A ideia de que o sucesso é alcançado apenas pelo esforço e talento individual é uma construção ideológica que mascara as desigualdades sociais e estruturais. Desde a Revolução Francesa, a burguesia utilizou conceitos como liberdade e igualdade para justificar a dominação sobre o proletariado. A meritocracia emerge como uma ferramenta ideológica central, reproduzida através de políticas públicas e aparelhos ideológicos como a imprensa, a escola e a religião.

O conceito de meritocracia ganhou força com o pensamento liberal que emergiu durante a Revolução Francesa. No entanto, essa narrativa ocultava as profundas desigualdades estruturais. A transição do feudalismo para o capitalismo não apenas consolidou a dominação da burguesia, mas também criou um sistema que alienava o trabalhador, transformando-o em um mero instrumento de produção.

A escola e a imprensa são aparelhos ideológicos que reproduzem a dominação de classe. A escola naturaliza as desigualdades sociais, enquanto a imprensa reforça a ideia de que o sucesso é alcançado apenas pelo esforço individual. Programas televisivos e noticiários frequentemente apresentam o “self-made man” como modelo ideal, exaltando indivíduos que supostamente ascenderam socialmente apenas por seu esforço.

Exemplos recentes dessa narrativa podem ser observados no Brasil, especialmente quando contextualizamos a influência da Doutrina Truman, que consolidou a hegemonia capitalista no pós-Segunda Guerra Mundial. A imprensa frequentemente apresenta influenciadores digitais que propagam o chamado “mindset de sucesso”, vendendo cursos e palestras prometendo “fórmulas” para o sucesso financeiro. Essa narrativa não apenas ignora as desigualdades, mas também transfere para o indivíduo a responsabilidade por sua situação socioeconômica.

A meritocracia também atua como um mecanismo de exclusão ao naturalizar o fracasso das classes trabalhadoras. A escritora e psicóloga Maria Helena Souza Patto aponta que a escola é estruturada para reforçar a ideia de incapacidade dos alunos das classes populares, atribuindo o baixo desempenho a fatores individuais, como falta de esforço ou habilidade.

Para desafiar a ideologia da meritocracia, é essencial promover uma educação crítica e emancipadora que revele as estruturas de dominação subjacentes. Isso inclui repensar o currículo escolar para incluir análises históricas e sociológicas que evidenciem as desigualdades estruturais e compensem as desvantagens acumuladas pelas classes populares.

A imprensa também desempenha um papel crucial na desconstrução dessa narrativa. Contudo, é necessário reconhecer como a influência da Doutrina Truman moldou a produção cultural e midiática em nosso país. É fundamental questionar esses interesses econômicos e culturais que orientam a produção de conteúdos midiáticos, frequentemente alinhados às elites dominantes.

A meritocracia, longe de ser um sistema justo, é uma construção ideológica que perpetua as desigualdades sociais enquanto transfere para os indivíduos a responsabilidade pelo fracasso. Reproduzida por aparelhos ideológicos como a escola e a imprensa, e reforçada por políticas públicas alinhadas aos interesses da burguesia, essa narrativa mascara as estruturas que sustentam o capitalismo. Desconstruir esse mito exige ações concretas no campo da educação, da comunicação e das políticas públicas, além de uma mobilização coletiva para questionar e transformar as bases do sistema vigente.

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Last Update: 15/12/2024