O episódio Janja-Xi Jinping expôs dois problemas sérios. O primeiro, a extrema mediocridade do jornalismo, de dar credibilidade à versão inverossímil veiculada pelo G1. Soma-se à total falta de coragem individual, de jornalistas defendendo o jornalismo contra a fake news criada.
O segundo, a única informação objetiva, a se tirar do episódio: no momento, Lula não consegue se impor nem perante o círculo íntimo do Palácio.
Poder-se-ia atribuir essa inação ao Ministro da Casa Civil, Ruy Costa. Mas a responsabilidade é mais em cima, é do próprio Lula, aparentemente sem energia para administrar o mundo pequeno das mesquinharias e o momento presente da política. Fosse Lula de outros tempos, dificilmente entregaria a porta de entrada do governo a um político como Costa.
Nem se ouse falar em perda da capacidade cognitiva. Na China, depois que deixou de lado o discurso escrito, Lula sintetizou de forma brilhante seu projeto de política e de país. Aliás, qualquer semelhança com a Economia de Francisco, do Papa Francisco, não é mera coincidência.
As viagens internacionais, o encontro com grandes mandatários, ainda são o que de melhor Lula fornece. Mas, internamente, o país padece de dois problemas.
O primeiro, é o boicote nítido da mídia. Ontem, conversei com dois conhecidos que foram à China, acompanhando empresas. O relato é idêntico. De um lado, Lula sendo recebido como líder popular, com o nome sendo comentado nas manchetes de jornais e entre populares. De outro, a extraordinária movimentação de empresários chineses correndo atrás de futuras parcerias com as empresas brasileiras da comitiva.
Nada disso chegou pela imprensa. Escondeu-se qualquer sinal de sucesso para se concentrar em uma intriga inverossímil.
Lula não tem controle sobre a mídia, como não tinha no primeiro e no segundo governo. Mas, antes, tinha vitalidade política, argúcia, planos com cara e assinatura. É só conferir o que foi o Bolsa Família. No início, alvo de uma campanha desonesta, muito similar a esse episódio com Janja.
Um colunista chegou a acusar famílias de – absurdo! – estarem usando os recursos para comprar geladeiras. Como se geladeira fosse entretenimento! Outra desonestidade era na divulgação das fraudes do programa apuradas internamente. Em vez de demonstrarem a eficiência dos controles internos, as descobertas eram apontadas como exemplo de corrupção disseminada.
Mesmo assim, gradativamente a própria imprensa se rendeu ao sucesso do programa, especialmente depois que o reconhecimento veio de fora.
Agora, caminha-se sem bandeiras – porque projetos em andamento existem, mas não são encampados por Lula – e cria-se essa sensação de vácuo, que alimenta o mal estar geral.
No alto, mal-estar entre os componentes do Ministério e partidos aliados. Na base, mal-estar que os idiotas da objetividade atribuem ao aumento de preços, mesmo com aumento de emprego, do salário médio. O problema é a falta de esperança.
No exterior, Lula protagoniza, de forma ampla, as possibilidades que se abrem para o país. Falta entender que essa percepção precisa ser introjetada no país. Precisa virar discurso de governo. E há pressa porque, com os escândalos do INSS, com o despudor com que autoridades de todos os poderes se rendem a regabofes internacionais, em breve haverá nova onda anticorrupção. Que poderá ser cavalgada por aventureiros da pior espécie.
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