O sistema é cruel

por Francisco Celso Calmon

Um mercado rentista e especulativo, um Banco Central retracionista da economia e as hienas do jornalismo golpista rindo.

O sistema econômico se desenvolve pelo consumo e investimento, ambos necessitam de crédito. E o crédito depende dos juros. Com os juros nas alturas, quem tem direito a tê-los, senão os donos da banca?

Juros altos diminuem o consumo e o investimento, reduzem a saúde financeira das pequenas e médias empresas, que não têm capital de giro suficiente e necessitam de tomar empréstimos, e outras adiam investimento à espera de quando os juros forem reduzidos. Esses efeitos geram retração econômica e inflação.

O que se apresenta no nosso cotidiano como uma crise é, na verdade, um sintoma visível de uma estrutura que concentra renda, destrói o meio ambiente e estrangula o desenvolvimento social.

No centro desse modelo está o sistema da dívida pública, que não serve para financiar investimentos sociais ou infraestrutura, mas para sustentar os mecanismos de transferência de renda para a burguesia financeira e os grupos do mercado controladores da economia.

Entre 2000 e 2017, nenhuma despesa classificada como investimento foi custeada com recursos de emissão de títulos da dívida. Trata-se, portanto, de uma dívida sem contrapartida, um esquema de financeirização do Estado.

Com a exorbitante taxa Selic, do jeito que o setor rentista gosta, é ceifada a nossa possibilidade de aumento da produção interna. O desemprego continua sendo um risco iminente.

As pequenas e médias empresas não conseguem arcar com os empréstimos, e, quando se arriscam, é quase certo o fechamento mais adiante.

As classes médias reduzem o consumo e as compras a prazo, e, quando não o fazem, acabam se endividando além de suas possibilidades e ficam inadimplentes. Vão para a negociação de suas dívidas e lá novamente encontram os juros elevadíssimos.

O método de combate à inflação do BC é gerador de inflação, pois, ao tomar empréstimo com esses juros, as empresas vão repassar o custo para o produto e seu preço final. Qual a lógica do método do BC? Nenhuma!

A economia brasileira cresceu 1,6% no primeiro trimestre do ano de 2025. Já imaginaram o crescimento do país com juros civilizados?

O crescimento da economia nacional é tratado como risco, e a contenção é celebrada como virtude.

A suposta independência do BC (sancionada em 24 de fevereiro de 2021), apresentada como solução para garantir estabilidade econômica, na prática, é a submissão explícita aos interesses dos capitalistas financeiros.

A estrutura do Banco Central, moldada para proteger esses interesses, age como cão de guarda do mercado — feroz com o povo, obediente aos grandes. Sua autonomia é um adestramento ideológico.

O mercado proibiu o Brasil de crescer; é isso que o BC expressa quando afirma, como se fosse um mal, que a economia está muito aquecida.

“(…) o que a gente passa a assistir é que a economia brasileira mostra um dinamismo excepcional e que ela está bastante aquecida” – Gabriel Galípolo, 22/05/2025.

“Tem sido desafiador ter um processo de desinflação com o mercado de trabalho aquecido, especialmente em mercados emergentes como o Brasil” – Roberto Campos Neto, 24/08/2024.

“O BC adora quando temos um regime de emprego pleno, quando todo mundo que está procurando trabalho encontra, que é nossa situação atual, que melhorou muito e foi uma grande surpresa (…). A preocupação vem quando as empresas não conseguem contratar, e você tem que começar a subir o salário. Se você sobe o salário para o mesmo nível de produção, isso significa que você está iniciando um processo inflacionário” – Roberto Campos Neto, 30/04/2024.

“Cabe a todos nós reconhecer a tempestividade e a agilidade com que o Ministério da Fazenda atuou”, disse Galípolo em seminário promovido pela Fundação Getúlio Vargas, destacando que as alterações não causaram danos porque ocorreram com o mercado fechado. (https://www.terra.com.br/economia/galipolo-se-posiciona-contra-alta-em-iof…)

Com todas as palavras, Galípolo, com esse pronunciamento, se pôs na posição de representante do mercado. E o mais perigoso: está sendo o alterego do ministro da Fazenda, Fernando Haddad.

O BC é do mercado; seu presidente atual faz parte dele. Será que Lula terá coragem, findo o mandato de Galípolo, de substituí-lo por alguém comprometido com o desenvolvimento?

Os diretores do Banco Central são robotizados: se tiver que quebrar o país, quebram. Seu papel autônomo é a busca em cumprir a meta da inflação, sem qualquer raciocínio dialético, flexível e inteligente.

O órgão que estabelece a meta da inflação é o CMN (Conselho Monetário Nacional), composto por: o ministro da Fazenda, Haddad; a ministra do Planejamento, Tebet; e o presidente do BC, Galípolo.

Não creio que seja ignorância; então, interrogo o porquê de Gleisi e Lindberg criticarem o BC e não o fazerem também em relação ao Conselho Monetário Nacional?

A mídia independente, como este site, deveria focar no CMN e na sua meta irrealista. São dois representantes do governo trabalhando contra o desenvolvimento ou não sabem o que estão fazendo lá e seguem tudo o que Galípolo determina, isto é: o mercado.

No entanto, os critérios utilizados para definir essa meta seguem sendo tautológicos e escondidos do público. A transparência é regra constitucional, e o bem comum também.

Assim como o Banco Central é guardião dos interesses do capital financeiro, a mídia corporativa age como escudo da burguesia, atacando figuras que representam o avanço popular.

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Janja, ao lado de Lula, simboliza a esperança de ruptura com esse status quo; daí a razão deletéria para as atitudes deploráveis da mídia.

Um elefante incomoda muita gente; dois elefantes incomodam muito mais… Lula incomoda o PIG; Janja e Lula incomodam sobremaneira à Golpenews.

Quanto mais batem na Janja, mais ela se fortalece, e o debate sobre o papel da primeira-dama, que deveria ser sério, fica nos canteiros da superficialidade da mídia canhestra.

Mas, nem por isso, ela deve ser agraciada sem o rigor do merecimento, porque, que se saiba, ela não fez nenhuma contribuição focal à cultura nacional para receber um congraçamentopelo presidente, como foram Alcione, Arlindo Cruz, Marília Mendonça, Fernanda Torres, Ney Matogrosso…

Em meio a essas tensões, a figura de Janja emerge como um símbolo multifacetado, gerando debate sobre expectativas, protagonismo e representatividade no cenário político e cultural brasileiro.

Da mesma forma que fizemos um abaixo-assinado (Manifesto pela decência das honrarias: https://chng.it/TpgmRWc7vj) denunciando as homenagens, via medalha do pacificador, àqueles militares que cometeram crimes hediondos de assassinato, sequestro, tortura e afins, na ditadura, também comentamos desvio de finalidade nesse caso.

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Este site poderia promover um seminário para ser discutido a verdadeira independência do Banco Central e seus reflexos sobre o controle da inflação e o desenvolvimento econômico do país.

Não é segredo que a autonomia do BC, exaltada como uma conquista institucional, na prática, reflete interesses alinhados ao mercado financeiro.

Essa configuração impõe barreiras à implementação de políticas mais direcionadas ao crescimento inclusivo, perpetuando uma lógica em que estabilidade econômica parece justificar desumanizações e sacrifícios sociais.

O papel das lideranças políticas, como Lula, Haddad e Gleisi, ganha centralidade nesse contexto. O desafio é romper com estruturas enraizadas e propor um modelo que reequilibre as prioridades entre o capital e o bem-estar coletivo.

O debate do PED do PT deveria abordar essa questão.

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O jornalista Merval Pereira, já conhecido como a voz golpista do impeachment da presidenta Dilma Rousseff, agora utilizou da mesma arrogância e preconceito para redirecionar palavras machistas à ex-presidenta.

“Dilma só se elegeu porque era ‘mulher do Lula’; depois, fazia o que ele queria”

O intrigante e despudorado foram suas colegas de bancada, que gostam de mostrar uma imagem contra a misoginia, sorrirem da fala do mau-caráter Merval.

Ri de quê, hienas do jornalismo?

Penso que Merval deva ser processado judicialmente e repudiado pelos seus colegas da Academia Brasileira de Letras e pelos movimentos de mulheres de todos os quadrantes.

Ele se julga protegido pelas asas da Rede Globo.

Por falar em hienas, Bolsonaro vai voltar de onde foi expulso: o Exército, cuja cadeia lhe é conhecida.

Depois do genocídio e da intentona golpista, vai ficar entre os seus amados fardados. O que está cansando é a letargia do STF em decretar a sua prisão.

Outra demora é o silêncio cúmplice das potências diante das atrocidades de Israel; ecoa a lógica do rentismo internacional: vidas humanas são descartáveis, desde que haja o lucro do capitalismo de desastre. Essa mesma lógica rege o BC, que desumaniza para garantir estabilidade pró-capital financeiro.

Em nome da Declaração Universal dos Direitos Humanos e de todos os pactos conexos, em nome da dignidade humana, Israel tem que ser vencido já, antes que passe a ser modelo internacional de impunidade, com a leniência de todas as potências.

Todas as questões abordadas evidenciam a crueldade do sistema vigente no mundo.

Francisco Celso Calmon, Analista de TI, administrador, advogado, autor dos livros Sequestro Moral – E o PT com isso?, Combates Pela Democracia, 60 anos do golpe: gerações em luta, Memórias e fantasias de um combatente; coautor em Resistência ao Golpe de 2016 e em Uma Sentença Anunciada – o Processo Lula. Coordenador do canal Pororoca e um dos organizadores da RBMVJ.

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Last Update: 26/05/2025