A magnitude do futuro VLT de Salvador é impressionante.

Entre os sistemas brasileiros, os modelos mais comparáveis em termos de tecnologia e extensão são o VLT do Rio de Janeiro e o da Baixada Santista.

O VLT do Rio, inaugurado em 2016, conta com 28 quilômetros de trilhos, 30 estações e atende cerca de 80 mil passageiros por dia, utilizando tecnologia de alimentação elétrica pelo solo, sem catenárias aéreas. O sistema da Baixada Santista opera atualmente com 11,1 quilômetros e 15 estações, transportando aproximadamente 35 mil pessoas diariamente.

O VLT de Salvador, por sua vez, representa um salto em escala e capacidade: serão 36,4 quilômetros de extensão, 34 estações e previsão de atendimento para até 150 mil passageiros por dia, tornando-se o maior sistema do país no segmento de VLTs modernos.

Quando se observa o cenário internacional, no entanto, a escala brasileira, em tudo que se refere a transporte sobre trilhos, ainda é modesta.

Nos Estados Unidos, os trilhos já foram protagonistas do desenvolvimento urbano e econômico. Em 1916, o país possuía mais de 400 mil quilômetros de ferrovias, conectando praticamente todos os estados e cidades importantes. Foi nesse contexto que Walt Whitman escreveu: “Os trilhos são as veias de aço por onde corre o sangue da civilização moderna.”

Com a hegemonia do automóvel e a expansão das rodovias a partir da década de 1950, a malha ferroviária americana foi drasticamente reduzida, e hoje, embora ainda exista uma grande rede para cargas, o transporte de passageiros perdeu espaço e relevância no país.

Em contraste, as cidades que mantiveram suas antigas linhas de bonde elétrico e as transformaram em VLTs modernos alcançaram notáveis avanços em mobilidade. Toronto, por exemplo, opera uma das maiores redes de bondes elétricos da América do Norte, com cerca de 83 km de extensão, integrando-se ao metrô e transportando, em média, mais de 620 mil passageiros por dia apenas nos modais sobre trilhos. Em São Francisco, o sistema Muni, que inclui bondes históricos e linhas modernas de VLT, registra uma média de 486 mil viagens diárias em dias úteis, com uma rede de cerca de 61 km de trilhos.

Na Europa, cidades como Bruxelas, Paris e Berlim modernizaram suas antigas redes de bondes, convertendo-as em sistemas de VLT de alta capacidade e integração urbana. Berlim, por exemplo, possui uma das maiores redes do mundo, com cerca de 190 km de extensão, transportando mais de 450 mil passageiros diariamente.

A China, por sua vez, representa o caso mais notável de expansão ferroviária. O país já ultrapassou 162 mil quilômetros de linhas férreas em operação, incluindo mais de 48 mil quilômetros de trens de alta velocidade, além de extensas redes de metrô e VLT nas principais cidades. Em 2024, a rede ferroviária chinesa transportou mais de 4 bilhões de passageiros ao longo do ano, o que equivale a uma média superior a 11 milhões de viagens por dia em todos os modais sobre trilhos. Além da integração metropolitana, a China conectou praticamente todas as regiões do país por trens de alta velocidade, consolidando o transporte ferroviário como eixo central da mobilidade urbana e interurbana.

Assim, ao lado dos exemplos de cidades que preservaram e modernizaram suas redes históricas, a experiência chinesa mostra o potencial transformador dos investimentos em trilhos, tanto para a mobilidade cotidiana quanto para a integração nacional em larga escala.

Essa matéria faz parte de uma série de reportagens sobre o VLT de Salvador. Confira os links abaixo:
Bahia lidera revolução ferroviária no Brasil
Os trens do Mato Grosso e o TCU
O VLT de Salvador e o mundo dos trilhos
O retorno das grandes construtoras

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Last Update: 25/05/2025