
O secretário-geral da ONU, António Guterres, fez um apelo urgente nesta sexta-feira (23), criticando duramente a quantidade de ajuda humanitária liberada por Israel para a Faixa de Gaza. Segundo ele, o volume atual é insignificante: “Equivale a uma colher de chá”, quando o que se precisa, segundo o dirigente, é uma “enxurrada de assistência”. Guterres alertou que, sem acesso rápido e seguro, mais mortes ocorrerão e os danos à população serão profundos e duradouros.
Desde a reabertura da passagem de Kerem Shalom, na última segunda-feira (19), cerca de 300 caminhões conseguiram entrar em Gaza — número bem abaixo dos 500 necessários diariamente antes da guerra. A distribuição dos suprimentos, no entanto, enfrenta grandes obstáculos logísticos, com estradas destruídas e falta de combustível, o que tem dificultado o transporte dos itens dentro do território.
Israel, por sua vez, alega que o grupo Hamas estaria desviando parte da ajuda humanitária, argumento usado para restringir ainda mais os envios. Em vez de ampliar a liberação, o governo israelense aposta na implementação de um novo modelo de distribuição, apoiado pelos Estados Unidos e gerido por empresas privadas, com previsão de operação para o final do mês.
A proposta é vista com ceticismo por organizações internacionais.

A ONU já afirmou que não participará do novo plano por considerá-lo contrário aos princípios humanitários fundamentais. “Não estaremos envolvidos em nenhum esquema que desrespeite o direito internacional ou os princípios de imparcialidade, independência e neutralidade”, reiterou Guterres. Segundo ele, há um plano da própria ONU pronto para ser executado, com 160 mil paletes de suprimentos à espera de liberação — o suficiente para encher 9 mil caminhões.
A pressão internacional sobre Israel aumentou nos últimos dias.
A Alemanha considerou a ajuda “muito pouca, muito tarde e muito lenta”, e o Reino Unido defendeu um cessar-fogo imediato, além da libertação dos reféns. “Precisamos que grandes quantidades de ajuda cheguem imediatamente ao povo palestino em Gaza”, disse o ministro das Forças Armadas britânico, Luke Pollard.
A França também rebateu acusações de Netanyahu, que acusou países ocidentais de apoiarem o Hamas por criticarem a política israelense. “Não confundimos o povo israelense com as decisões do governo de Binyamin Netanyahu”, respondeu a porta-voz Sophie Primas. Enquanto isso, a crise humanitária em Gaza se agrava a cada dia, com relatos de fome, colapso sanitário e colapso logístico generalizado.