A história moderna da Síria está intrinsecamente ligada à luta pela libertação da Palestina e contra o sionismo. Da derrota na Guerra dos Seis Dias, em 1967, seguiu-se o colapso de antigas lideranças na região, o que abriu caminho ao surgimento do nacionalismo árabe, constituído sob a promessa de resistência à “Israel” e de reconstrução nacional.
Antes da Guerra dos Seis Dias, a Síria era governada por uma série de regimes instáveis que refletiam as tensões internas e externas do país. O período pós-independência (1946) foi marcado por sucessivos golpes militares, enquanto a influência do nacionalismo pan-arábico, liderado por Gamal Abdel Nasser no Egito, alimentava esperanças de unidade árabe contra o enclave imperialista e seus patrocinadores.
A Síria participou ativamente da guerra de 1948 contra os israelenses, mas foi derrotada. Durante as décadas de 1950 e 1960, o país experimentou um breve período de união com o Egito, formando a República Árabe Unida (1958-1961), que terminou em uma ruptura. Internamente, o Partido Baath se tornou expressão do novo nacionalismo, que ganhava força, tomando o poder em 1963.
O partido, porém, estava dividido entre facções rivais, o que enfraquecia o regime e o tornava vulnerável a crises internas e externas. Nesse momento, com a humilhante derrota árabe na Guerra dos Seis Dias, mudanças profundas se operaram no país.
Travada entre 5 e 10 de junho de 1967, a guerra foi um ponto de virada para o Oriente Médio. “Israel”, em um ataque preventivo, derrotou os exércitos do Egito, Jordânia e Síria, ocupando territórios estratégicos como a Cisjordânia, a Faixa de Gaza, o Sinai e as Colinas de Golã. Para a Síria, a perda das Colinas de Golã não foi apenas uma derrota militar, mas também um símbolo de sua vulnerabilidade.
A ocupação israelense das Colinas de Golã teve consequências profundas. A região, estrategicamente importante por sua altitude e recursos hídricos, tornou-se um ponto de disputa permanente. Internamente, a derrota provocou uma crise política que abalou a legitimidade do governo baathista. A população exigia uma liderança mais forte e eficaz para enfrentar a ameaça israelense e restaurar a dignidade nacional.
Em meio a essa crise, Hafez al-Assad, então ministro da Defesa, emergiu como uma figura central. Membro da minoria alauíta, Assad havia ascendido nas fileiras do Baath e das forças armadas. A derrota de 1967 foi utilizada por ele para criticar a liderança baathista e se posicionar como defensor da modernização militar e da resistência contra “Israel”.
Em 1970, Assad liderou o que ficou conhecido como “Movimento Retificativo”, uma quartelada que consolidou seu poder. Ele prometeu estabilidade interna, fortalecimento das forças armadas e uma posição firme contra o regime sionista. Sob seu comando, a Síria tornou-se uma das principais vozes da resistência à ocupação israelense e um aliado central da causa palestina, compondo o que viria a ser chamado de Eixo de Resistência.
O regime de Assad foi moldado pela necessidade de responder à derrota de 1967. Sob sua liderança, a Síria passou por uma ampla militarização e modernização de suas forças armadas. Seu governo implementou reformas para consolidar o poder do Estado e suprimir dissidências, justificando tais medidas como necessárias para enfrentar a ameaça israelense – o que, em parte, era verdade, mas refletia, de forma mais ampla, as contradições de um regime nacionalista burguês.
Orientado a apoiar a Resistência, al-Assad estreitou laços com grupos palestinos e alinhou-se à União Soviética. A posição oficial enfatizava que a Síria estava na linha de frente da luta contra “Israel”, o que angariou grande apoio popular, fundamental para que o Baath mantivesse o poder e resistisse às pressões do imperialismo.
No ano 2000, seu filho Bashar al-Assad manteve a política nacionalista como um pilar de seu governo, fazendo do apoio à Resistência Palestina uma política central, ao mesmo tempo em que as Colinas de Golã, ocupadas por “Israel” até hoje, continuaram norteando a política interna e externa do país árabe.