O sionismo odeia a liberdade de expressão, por Luís Felipe Miguelete

O governo Netanyahu decidiu fechar o cerco sobre o Haaretz. Publicado desde 1918, é o jornal mais antigo de Israel – o terceiro em termos de circulação e, segundo todos os observadores, o de maior prestígio.

Foi determinado que o Haaretz deve ser boicotado por funcionários públicos e de qualquer órgão que receba financiamento do governo. Estão proibidas de entrevistas à veiculação de anúncios.

O crime do Haaretz? Fazer uma cobertura corajosa e crítica do genocídio dos palestinos, revelando as mentiras das forças armadas israelenses e retratando as atrocidades cometidas em Gaza, na Cisjordânia e no Líbano.

Tentar fechar o Haaretz segue a mesma lógica do banimento da Al Jazeera, a emissora catari, fechada no território sob controle israelense meses atrás.

Ou de fazer de repórteres alvos preferenciais das forças militares – pelo menos 130 jornalistas já foram mortos desde o início da fase atual da guerra de extermínio contra o povo palestino.

Nos Estados Unidos, no Brasil, na Europa, em suma, em todo o resto do mundo, os sionistas se esforçam para silenciar críticos de Israel com gritos de “antissemitismo”.

O jornalista Breno Altman recorre de condenação por publicações de denúncia do governo israelense, em ação movida pela Confederação Israelita do Brasil, conhecida instituição bolso-sionista. Altman, um severo crítico do projeto colonial sionista, tem origem judaica, o que torna a acusação de antissemitismo ainda mais bizarra.

Antissemitismo também é a acusação contra cinco estudantes da USP que se opuseram a uma campanha de doações para o exército de Israel. Eles estão ameaçados de expulsão com base em um regimento da época da ditadura.

Disse Paulo Sérgio Pinheiro, uma das maiores referências em direitos humanos do Brasil, em entrevista recente: “Não dá para acreditar que uma universidade com essa reputação ainda se submeta a esse tipo de normativa autoritária”.

O processo contra os estudantes corre em sigilo, o que dificulta a mobilização sobre o caso.

Na PUC-SP, dois professores do curso de Relações Internacionais, Reginaldo Nasser e Bruno Huberman, sofrem processo administrativo por acusações genéricas de antissemitismo.

Eles são finos analistas da situação do Oriente Médio, críticos do genocídio.

Acusar os críticos de antissemitismo é uma maneira de calá-los e de confundir a opinião pública.

Antissemitismo é o ódio dirigido aos judeus por serem judeus. É uma forma de racismo.

Antissionismo é a oposição ao empreendimento colonial de Israel na Palestina, que causou e continua causando sofrimento, privação de direitos, miséria e morte a todo um povo. É uma forma de humanismo.

Israel e os sionistas que fazem sua defesa pelo mundo afora odeiam a liberdade de expressão porque querem impor o discurso único – e falso – que faz dos colonizadores da Palestina vítimas eternas, escondendo os crimes que cometem contra o povo que espoliaram.

Informação jornalística confiável, análises bem embasadas e contextualização histórica são inimigas do sionismo.

Luís Felipe Miguelete é professor do Instituto de Ciência Política da UnB. Autor, entre outros livros, de O colapso da democracia no Brasil (Expressão Popular).

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Last Update: 27/11/2024