Desde a sua criação, a indústria do tabaco usa a mesma estratégia. A imagem de charme, força física, beleza e moda é associada ao hábito de fumar. Atualmente, a propaganda de cigarros eletrônicos para o público jovem, vendido como dispositivo tecnológico, moderno e inofensivo, repete a mentira de outros tempos e uma geração inteira tem sido levada à perda de sua saúde, vítima dessa propaganda enganosa.

Os cigarros eletrônicos, também conhecidos como vapes, são dispositivos dotados de uma bateria que aquece um líquido e produz um aerossol inalado pelo usuário. O hábito de fumar por meio do dispositivo é chamado de vaping. Quando alguém usa um cigarro eletrônico, inala esse aerossol para os pulmões e o exala para o ar ambiente, causando também malefícios aos que o circundam. Os cigarros eletrônicos geralmente contêm nicotina, além de produtos químicos cancerígenos, metais pesados, como níquel, estanho e chumbo, aromatizantes e flavorizantes feitos para a indústria alimentícia e que não são seguros para ser inalados.

Os cigarros eletrônicos foram desenvolvidos para vaporizar a nicotina hidrossolúvel. Para tanto, a indústria dos vapes desenvolveu o sal de nicotina, que penetra no cérebro dez vezes mais rápido do que a nicotina comum e leva ao vício com maior rapidez e eficiência, além de alterar a plasticidade neural e levar a quadros de ansiedade e déficit de atenção que são mais graves quanto mais jovem se começa a inalar essa mistura.

A nicotina é a principal substância nos cigarros eletrônicos. O cérebro humano possui receptores para a substância e rapidamente se vicia e precisa de doses cada vez maiores da droga. Os sinais de dependência à nicotina incluem desejo crescente e urgente da droga, incapacidade de parar de usá-la e desenvolvimento de tolerância. O vício em nicotina também pode afetar o relacionamento com a família e amigos e o desempenho na escola, no trabalho ou em atividades esportivas, causando insônia, falta de ar e ansiedade.

O tabagismo vinha progressivamente sendo banido da maioria dos países por leis e por campanhas de orientação e esclarecimento da população sobre os riscos de fumar. Há bem pouco tempo, no Brasil, tínhamos banido quase que totalmente o hábito de fumar na população jovem. Na contramão dessa tendência, e por estratégia de marketing e para garantir consumidores no futuro, a Philip Morris e a British Tobacco, grandes empresas responsáveis pela fabricação no mundo e as principais responsáveis pela produção mundial de cigarros eletrônicos, travam uma grande campanha para impedir que os países proíbam a comercialização de vapes e seus similares.

Estudos recentes mostram que o número de crianças que fumam triplicou nos últimos três anos. O número crescente de jovens que usam cigarros eletrônicos mostra que os vapes são a porta de entrada para o vício em nicotina. Uma forma de gerar na criança do vape de hoje o tabagista do futuro. Isso é crime.

A Austrália proibiu todos os vapes sem receita médica, a Alemanha proibiu os cigarros eletrônicos com sabor e a Nova Zelândia proibiu a maioria dos vapes descartáveis e impôs restrições ao marketing para crianças. A França também anunciou que planeja proibir todos os cigarros eletrônicos descartáveis. É urgente o Brasil entrar nesse esforço conjunto para banir a comercialização desses dispositivos. Além disso, campanhas amplas de educação e esclarecimento da população jovem nas escolas e nas mídias sociais são de grande ajuda.

Uma vez iniciado o vício em vapes, é muito difícil parar e os danos à saúde pulmonar e cerebral podem ser permanentes. Diga não ao tabagismo e ao vape. Espalhe essa ideia.

Publicado na edição n° 1319 de CartaCapital, em 17 de julho de 2024.

Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título ‘O mal do vape’

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Última Atualização: 11/07/2024