais foi:
“Muitos de nós nos perguntamos ‘o que eu faria seu estivesse vivo na época da escravidão? Ou na época da segregação no Seul dos EUA? Ou durante o apartheid? O que eu faria se o meu país estivesse cometendo genocídio?’ A resposta é, você está fazendo. Neste momento“.
Na época, Rui Costa Pimenta, presidente do Partido da Causa Operária (PCO), durante participação no programa Análise Internacional, do DCO no YouTube, afirmou:
“Foi uma medida extrema. Não acho que o correto a se fazer seja isso, mas, sem dúvida nenhuma, é um protesto de uma pessoa consciente e, eu imagino, uma pessoa que ficou muito afetada moralmente, emocionalmente pelos horrores que o país dele está promovendo. Acho que a maioria das pessoas não fará nada parecido, mas acho que a maioria das pessoas que pensam e sentem o problema, acho que é difícil de conviver no mundo com o que está acontecendo na Palestina.“