Em 2023, o Theatro Municipal de São Paulo apresentou uma montagem da maior ópera brasileira, O Guarani, de Carlos Gomes. Segundo a informação oficial, a concepção da montagem ficou a cargo de Ailton Krenak.

Na época, este Diário publicou críticas à montagem. Produto da ideologia identitária, a montagem de Krenak alterava o texto da ópera, diminuía a grandiosidade dada por Carlos Gomes e por José de Alencar em seu romance ao personagem principal, o índio Peri; e muitos outros absurdos. A conclusão é simples: tratava-se de mais um caso de vandalismo cultural dos identitários, financiados pelos capitalistas, para destruir a cultura nacional.

Agora, o Municipal colocou novamente a ópera e a mesma montagem no circuito de óperas de 2025. Com isso, o debate se reacendeu.

Na Folha de S. Paulo, no dia 14 de fevereiro, duas colunas foram publicadas sobre o tema. A primeira, assinada pelo maestro Júlio Medaglia e José Roberto Walker, tece críticas corretíssimas à montagem de Krenak. A segunda, uma resposta assinada pelo próprio Krenak, defendendo sua concepção, intitulada Montagem indígena de ‘O Guarani’ revela Peri como narciso tropical.

Krenak começa afirmando que o “fundamento que norteou esta montagem foi a invocação do pensamento indígena, assim como a do corpo indígena. Esse corpo indígena deveria questionar Peri, aquele sujeito solitário, imerso numa realidade colonial. Assim, nós decidimos dar a ele uma família: o povo de Peri seria os Guarani do Jaraguá.”

A primeira coisa a ser dita é que a obra não está aí para ser alterada dessa maneira. Se Krenak quer fazer um Peri “não solitário”, ou seja lá o que for, ele tem toda a liberdade de escrever outro livro, outra ópera ou fazer uma crítica às obras de Alencar e de Gomes. Mas Krenak se vê na posição de alterar a obra que foi escrita no século XIX. Qual é a autoridade de Krenak para isso? Nenhuma.

Ele pode achar o que quiser da obra, mas não as pessoas a terem as mesmas concepções que ele. O Theatro Municipal não deveria ser propriedade de Krenak ou de ninguém, deveria fornecer ao povo a possibilidade de assistir às obras como elas deveriam ser. Como dissemo, Krenak poderia apresentar sua própria obra, já que considera a de Gomes ruim.

A verdade é que o Municipal contratou para realizar a montagem da ópera uma pessoa que não gosta da ópera.

Krenak doz que a montagem foi uma “invocação do pensamento indígena”. De qual pensamento ele está falando, de qual povo indígena exatamente? Dos Tamoios, dos Guarani, dos Tupi? Esse pensamento é de antes ou depois de chegarem os portugueses?

Estamos diante de uma trapaça intelectual. Não há “pensamento indígena” como Krenak diz, o que há ali é o pensamento de Ailton Krenak. E podemos dizer, esse pensamento não é nada mais do que a ideologia identitária que está bem longe de ser indígena.

As opiniões de Krenak sobre a obra são sempre depreciativas: “O ‘desbatisamento’ de Peri é acompanhado do resgate dos Aimoré, que no libreto são difamados enquanto vilões e, nesta montagem, assumem o lugar da própria floresta, embargando o avanço predatório movido pelos colonos.” Primeiro, Krenak não entendeu o papel dos Aimoré na obra; segundo, Krenak acha que uma obra de arte deve ser interpretada com a régua moral que está na sua cabeça, não de acordo com as regras da própria arte, então, ele acusa Alencar de “difamar os Aimoré”, o que é ridículo de se falar; terceiro, com base nessas duas demonstrações de ignorância – ou talvez má-fé já que estamos falando de uma montagem financiada por grande capitalistas – Krenak decidiu, porque sim, cortar e modificar uma parte essencial da obra de Carlos Gomes, o balé dos Aimoré.

Os próprios comentários de Krenak revelam que ele não gosta da obra. A pessoal ideal para vandalizar um dos maiores patrimônios culturais brasileiros.

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Last Update: 23/02/2025