Por Elias Tavares

A comunicação política no Brasil passou por mudanças significativas desde os tempos em que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva desfrutava de ampla aprovação popular. Ao deixar o governo em 2010, com uma aprovação histórica de 83% segundo o Datafolha, a estratégia de comunicação era centralizada e eficaz. A Secretaria de Comunicação Social (SECOM) desempenhava um papel essencial ao investir substancialmente em propaganda institucional, direcionando recursos públicos para emissoras de televisão, jornais e revistas. Esse modelo garantiu que programas como o PAC, Minha Casa Minha Vida e o Bolsa Família tivessem grande visibilidade e conquistassem a população.

No entanto, o cenário em 2025, durante o terceiro mandato de Lula, é distinto. O cientista político Elias Tavares observa que a dinâmica da comunicação política foi completamente transformada pela ascensão das redes sociais e da internet. “Anteriormente, a população consumia principalmente televisão, uma mídia linear e controlada. O governo produzia a narrativa, a mídia transmitia e o público absorvia. Hoje, vivemos a era da comunicação descentralizada, onde a narrativa é fragmentada e interativa”, analisa Tavares.

Essa mudança no “tabuleiro” expõe a dificuldade do governo Lula 3 em se adaptar à nova realidade. Programas que tentam resgatar o impacto de iniciativas passadas, como o ‘Pé de Meia’, não conseguem ganhar adesão. Mesmo com tentativas de modernização, o modelo de comunicação permanece enraizado em uma estrutura que não dialoga com as dinâmicas das plataformas digitais.

A rejeição ao governo é crescente. Segundo pesquisa recente do instituto Gerp, 50% da população desaprova a gestão atual, enquanto apenas 38% a aprovam. Esses números refletem não apenas uma insatisfação com os resultados do governo, mas também uma desconexão significativa com o eleitorado.

Recentemente, um vídeo do deputado federal Nikolas Ferreira sobre o Pix viralizou nas redes sociais, alcançando mais de 300 milhões de visualizações. Esse episódio evidenciou a capacidade de atores políticos em utilizar as redes para moldar narrativas e impôs uma derrota simbólica ao governo, que não conseguiu responder com a mesma eficácia.

Em resposta às novas demandas comunicacionais, a SECOM anunciou, em abril de 2024, a contratação de quatro agências de publicidade para gerir as redes sociais do governo federal, com um investimento de R$ 197,7 milhões. Essa medida busca modernizar a comunicação governamental e melhorar a interação com a população nas plataformas digitais.

Uma das alternativas cogitadas pelo governo é a regulamentação das redes sociais, uma pauta que gera debates acalorados. Para Tavares, essa tentativa demonstra mais um esforço para recuperar o controle perdido do que um real entendimento das novas regras do jogo. “O governo não soube se adaptar à nova comunicação. Em vez de aprender a jogar nesse tabuleiro, tenta regular as redes, o que pode ser visto como uma postura defensiva e desatualizada”, pondera.

O cientista político também destaca que o problema é estrutural. “A comunicação política hoje exige agilidade, conexão direta e narrativas que ressoem nas redes. Sem isso, qualquer governo estará destinado a enfrentar crises de imagem e rejeição”, conclui Tavares.

Enquanto isso, o governo Lula enfrenta um dos maiores desafios de sua história: compreender que as estratégias que funcionaram no passado não são suficientes para garantir aprovação e apoio no cenário atual. As peças mudaram, e quem conseguia jogar dama hoje, no mesmo tabuleiro, não sabe jogar xadrez.

Elias Tavares é cientista político.

Este artigo não expressa necessariamente a opinião do Jornal GGN. Entre em contato com a redação através do endereço [email protected]

Leia também:

Categorized in:

Governo Lula,

Last Update: 22/01/2025