Israel não teria atacado o Irã sem o apoio dos Estados Unidos, até porque o novo conflito é uma guerra que os israelenses não têm condições de vencer sozinhos. Esta é uma das conclusões de Salem Nasser, professor da Faculdade de Direito da FGV-SP, sobre os ataques que podem virar uma guerra nuclear e aumentar a tensão no Oriente Médio. 

Convidado do programa Observatório de Geopolítica da última segunda-feira (16), Nasser iniciou sua contribuição relembrando que os brasileiros devem desconsiderar as notícias da mídia tradicional, tendo em vista que a partir deste ponto de vista, ficariam com a impressão de que o Irã deu início à guerra ao atacar Israel, especialmente porque iranianos teriam um programa para fins militares – mentira já adotada nos anos 1990 e 2000 para justificar a invasão do Iraque, em 2003. “E aí, depois de um tempo, a gente descobre que era tudo mentira, que eles sabiam que não tinha armas, que o próprio [ex-presidente dos Estados Unidos George W.] Bush ia confessar isso, que o próprio [ex-ministro do Reino Unido Tony] Blair ia confessar.”

Assim, a agência que informa que o Irã não cumpre o programa militar provavelmente, segundo Nasser, mente. Até porque, tal desculpa seria apenas um pretexto para que a guerra em Gaza se expandisse até o Irã, uma vez que o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu precisa de novos conflitos para se manter no poder. 

“Por mais que eles possam cantar vitória, que eles destruíram o Hamas, que eles destruíram o Hezbollah, que eles enfraqueceram o Irã, que é o que eles diziam até anteontem, e que eles vão conseguir tirar os palestinos de Gaza e tudo mais, o fato é que, quando terminasse essa guerra e começassem a fazer os balanços, eles iam perceber: primeiro, que eles perderam reputação no mundo inteiro, perderam apoio, perderam legitimidade, mas, ainda por cima, restava inteiro o poder do Irã como potência regional, que para eles não pode existir, é um risco existencial, não por causa de uma pretensa bomba nuclear, mas é porque qualquer existência de um país poderoso perto de Israel é vista por eles como uma ameaça ao projeto sionista e americano”, continua o professor da FGV.

Nasser, então, relembra que os israelenses precisavam que a guerra chegasse ao Irã, mas só não o fizeram antes porque Israel não tinha condições de atacar os iranianos sozinho. “Então, a gente sempre estava esperando o momento em que Israel atacaria o Irã e aí forçaria os Estados Unidos a entrarem na guerra. E esse momento chegou agora, com essa coisa do relatório da IAA, com o fato de que as potências ocidentais têm um prazo curto para lidar com o tema iraniano, porque aquele acordo que os iranianos fizeram com o Obama em 2015, o JCPOA, que era o acordo nuclear, termina em outubro deste ano. Então, se até outubro deste ano ninguém fizer nada, o Irã fica livre para fazer absolutamente o que quiser, ele não está mais ligado pelo acordo de 2015, certo? Então, não tem mais sanções e o Irã não precisa mais cumprir aquelas coisas restritivas que ele tinha aceitado para si, para além do tratado de não-proliferação nuclear.”

Trump

Ainda que contem com o apoio dos EUA, israelenses não devem contar com a entrada dos norte-americanos na guerra contra o Irã, na avaliação do entrevistado. “Se os Estados Unidos forem fiéis à palavra do Trump até este momento, os Estados Unidos não vão entrar na guerra, digamos, na ofensiva contra o Irã. Então, aí não vai ter outra alternativa senão Israel recuar.”

Neste contexto, o tempo trabalha a favor do Irã. “E aí nós vamos começar a fazer as contas de qual ficou sendo o equilíbrio na região. Até agora, o Irã está falando bastante grosso, que o objetivo agora da operação iraniana é destruir a capacidade ofensiva de Israel. Isso quer dizer que eles estão querendo destruir muita coisa em Israel. Estou falando de alvos militares. Então, agora nós vamos ver como é que os americanos vão se portar, e é claro, o Ocidente. Mas acho que nós estamos vivendo um momento histórico, em que você vai ter um antes e um depois no reequilíbrio do jogo de poder mundial.”

Outro ponto favorável aos iranianos é o fato de que o ataque israelense deixou outros países em alerta, a exemplo da Rússia, China e Paquistão – este último declarou apoio ao Irã e também conta com um programa nuclear.

Confira a entrevista na íntegra:

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Last Update: 17/06/2025