
Perguntei, aqui no blog e no meu perfil no Facebook, como provocação, se um governo de Onyx Lorenzoni seria pior do que o governo de Eduardo Leite, mesmo com a ressalva de que, com Onyx, a extrema direita estaria mais fortalecida, como poder real e como força eleitoral no Estado.
O confronto sugerido é esse mesmo: no que o governo de Leite, como gestão, pode ser melhor do que seria um governo de Onyx Lorenzoni, se eles são tão parecidos? Os dois disputaram o segundo turno em 2022, e Leite foi reeleito com a votação maciça das esquerdas.
A propósito da provocação, recebi essa carta do sociólogo e amigo Rodrigo Ghiringhelli de Azevedo, que publico na íntegra:
“Caro Moisés. Li com atenção uma recente manifestação tua e, se me permites, gostaria de te responder com respeito e espírito de diálogo democrático. Caso consideres pertinente, sugiro inclusive a publicação desta carta como forma de estimular um debate mais qualificado sobre o futuro político do Rio Grande do Sul.
Em que pese todas as críticas que possam ser feitas ao governador Eduardo Leito, pelos mais variados motivos, uma coisa é indiscutível: um eventual governo de Onyx Lorenzoni no Estado teria sido significativamente pior do que a atual gestão.
E essa não é uma avaliação baseada em especulação, mas na observação do que ele representou como ministro de Jair Bolsonaro. O negacionismo científico, o desprezo pelas instituições, a hostilidade ao serviço público e o alinhamento com pautas ultraconservadoras colocariam em risco não apenas a qualidade das políticas públicas, mas a própria ordem democrática.
Nesse sentido, a vitória de Eduardo Leite em 2022 representou, sim, um limite imposto pelo eleitorado gaúcho ao avanço do bolsonarismo no plano estadual. É possível e necessário manter divergências em relação à política econômica do governo Leite e à limitação de investimentos em áreas sociais. No entanto, é também justo reconhecer que sua administração tem méritos importantes.
Leite não atrasou salários, enfrentou passivos históricos na máquina pública e conseguiu manter uma agenda de reformas com estabilidade fiscal. Essa combinação foi determinante para a retomada do crescimento econômico do Estado, mesmo diante de adversidades conjunturais.
Na área da segurança pública, os resultados falam por si: o programa RS Seguro tem sido apontado como uma política de referência nacional, com base na integração entre forças policiais, uso de tecnologia, territorialização das ações e forte componente de planejamento estratégico. Houve reduções expressivas e sustentadas em indicadores de homicídios, roubos e outros delitos que afetam a vida cotidiana da população.
Trata-se de um modelo que se distancia do populismo punitivista e aposta em inteligência, coordenação institucional e responsabilização legal — sem flertar com soluções autoritárias ou espetaculosas. Ademais, Leite nunca assumiu uma postura de confronto com o Poder Judiciário, mesmo quando criticado por setores da direita, tanto no plano estadual quanto nacional.

Manteve sempre a defesa da democracia e do Estado de Direito e não integra o campo bolsonarista. Basta lembrar que, nas eleições municipais em Pelotas, seu grupo político apoiou, no segundo turno, a candidatura de Fernando Marroni, do PT, em oposição ao bolsonarismo local. É justamente por isso que, olhando adiante, é preciso atenção redobrada com a disputa pelas duas vagas ao Senado em 2026.
O que está em jogo vai muito além das alianças regionais ou dos nomes postos: trata-se de impedir a formação de uma maioria bolsonarista capaz de ameaçar as instituições. Já há uma estratégia verbalizada por figuras centrais do bolsonarismo — inclusive os filhos do ex-presidente — para anular condenações por tentativa de golpe, por meio de anistia ou indulto, e revidar contra o STF.
Portanto, cabe à esquerda não apenas lançar uma candidatura ampla e eleitoralmente viável, mas também sinalizar, com maturidade política, a possibilidade de um acordo com setores democráticos do centro, para conter esse avanço. Diante desse cenário, o debate político no RS precisa ultrapassar o maniqueísmo e reconhecer as diferenças substantivas e o que efetivamente está em jogo no Brasil e no mundo diante do avanço de lideranças autocráticas e da crise das democracias.
Só assim será possível impedir retrocessos institucionais e preservar os valores democráticos que ainda sustentam o tecido republicano do país.
Grande abraço.
Rodrigo Ghiringhelli de Azevedo”.