O SUS como caminho para superar a violência que atinge as mulheres, por Luciana Lindenmeyer

O SUS como caminho para superar a violência que atinge as mulheres

por Luciana Lindenmeyer

Neste ano em que celebramos a trajetória de 35 anos do nosso Sistema Único de Saúde, uma reflexão é inevitável: a conexão entre SUS, mulheridades – um termo que amplia a ideia de “ser mulher” – e igualdade racial.

O debate racial nos traz reflexões sobre as marcas ainda muito presentes do racismo estrutural em nosso país, mas também nos provoca a pensar em como superar essas desigualdades, e as mulheres têm total relação com tudo isso.

As mulheridades representam a maioria da população brasileira. Uma frase que frequentemente circula na Internet nos lembra disso: “mais da metade do país é composta por mulheres, e a outra metade são seus filhos”. Contudo, mesmo diante dessa realidade, enfrentamos alarmantes índices de feminicídio e violência contra as mulheres em nosso país.

É imperativo que políticas públicas, legislações e penas mais rigorosas sejam implementadas para combater as violências de gênero e raça, especialmente considerando que mulheres negras são as mais afetadas. Apesar tudo o que foi feito até hoje e de todos os esforços, os índices de violência continuam a crescer. O que mais podemos fazer? Como o SUS pode contribuir para a transformação dessa realidade?

A resposta é complexa e passa exatamente pelo SUS, pois este abriga a Estratégia de Saúde da Família, que desempenha um papel fundamental por meio da atuação de agentes comunitários de saúde. Esses profissionais são um elo vital na orientação e apoio às mulheres, promovendo não apenas cuidados de saúde, mas também conscientização e empoderamento.

Nesse sentido, outro aspecto crucial e que merece nossa atenção é o Programa Saúde na Escola. Incentivado pelo Governo Federal e implementado nos municípios, esse programa pode ser uma ferramenta poderosa para educar os jovens sobre a importância do respeito às mulheres e da cultura da não violência.

Ademais, é essencial investir em cursos voltados para profissionais da saúde, capacitando-os a lidar com as diversas situações de violência que as mulheres enfrentam. Iniciativas como as oferecidas pela Fundação Oswaldo Cruz e outras instituições de formação podem ser decisivas na identificação e no enfrentamento dos diferentes tipos de violência vivenciados por mulheres.

A transformação dessa triste realidade requer uma abordagem multifacetada, envolvendo a colaboração de diversos entes federativos. Por isso, é fundamental celebrar o SUS e destacar suas inúmeras possibilidades de promover um cuidado integral, que priorize a saúde e o bem-estar das mulheres.

Para isso, é importante pensar na implementação concreta das diversas políticas, como a da Saúde Integral da População Negra, da população LGBTQIAPN+ e um foco direcionado ao enfrentamento à violência obstétrica e ao racismo nos serviços de saúde.

Para um SUS verdadeiramente integral, com equidade e universal, é importante um esforço coletivo de todas as esferas que atuam nesse sistema e também no sistema de formação permanente para esses profissionais.

Viva ao nosso SUS, por uma Saúde sem Racismo e pelas mulheridades respeitadas e valorizadas!

Luciana Lindenmeyer é assistente social, doutoranda em sociologia, atua na área da Educação da Fiocruz Ceará e coordena um projeto sobre o protagonismo de mulheres negras no enfrentamento ao feminicídio e às violências e colaboradora da Rede BrCidades.

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