O varejo alimentar brasileiro, os supermercados, somam mais de 410 mil pontos de vendas. O setor tem um faturamento superior a 1 trilhão de dólares e gera mais de nove milhões de empregos diretos e indiretos. Mas o grande número é esse: 30 milhões de pessoas passam diariamente pelas lojas do varejo alimentar. Os dados são da Abras – Associação Brasileira de Supermercados. Potencialmente, pouco mais da metade desses frequentadores votaram em Lula. Pouco menos em Bolsonaro. Se o olhar for para a recente pesquisa sobre a aprovação do governo, da Genial/Quaest, realizada entre 23 e 26 de janeiro, 49% dos frequentadores diários avaliam negativamente a gestão contra 47% que avaliam positivamente.
Na mesma data foi realizada uma pesquisa de intenção de votos, divulgada hoje, 3 de fevereiro. Lula aparece na frente em todos os cenários e seria reeleito. Coincidência (ou não) é a rejeição ao nome de Lula: 49%, o mesmo valor que aparece na pesquisa de desaprovação do governo. A maior base de apoio a Lula é formada por moradores do Nordeste, pretos, pessoas que ganham até dois salários-mínimos, com 60 anos ou mais. São pessoas que estavam ativas no mercado de trabalho no primeiro mandato de Lula e tiveram uma experiência economicamente positiva. Mudaram sua condição social e aguardam que isso aconteça novamente.
Acrescente-se ao caldeirão o estudo desenvolvido pela LCA Consultores, a partir de dados do Banco Central e do Dieese, que esclarece alguns dados importantes para essa análise. Tendo como base o poder de compra de um salário-mínimo, em novembro de 2024 a relação era de 1,7 cesta básica. Entre 2010 e 2019, antes da pandemia, a relação foi de 2,07 na média. Com o início da guerra da Ucrânia, chegou a bater míseros 1,51 em abril de 2022. A projeção é de manutenção da relação atual em 2025. Se a comparação for feita com o rendimento médio do trabalho nominal, também há queda no poder de compra.
A frequência de ida aos supermercados constrói a experiência de aumento de preços. Especialmente para a população de baixa renda, ela é de alto impacto. Corrói o poder de compra e está escancarada a cada dia. A estimativa é de que os brasileiros frequentem em média o ponto de venda duas vezes por semana. Se fosse um plano de comunicação, diríamos que todos são impactados, em média, oito vezes por mês pelo tema dos preços dos alimentos. Supermercados são áreas de convivência. As pessoas conversam entre si. Idosos, em especial, conversam com os caixas. Essa experiência tem ainda um elemento de frequência. Significa que o contato com os preços é constante e a variação percebida. O problema vai muito além da percepção do aumento. É uma experiência negativa revivida com frequência e com troca de informações semanalmente.
O aumento dos combustíveis deve promover um impacto negativo, elevando o custo da logística de produtos, inclusive alimentícios. O preço dos alimentos não é resultado direto de uma ação governamental. Existem oscilações na economia mundial, as variações climáticas e algum peso – não o maior, do mercado interno. Isso é uma má notícia. Conter os aumentos será uma tarefa árdua e com força limitada. Não resta dúvida da opção do governo em resolver esse problema. A caixa de ferramentas foi aberta. A questão é saber quais são as melhores para resolver problemas que não estão ao seu alcance. E compreender que a experiência cotidiana tem que se tornar positiva.
Para ouvir enquanto lê:
Para entender a guerra das IAs a partir das guerras
O mercado é uma guerra. Guerras, sabemos, têm fundamento econômico. Não são disputas por hegemonias ideológicas vazias. O poder é o dinheiro. As guerras continuam promovendo catástrofes humanitária e fome. Absurdos e sangue jorram em bombas. As consequências todos conhecemos. Destruição é destruição em qualquer canto. Tecnologias são diferentes.
A invenção do avião, das metralhadoras, dos foguetes e dos drones explosivos estão no barco da tecnologia. A inteligência artificial também. Com uma vantagem. Diferente de tiros e estilhaços, não recicláveis, ela permanece como um bem que se aprimora durante os confrontos. Os serviços de contraespionagem, as ações de desinformação, antes aconteciam com folhetos lançados de aviões e helicópteros. Hoje elas estão nas redes sociais. A IA pode manter, no universo digital, vivos os mortos. Matar nas plataformas sociais quem está vivo. Uma imagem pode valer mais do que mil bombas. As possibilidades são imensas. Assistimos guerras em lives. Mísseis e drones viajam milhares de quilômetros.
A indústria bélica movimentou em 2023, segundo dados do Instituto Internacional de Pesquisa para a Paz de Estocolmo, valores superiores a 2,4 trilhões de dólares, o que representa 2,3% do PIB global. É praticamente o mesmo número do PIB brasileiro. Os EUA continuam muito à frente da China, o segundo colocado em despesas militares. O total americano chega a 916 bilhões de dólares, cerca de três vezes o gasto chinês.
As cinco maiores empresas em faturamento com a venda de armas são americanas. O negócio rendeu para elas um faturamento médio de 188 bilhões de dólares. Das cem maiores, quarenta e uma são empresas dos EUA e nove da China. Em comum, seus negócios são baseados em altíssima tecnologia e inovação. O mercado da guerra cresce com as guerras e com o temor delas.
A inteligência artificial tem potencial para incrementar esse mercado de maneira exponencial. Em primeiro lugar, ajudando na assertividade. Dados e mais dados compilados, cruzados e operacionalizando decisões em fração de segundos. Tempo é dinheiro. E dinheiro é o alvo.
O uso da inteligência artificial já permite controlar carros, máquinas e tanques. Prever o tempo e o poder de destruição de uma bomba em uma área. Simular um ataque com a possibilidade de estabelecer a reação do inimigo a partir das reações anteriores. O problema é que máquinas decidem como máquinas. Não existem padrões éticos ou morais.
A importância dada para a inteligência artificial e seu uso benéfico está revestida de interesses que surgem dos recentes anúncios de investimentos em infraestrutura para geração de eletricidade. Apenas a Stargate, joint venture anunciada com pompa por Trump, envolvendo a OpenAI, SoftBank e Oracle, estima um investimento em 500 bilhões de dólares em 4 anos. A inteligência artificial é uma fronteira da guerra pela competitividade em todos os campos. No da indústria de armamentos inclusive.