Se Israel não liberar mais ajuda, milhares de crianças podem morrer em dois dias, alerta ONU; A pressão internacional cresce diante da urgência humanitária
O diretor de ajuda humanitária da ONU, Tom Fletcher, afirmou em entrevista à BBC nesta terça-feira (20) que cerca de 14 mil bebês podem morrer nas próximas 48 horas caso a assistência humanitária não seja ampliada urgentemente na Faixa de Gaza.
Há semanas, Israel mantém um rigoroso bloqueio à região, impedindo a entrada de alimentos, combustível e medicamentos desde 2 de março — medida que a ONU classificou como um “preço desastroso” para a população palestina.
No domingo, o governo israelense começou a permitir a entrada limitada de ajuda, mas, segundo Fletcher, os cinco caminhões que chegaram na segunda-feira representam apenas uma “gota no oceano” diante da necessidade real. Ele exige que a comunidade internacional “inunde Gaza com assistência humanitária” antes que seja tarde.
Apesar da liberação parcial, os suprimentos ainda não estão alcançando as comunidades mais afetadas. Fletcher espera que 100 caminhões consigam atravessar a fronteira ainda nesta terça-feira, mas reconhece os desafios: “Será difícil. Somos impedidos em todos os pontos. Mas vamos carregá-los com comida para bebês e nosso pessoal correrá esses riscos”, declarou.
“Quero salvar o máximo possível desses 14 mil bebês nas próximas 48 horas”, enfatizou o secretário-geral adjunto da ONU durante a entrevista ao programa Today da BBC.
Questionado sobre como a organização chegou ao número de 14 mil crianças em risco, Fletcher explicou que equipes locais — muitas das quais já foram mortas — estão avaliando a situação em hospitais e escolas. “Ainda temos pessoas no terreno tentando medir a necessidade”, disse.
O dirigente elogiou a recente declaração conjunta de Reino Unido, França e Canadá, que criticaram Israel, e afirmou que o “verdadeiro teste” da disposição israelense em facilitar a ajuda está ocorrendo agora. “Exigimos que o mundo nos apoie para pressionar Israel a permitir mais assistência e salvar vidas”, declarou.
Na segunda-feira (19/05), o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, admitiu que a decisão de liberar uma quantidade “mínima” de ajuda após 11 semanas de bloqueio foi resultado da pressão internacional. “Não podemos permitir a fome, tanto por questões práticas quanto diplomáticas”, afirmou, citando a preocupação de aliados com “imagens de fome em massa”.
Israel justifica o cerco como uma medida de pressão contra o Hamas, que ainda mantém 58 reféns — estima-se que até 23 estejam vivos. O governo acusa o grupo de desviar ajuda humanitária, alegação negada pelos militantes.
Netanyahu afirmou que, até que as Forças de Defesa de Israel (IDF) estabeleçam uma “área segura” para distribuição de alimentos e remédios, apenas uma quantidade “mínima e básica” será permitida para evitar a fome.
Enquanto isso, palestinos no norte de Gaza relatam à BBC dificuldades extremas para encontrar comida e temem que a ajuda recentemente liberada não chegue até eles.
“Não conseguimos encontrar um pedaço de pão para nossos filhos… Como vamos buscar ajuda no sul? Estamos vivendo uma tragédia”, desabafou um morador da Cidade de Gaza.
Outros descrevem cenas de desespero: “As pessoas estão desmaiando de fome. Não há lentilhas, arroz, farinha ou vegetais. Ninguém tem dinheiro para comprar um tomate”.
Abu Salem, outro residente, implora por itens básicos: “Precisamos de óleo, açúcar, gasolina… e, acima de tudo, comida para as crianças”.
Com a situação se agravando a cada hora, a ONU reforça o apelo por uma abertura humanitária imediata antes que mais vidas sejam perdidas.