O triunfo da coalizão progressista no Uruguai: como a esquerda conquistou o poder na vizinha República Oriental do Uruguai?

A vitória da Frente Ampla no Uruguai: como a esquerda conquistou o poder no país vizinho?

por Luís Carlos Silva

Após cinco anos longe do poder, a esquerda retorna ao governo no próximo ano. O ex-intendente do departamento de Canelones, Yamandú Orsi, venceu o candidato de centro-direita Álvaro Delgado, do Partido Nacional, que ocupava o cargo de secretário de governo do atual presidente uruguaio, Luis Alberto Lacalle Pou. Orsi traz novamente a Frente Ampla ao poder, uma coalizão de centro-esquerda que governou o Uruguai por 15 anos, durante os dois mandatos de Tabaré Vázquez (2005-2010 e 2015-2020) e o governo único de José “Pepe” Mujica (2010-2015).

À primeira vista, a vitória de Orsi sobre o candidato governista pode parecer previsível. Se observarmos os últimos resultados eleitorais na América do Sul, identificamos um padrão de derrotas dos governos que enfrentaram as crises sanitária e econômica geradas pela pandemia. No entanto, o caso do Uruguai apresenta peculiaridades que o diferenciam dos demais exemplos regionais.

Politicamente, Orsi e seu partido, o MPP (Movimento de Participação Popular), criado pelo ex-presidente Pepe Mujica e outros ex-guerrilheiros, representam uma ala mais centrista da Frente Ampla. Embora essa posição não seja necessariamente uma vantagem em todos os contextos, no Uruguai ela tem sido determinante.

Por outro lado, é importante apontar os erros do Partido Nacional e de seus aliados da coalizão republicana. Em primeiro lugar, Delgado, apesar de ser homem de confiança do presidente, não tinha o mesmo carisma de Lacalle Pou — que, impedido constitucionalmente de buscar a reeleição, foi eleito senador para a próxima legislatura.

Outro fator que contribuiu foi a falta de coordenação entre os aliados da coalizão republicana. Por exemplo, antes de declarar apoio a Delgado no segundo turno, o colorado Andrés Ojeda, terceiro mais votado, criticou a campanha do candidato oficialista.

No final, o retorno da esquerda ao poder no Uruguai foi resultado da convergência de dois fatores: a competência e os acertos da campanha da Frente Ampla e os equívocos acumulados pelo candidato oficialista.

Luís Carlos Silva — Graduado e licenciado em Ciências Sociais na Universidade de São Paulo (USP).

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