Brasília foi palco da 5ª Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação, um evento aguardado há 14 anos, desde a última edição realizada em 2010 durante o segundo governo de Luís Inácio Lula da Silva. Desta vez, o cenário apresenta uma nova perspectiva com o retorno de Lula à presidência, trazendo uma abordagem renovada e estratégica para a ciência e tecnologia no Brasil.
Para discutir os impactos e as expectativas dessa conferência, o Entrelinhas Vermelhas entrevistou Olival Freire Jr., físico, historiador da ciência, diretor científico do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e professor titular de Física da Universidade Federal da Bahia (UFBA).
A importância da 5ª Conferência
Segundo Freire Jr., a realização da conferência após um hiato de 14 anos representa o início de um novo ciclo político no Brasil. “A conferência é um marco importante devido à imensa mobilização da sociedade brasileira para debater como a ciência e a tecnologia podem contribuir para o desenvolvimento social, econômico e ambiental do país”, afirmou. Ele destacou a participação de 1.200 pessoas na conferência final e a preparação que envolveu cerca de 100 mil pessoas em quase 200 conferências preparatórias.
Avanços e diferenças do novo governo
Freire Jr. destacou que a inclusão da ciência e tecnologia na PEC da transição foi uma decisão política crucial de Lula, permitindo reajustes nas bolsas de estudo, recomposição do orçamento do CNPq e contratação de novas bolsas. “Nos primeiros meses do governo Lula, vimos um claro compromisso com a ciência e tecnologia, revertendo a política de desmonte do governo anterior”, explicou.
O impacto do negacionismo científico
Freire Jr. alertou sobre os efeitos negativos do negacionismo científico, especialmente durante a pandemia de covid-19. Ele observou que o negacionismo não apenas prejudicou a resposta imediata à crise sanitária, mas também desencorajou jovens a seguir carreiras científicas. “O futuro do desenvolvimento científico no Brasil depende de termos um número expressivo de jovens talentosos atraídos pela ciência”, afirmou.
Produção científica e a fuga de cérebros
Em relação à queda na produção científica brasileira, Freire Jr. mencionou que a pandemia impactou o número de doutores formados, mas que outras causas também podem estar em jogo, incluindo o desencanto com a carreira científica.
Posicionamento do Brasil no cenário global
Freire Jr. destacou áreas onde o Brasil tem excelência científica, como petróleo, aeronáutica, agronomia e saúde pública. No entanto, ele ressaltou que esses avanços não são suficientes para os desafios do país. “Precisamos de estabilidade nas políticas de apoio à ciência e tecnologia e uma continuidade assegurada também a uma estabilidade financeira”, concluiu.
A 5ª Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação encerra com um sentimento de renovação e otimismo, refletindo um compromisso renovado do Brasil com a ciência e tecnologia como pilares essenciais para o desenvolvimento sustentável e soberano do país.