Na última terça-feira (30), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) voltou a criticar o genocídio praticado pelo governo de Israel contra os palestinos, em especial na Faixa de Gaza, área em que a população de 2,2 milhões de pessoas sofre com ataques constantes e privação de alimentos e serviços essenciais. 

Para repercutir o posicionamento do governo brasileiro e analisar possíveis alternativas para debater o fim do conflito, o programa Observatório de Geopolítica da última terça-feira contou com a participação de Ualid Rabah, presidente da Federação Árabe Palestina do Brasil (Fepal), e da doutora e mestre em Ciência Política pela Universidade de São Paulo Natália Calfat.

Apresentador desta edição, o jornalista e doutor em ciência política Bruno Beaklini contextualizou o cenário do Brasil em relação ao conflito, uma vez que apesar das recorrentes críticas de Lula, o governo enfrentaria grande dificuldade para propor medidas como o embargo total do comercio, tendo em vista que a bancada evangélica no Congresso, que soma cerca de 200 votos, é, pelo menos, 90% sionista. 

“Ainda assim, tivemos ao longo dessa semana a posição unificada da Federação Única dos Petroleiros, da Federação Nacional dos Petroleiros, as duas federações das bases da Petrobras, exigindo o embargo imediato do petróleo brasileiro para o Estado sionista. E também dados alarmantes de um crescimento exponencial da venda de aço para o Estado sionista”, acrescenta o jornalista. 

Beaklini, no entanto, ressalta que “nada se compara às 90 mil toneladas enviadas pelos Estados Unidos a Israel”, o equivalente a 45 quilos de bombas para cada palestino vivo na  Faixa de Gaza.

Para Natália Calfat, a posição de Lula não é novidade, mas continua enfático, especialmente ao demonstrar que a ação de Israel não é uma guerra, mas sim um genocídio de mulheres e crianças, uma vez que está sendo usada a fome como arma de guerra. 

“Então, essa ideia de privação de alimento é estruturante no entendimento de crime de guerra e desse uso de crime humanitário, né, isso ele frisou bastante”, disse a doutora.

Outro ponto de atenção e inédito no discurso do presidente foi, para Natália, o de que Israel precisa superar o seu vitimismo, tendo em vista que nem tudo é antissemitismo.

Nas últimas semanas, reportagens apontaram que as tropas de Israel estariam usando a distribuição de ajuda humanitária como armadilha para matar civis, além de alertas da Organização das Nações Unidas (ONU) para a gravidade da desnutrição imposta à população, especialmente crianças, que poderia levar à morte 14 mil bebês graças à proibição da entrada de suprimentos na Faixa de Gaza. 

Tais notícias fizeram com que até potencias europeias se juntassem aos defensores do reconhecimento do Estado Palestino. 

No entanto, além do discurso, o governo Lula teria pouca força para adotar outras medidas.

“As relações comerciais eu imagino que o presidente não possa abandonar por completo.  Mas eu acho que, para que o discurso tivesse um pouco mais coerente com a prática, pelo menos, alguns boicotes estratégicos seriam necessários. Não acho que haja cegueira em relação a isso, eu simplesmente acho que há incapacidade, falta de força política, incapacidade doméstica para bancar”, continua a doutora.

Embaixada

Presidente da Fepal, Ualid Rabah criticou a representação diplomática israelense no Brasil, tendo em vista que a embaixada se posiciona de uma maneira absolutamente avessa aos protocolos diplomáticos mínimos, “quase como um partido político de oposição”.

“Ela, em primeiro lugar, dá a entender que o presidente Lula é uma pessoa inepta, mentalmente deficiente, possivelmente, ao dizer que o presidente Lula não deveria se deixar levar pela propaganda e notícias falsas da organização terrorista Hamas. Ou seja, a totalidade dos relatórios da ONU e de outras organizações, inclusive israelenses, que apontam que nós já ultrapassamos o número de 66 mil mortos na faixa de Gaza, o equivalente a 2,99% da sua demografia […] isso é falso”, critica Rabah.

Segundo os representantes israelenses, imagens de duas crianças mortas ao buscar um saco de farinha seria invenção ou encenadas. “É inacreditável a ousadia da nota apresentada pela embaixada israelense. Eu não sei que regime na história humana teria tido a coragem de emitir um documento desta espécie. E eles continuam dizendo, infelizmente, tem quem compre essas mentiras.”

Assim como Natália Calfat, Ualid Rabah defende rompimentos das relações e parcerias de instituições brasileiras com instituições israelenses, a partir, por exemplo, das universidades – que clamam pelo fim das relações diplomáticas e comerciais do Brasil, mas mantém colaborações com institutos de ensino israelenses. 

“Está também em construção, no mundo todo, uma tentativa de isolar Israel, a partir de iniciativas não necessariamente de governos e de estados estatais centrais. Por exemplo, várias regiões na Itália estão rompendo com Israel. Algumas regiões da Espanha, Barcelona, por exemplo, anunciaram o rompimento com Israel. A totalidade das universidades públicas espanholas anunciaram o rompimento com Israel”, sugere.

O país poderia, no mínimo, rebaixar as relações comerciais com Israel para impedir a venda de produtos estrategicamente importantes para a indústria bélica. 

Confira o programa Observatório de Geopolítica na íntegra:

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Last Update: 04/06/2025