Na manhã desta quinta-feira (3), cerca de 300 ativistas da Frente Povo Sem Medo ocuparam o saguão do edifício do Itaú BBA, na Avenida Faria Lima, em São Paulo. Com faixas, cartazes e palavras de ordem como “O povo não vai pagar a conta” e “Chega de mamata”, o protesto denunciou a inequidade fiscal no Brasil e exigiu a taxação dos super-ricos.
Simultaneamente ao ato na Faria Lima, mais de 70 organizações sociais, sindicais e populares lançaram a carta “Em defesa da justiça tributária e pelo fim dos privilégios”, que denuncia o sistema fiscal brasileiro por penalizar os mais pobres e proteger os mais ricos.
O local escolhido para a ação não foi casual. Com fachada envidraçada e avaliado em R$ 1,5 bilhão, o prédio é símbolo do poder financeiro do país — e do abismo social que o acompanha. A manifestação durou cerca de uma hora e foi acompanhada por forte repercussão nas redes sociais.
“Ocupar o coração do mercado financeiro é uma denúncia clara: os donos do Itaú pagam menos imposto que a maioria do povo brasileiro, que luta para pagar aluguel e comida”, declarou o Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), que compõe a frente.
Contra o “Centrão inimigo do povo”

A ação marca o início de uma jornada de mobilizações populares que culminará no próximo dia 10 de julho, com ato na Avenida Paulista, em frente ao MASP, convocado pelas Frentes Povo Sem Medo e Brasil Popular sob o mote “Centrão inimigo do povo”.
O estopim foi a derrota sofrida pelo governo Lula na Câmara dos Deputados, que derrubou a proposta de aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) — medida voltada a aumentar a taxação sobre especuladores financeiros. Em resposta, foi lançada a campanha “Taxação BBB” (bilionários, bets e bancos), e o próprio presidente Lula levantou um cartaz pela “taxação dos super-ricos” em evento na Bahia, nesta quarta (2).
Manifesto por justiça tributária
A carta “Em defesa da justiça tributária e pelo fim dos privilégios”, tem entre os signatários entidades como UNE, CMP, MST, MTST, IBASE, INESC, DIEESE, Oxfam Brasil, MNU, UBM e Marcha Mundial das Mulheres. O documento cobra:
- Isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil;
- Tributação de quem ganha mais de R$ 50 mil por mês;
- Taxação de lucros e dividendos, fundos de investimento e empresas exportadoras;
- Revisão das renúncias fiscais, que chegam a 4,8% do PIB;
- Fim dos supersalários no Judiciário e Forças Armadas;
- Limitação das emendas parlamentares, que ultrapassam R$ 50 bilhões ao ano.
“O Congresso atua como guardião dos privilégios das elites econômicas e políticas”, afirma a carta. “Querem empurrar para o povo a conta de um sistema desigual.”
Resistência no campo e nas cidades

O documento e as mobilizações também expressam preocupação com cortes orçamentários em áreas sociais, uma possível nova reforma da Previdência, e a tentativa de desvincular aposentadorias do salário mínimo.
O movimento ganha força ao mesmo tempo em que o campo e as periferias urbanas sentem os efeitos da exclusão fiscal. O temor é de que o desmonte social também avance por via fiscal, favorecendo o rentismo e sacrificando os serviços públicos.
“Plebiscito Popular Por um Brasil Mais Justo”
As entidades também anunciaram o lançamento do Plebiscito Popular Por um Brasil Mais Justo, que vai até o dia 7 de setembro. A consulta nacional deve reunir milhares de votos populares sobre três eixos principais:
- Isenção do IR para quem ganha até R$ 5 mil;
- Taxação de quem ganha mais de R$ 50 mil mensais;
- Fim da jornada 6×1 de trabalho.
A proposta inclui mobilizações em universidades, escolas, centros comunitários e feiras livres, com cartilhas de orientação e pontos de votação organizados por movimentos populares.
Mercado calado, sociedade em ebulição
Procurado pela imprensa, o Itaú preferiu não comentar a manifestação. Enquanto isso, nas redes sociais, as imagens da ocupação viralizaram como um chamado à ação contra a desigualdade.
Para os organizadores, o protesto na Faria Lima foi apenas o início de uma série de ações. “Não é possível que quem lucra bilhões fique fora do esforço coletivo para financiar o país”, afirma Guilherme Boulos, liderança do MTST. “O Brasil não pode continuar sendo um paraíso fiscal para bilionários e um inferno tributário para o povo.”
A mobilização segue com um recado direto ao Congresso: ou o sistema tributário será reformado, ou a pressão das ruas aumentará. Como diz o manifesto que circula entre os militantes: “Se o povo não tem vez no orçamento, vai ter voz na mobilização.”