O governo Donald Trump conseguiu retirar opositores do presidente Nicolás Maduro na sede diplomática da Argentina em Caracas, em uma operação surpresa deflagrada nesta terça-feira 6. 

O Brasil, que assumiu os trabalhos da representação argentina logo após a polêmica eleição de Maduro no ano passado, não tinha conhecimento da operação e, agora, tenta calcular a rota sobre a posição a ser tomada.

“Após uma operação precisa, todos os reféns estão em segurança em solo americano”, disse o secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, na rede X. “Estendemos nossa gratidão a todo o pessoal envolvido e aos parceiros que ajudaram a garantir a libertação desses heróis venezuelanos”, completou Rubio. 

No total, cinco pessoas foram retiradas da embaixada argentina em Caracas. Elas estavam no local desde março de 2024. Contrários ao governo Maduro, os opositores são ligados a María Corina Machado, líder da ala que faz contraposição ao mandatário. Eles se abrigaram na representação argentina depois que o Ministério Público da Venezuela os acusou de conspiração contra o governo.

Antes, eram seis asilados na embaixada. Um deles, Fernando Martínez Mottola, chegou a sair do local em dezembro de 2024, quando se apresentou às autoridades venezuelanas. Ele foi posto em liberdade condicional logo em seguida, mas faleceu no final de fevereiro por conta de problemas de saúde.

Ainda não há detalhes sobre como a operação se desenrolou nem sobre o destino dos opositores.

Como o Brasil assumiu a representação

A decisão do Brasil de assumir a segurança da sede diplomática argentina foi tomada no início de agosto de 2024, depois que o governo Maduro expulsou o corpo diplomático do país governado por Javier Milei e de outras nações sul-americanas. Na época, Maduro se via diante do ponto mais alto da pressão internacional contra o seu governo, acusado de manipular o resultado do pleito que assegurou o seu terceiro mandato na Venezuela.

Do ponto de vista diplomático, a mudança não significa que o Brasil tenha assumido para si as funções diplomáticas da Argentina. Na prática, o governo brasileiro se colocou na posição de administrar a instalação e os arquivos. Também cabe ao Brasil assegurar a proteção dos membros de oposição ao governo Maduro.

Esse movimento tem previsão legal, já que se baseia na Convenção de Viena sobre Relações Internacionais, de 1961, e na Convenção de Viena sobre Relações Consulares, de 1963.

Repercussão

Corina Machado usou as redes sociais para comemorar a saída dos opositores. No X, ela disse que houve “uma operação impecável e épica pela liberdade de cinco heróis da Venezuela”. “Meu infinito reconhecimento e gratidão a todos aqueles que tornaram isso possível”, afirmou. 

O governo argentino também comemorou a ação, chamando-a de “exitosa operação”. “O governo nacional aprecia profundamente os esforços feitos para garantir a segurança e o bem-estar daqueles que estão há muito tempo sob a proteção argentina da perseguição do regime de Nicolás Maduro. Esta ação representa um passo importante da liberdade na região”, disse a Casa Rosada. 

O governo Milei elogiou Rubio por seu “compromisso pessoal” na operação e não fez nenhuma menção ao Brasil nem ao presidente Lula (PT).

Lula, os opositores e Maduro

Apesar da operação ter sido inesperada, já não é de agora que os opositores que estavam na representação argentina se queixavam da falta de uma solução concreta. No final de abril, o grupo chegou a enviar uma carta a Lula, cobrando uma saída para o caso. 

“Hoje, completamos 404 dias desde que ingressamos nesta sede diplomática, e mais de 5 meses sem eletricidade nem água corrente, em condições que violam os direitos humanos básicos. Essa situação se agrava pelo cerco policial constante nos arredores da sede diplomática”, denunciava o grupo.

Os opositores também se queixavam do “silêncio” do governo brasileiro. “Em um contexto no qual a memória histórica e a justiça são valores defendidos pelo governo brasileiro, nós nos encontramos presos em um limbo, sem os salvo-condutos que são um direito dentro dos marcos dos convênios internacionais firmados. Imagine o que é passar mais de 5 meses sem eletricidade, sem água nas tubulações e com ameaças físicas constantes. O silêncio dói muito”, dizia a carta, que afirmava que a embaixada tinha sido transformada “em prisão”.

O Itamaraty ainda não se posicionou oficialmente sobre a operação. Lula, por sua vez, deve encontrar Maduro na Rússia, para onde embarcou na terça-feira. Ambos estarão ao lado do presidente Vladimir Putin no Dia da Vitória, na próxima sexta-feira 9, data que celebra o triunfo dos Aliados contra a Alemanha nazista na II Guerra Mundial. Será o primeiro encontro entre Lula e Maduro desde as eleições venezuelanas do ano passado, que instalaram conflitos diplomáticos entre o Brasil e o país vizinho.

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Last Update: 07/05/2025